Testamos o novo iPad com Retina Display

Testamos o tablet da Apple com processador A5X e câmera de 5 megapixels.

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 10 meses
Novo iPad tem Retina Display, câmera de 5 megapixels e processador gráfico mais potente | Clique para ampliar em qualquer imagem

O iPad de terceira geração chegou ao Brasil há pouco mais de um mês, curiosamente com preço menor do que o valor cobrado no iPad 2. O design é praticamente o mesmo das gerações anteriores, a tela permanece com a proporção 4:3, o botão Home ainda está presente e a traseira continua sendo de alumínio. Mas por dentro temos uma tela de altíssima definição, uma GPU bem mais potente, uma câmera capaz de filmar em full HD e várias outras mudanças.

Será que a Retina Display faz alguma diferença? A alta definição de imagem pode gerar problemas? O novo processador gráfico realmente faz o iPad esquentar demais? A compra vale a pena mesmo para quem já possui um iPad? Para responder a essas e outras perguntas, fiquei durante algumas semanas brincando com o novo iPad e nos próximos parágrafos você confere as minhas impressões sobre o tablet da Apple.

Design

Mesmo design, mesmo botão Home, mesmo conector.

O novo iPad continua com o mesmo design de seus antecessores. É um desenho cansado, mas até certo ponto eficiente. As bordas gigantes não são a coisa mais agradável de se ver, mas possuem o tamanho certo para evitar toques acidentais na tela ao segurar o dispositivo. O botão Home, muito criticado pela sua durabilidade, é praticamente inútil quando aprendemos os gestos com os quatro dedos para fechar e alternar entre aplicativos, mas facilita o uso por quem nunca teve contato com um iPad.

Na parte inferior do dispositivo, temos uma porta universal onde é possível conectar uma dock, um teclado físico, um outro acessório ou simplesmente um cabo. É nesse último item que surge um incômodo — é muito difícil encaixar o cabo na primeira tentativa. No escuro, a Lei de Murphy sempre fará com que você tente conectá-lo do lado errado. Além disso, a curva acentuada nessa parte do iPad contribui para que o conector escorregue e com o tempo acumule alguns riscos na carcaça do aparelho.

Retina Display

A maior novidade do novo iPad, pelo menos no Brasil, onde não ainda temos conectividade 4G LTE, é a tela de altíssima definição. É muito provável que esse visor de 9,7 polegadas com resolução de 2048×1536 tenha mais pixels do que o monitor do seu computador ou a TV gigante da sua sala de estar.

Texto bem definido na Retina Display.

A experiência de leitura, com textos tão definidos que parecem estar impressos num papel, é ótima — isso se você não se importar com a luz de fundo, que cansa a vista após alguns minutos. A qualidade gráfica dos novos jogos é surpreendente. As fotos são exibidas com toda a riqueza de detalhes e cores. Mesmo estando com o rosto colado no tablet, é impossível enxergar pixels individuais sem um microscópio.

Curiosamente, o maior ponto forte da tela do novo iPad é também seu maior ponto fraco: ainda não há muito conteúdo adaptado para tantos pixels. As páginas da web continuam com logotipos e ícones pequenos demais. Inúmeros jogos permanecem rodando com a resolução do iPad antigo e parecem extremamente pixelados. Os filmes, mesmo em HD, não possuem resolução suficiente e são esticados para ocupar toda a tela. Como os gráficos precisam ser interpolados, eles perdem qualidade e acabam ficando piores do que numa tela de menor resolução.

Nas fotos abaixo, é notável a diferença entre Cut The Rope Experiments, Infinity Blade II e Real Racing 2 (com suporte a Retina Display) e FIFA 12 (sem suporte a Retina Display). No FIFA 12, a imagem fica embaçada e os elementos gráficos são bem ruins.

Não há como fazer mágica: você terá que se contentar com gráficos pixelados até que o mundo se acostume a produzir conteúdo de alta definição. Com a popularização de telas Retina nos monitores, notebooks e TVs, essa hora não deve demorar muito para chegar. Mas até lá, é bem provável que você já tenha trocado de tablet.

Imagens de sites ficam com qualidade aquém do esperado.

A Apple jura que a tela vem com “revestimento resistente a impressões digitais e oleosidade”, mas você não deve levar isso em consideração ao comprar um iPad. Após alguns minutos de uso, marcas de dedo desagradáveis começam a aparecer e, ao desligar a tela, as manchas são ainda mais visíveis. Definitivamente não dá para abandonar o paninho de microfibra.

Dois dias sem limpar.

Hardware

O processador dual-core A5X de 1 GHz é fabricado pela Samsung e possui a mesma capacidade de processamento bruto do chip utilizado no iPad 2. Em conjunto com a memória RAM de 1 GB, o hardware é mais do que suficiente para rodar e alternar entre vários aplicativos sem sofrer com lentidões. Como a Apple controla tanto o hardware quanto o software de seus dispositivos, o iOS roda de maneira bastante fluida, sem nenhum engasgo nas animações mesmo após várias horas de uso contínuo.

Para dar conta da alta resolução da tela do iPad de terceira geração, foi necessário incluir uma GPU quad-core. O chip gráfico é muito bem aproveitado por jogos como Real Racing 2 HD e Infinity Blade II, que usam todo o potencial da Retina Display para exibir imagens de alta resolução, com anti-aliasing e sombras bem definidas.

Esses jogos consomem bastante espaço também.

Uma das polêmicas levantadas sobre o novo iPad foi a temperatura, bastante alta em comparação com o iPad 2. Sim, a história é verdadeira — o iPad de terceira geração esquenta bastante após alguns minutos rodando jogos muito pesados como Infinity Blade II. Não é o suficiente para queimar as mãos, mas o calor é bastante desagradável ao ponto de termos que parar de jogar para deixar o tablet esfriando. Além de esquentar na parte traseira, onde fica o chip A5X, o calor também afeta parte da tela, o que causa o incômodo.

Felizmente, em condições de uso mais rotineiras, ou seja, navegando na internet e rodando jogos menos pesados, como FIFA 12 HD, Cut The Rope Experiments HD ou Fruit Ninja HD, o novo iPad não esquenta significativamente.

Câmeras

A cena de uma pessoa fotografando com um tablet é um pouco ridícula, mas a câmera iSight do novo iPad serve como um bom quebra-galho e pode ser utilizada naqueles momentos em que você não tiver nada mais compacto para tirar fotos. As imagens são tiradas com resolução de 5 megapixels e, em ambientes claros, as relações de brilho, contraste e balanço de branco são suficientemente boas para um sensor tão pequeno. Em locais mais escuros, no entanto, a presença de ruídos na imagem é bastante notável.

Além de tirar fotos, a câmera do aparelho também pode filmar em 1080p. Os vídeos são capturados com estabilização de imagem, um recurso muito útil num dispositivo tão grande como um iPad. O resultado final é bom, mas não espere cenas livres de granulações, especialmente em ambientes com menos luz.

https://www.youtube.com/watch?v=L8NJz6AJs8Y


(Vídeo no YouTube)

Se a câmera traseira evoluiu muito, não podemos dizer o mesmo da câmera FaceTime, que continua com a mesma resolução VGA e mostra imagens cheias de ruídos, que são ainda mais visíveis com a Retina Display. Apesar disso, o novo iPad ainda possui uma câmera frontal melhor do que muitas webcams dedicadas ou câmeras de notebooks e será mais do que suficiente para fazer chamadas em vídeo, seja pelo FaceTime, pelo Skype ou apenas para brincar com os efeitos do Photo Booth.

Bateria

Ok, temos uma tela de alta resolução, conectividade 4G LTE em alguns países, processador gráfico mais potente e jogos com gráficos muito bem detalhados. Qual o impacto disso na duração da bateria em relação ao iPad 2? Nenhum. A Apple colocou uma bateria com maior capacidade, prometeu que o novo iPad continuaria com as mesmas 10 horas de navegação por Wi-Fi e cumpriu.

A bateria do novo iPad aguenta um dia inteiro de uso, com navegação na web, alguns minutos rodando jogos de alta definição, meia hora assistindo vídeos do YouTube, push notifications ativados o tempo todo e várias horas ouvindo músicas. O gerenciamento de bateria do iOS também colabora muito: deixando o tablet ocioso, mas conectado a rede Wi-Fi com notificações instantâneas de replies no Twitter e novos emails, a carga de bateria caiu de 100% para 98% após oito horas.

Antes de dormir, veja se o iPad realmente está carregando.

A crítica fica por conta da recarga. Assim como vários outros tablets, o iPad consome tanta bateria que não é possível carregá-lo na porta USB de um PC comum sem a utilização de softwares como o ASUS Ai Charger, que forçam o envio de mais corrente. Sem isso, a mensagem “Não está carregando” aparecerá no canto da tela e você se decepcionará quando o tablet desligar repentinamente durante uma sincronização com o iTunes por falta de carga. Isso porque uma porta USB comum de 5 volts é capaz de fornecer corrente de apenas 0,5 A — o carregador do iPad fornece 2,1 A.

O tempo de recarga, mesmo com o carregador fornecido pela Apple, é demorado. São necessárias de seis a sete horas para elevar a carga da bateria de 0% para 100%. Eu não tentei carregar totalmente o novo iPad numa porta USB, mas estimo que esse tempo suba para três ou quatro meses.

As seis ou sete horas, claro, valem para quando o iPad estiver em modo de espera e preferencialmente sem nenhum download em andamento. Se você estiver jogando Real Racing 2 HD enquanto carrega o iPad na tomada, poderá se surpreender com o fato da carga ter diminuído ao invés de ter aumentado.

Resumindo: não se esqueça de conectar o iPad ao carregador de tomada antes de dormir.

Ecossistema

A Apple fez um excelente trabalho no iOS para iPad. A necessidade de conectar o iPad ao iTunes antes de utilizá-lo pela primeira vez finalmente acabou. O sistema é estável, fluido, ágil, responsivo, tudo funciona como deveria e os aplicativos nativos são ótimos, mas alguns parecem estar apenas ocupando espaço. Eu nunca utilizei os aplicativos de Lembretes, Banca ou Notas e não é possível desinstalá-los ou removê-los da tela inicial de forma alguma.

Tela Inicial do Novo iPad

A sincronização de dados com o iCloud é uma preocupação a menos para o usuário. Backups de fotos, calendários, lembretes e favoritos são realizados automaticamente pelo sistema. Nada tão surpreendente até aí, mas a grande sacada é estender esse privilégio a aplicativos de terceiros também. Isso significa que aqueles níveis desbloqueados do Angry Birds ou as configurações realizadas no aplicativo do Twitter ficarão salvos na nuvem e poderão ser restaurados se você resetar o sistema ou comprar outro iPad.

Backup automático com o iCloud

Devo destacar a variedade de aplicativos para iPad. A App Store não é boa somente na quantidade, é boa na qualidade também. Enquanto no principal concorrente temos aplicativos esticados, engasgados e com falhas, no iPad os aplicativos aproveitam a tela grande com painéis laterais e layouts diferenciados, com fontes no tamanho certo e que não desperdiçam espaço. Além disso, a maioria dos aplicativos e jogos chega primeiro para iOS e muitos deles nunca serão compatíveis com outras plataformas.

Mas o iOS também tem vários pontos negativos: o auto-corretor é bem burro e corrige palavras que estão certas, fazendo você demorar o dobro do tempo para digitar uma frase simples. O player de vídeo nativo não serve para muita coisa e obriga o usuário a adquirir um aplicativo melhor na App Store para ver filmes em outros formatos e com legendas. Também não é possível assinar podcasts e baixar novos episódios direto do dispositivo sem instalar aplicativos de terceiros.

Dá para baixar novos episódios, mas só manualmente.

Especificações técnicas

  • Processador: dual-core Apple A5X de 1 GHz;
  • Memória RAM: 1 GB;
  • Armazenamento interno: 16 GB, 32 GB e 64 GB;
  • Tela: 9,7 polegadas, 2048×1536 pixels, 264 pixels por polegada;
  • Conectividade: Wi-Fi 802.11 a/b/g/n, Bluetooth 4.0;
  • Câmera traseira iSight: 5 megapixels, foco automático, detecção de rostos, gravação de vídeo em 1080p com estabilização de imagem;
  • Câmera frontal FaceTime: VGA, gravação de vídeo;
  • Bateria: 11.666 mAh, até 10 horas de navegação na web pelo Wi-Fi e 9 horas pela rede de dados;
  • Peso: 652 gramas (Wi-Fi) e 662 gramas (Wi-Fi + Cellular).

Pontos positivos

  • Tela Retina de alta definição;
  • Loja com aplicativos adaptados para a tela grande do iPad;
  • Sistema operacional estável, rápido e fluido.

Pontos negativos

  • Bateria que demora várias horas para carregar;
  • Auto-corretor irritante, que substitui palavras certas;
  • Esquenta demais ao rodar aplicativos e jogos pesados.

Conclusão

Com preços a partir de R$ 1.549 no Brasil e desconto de 10% da própria Apple para pagamento à vista, o iPad é um dos tablets com melhor custo-benefício do mercado. O iPad de terceira geração possui a melhor tela entre todos os tablets disponíveis nas lojas brasileiras no momento da publicação desta análise e a rica loja de aplicativos faz o iPad ter mil e uma utilidades.

Para quem ainda não possui nenhum tablet, a recomendação é adquirir um modelo com capacidade de 32 GB ou 64 GB. Muitos aplicativos do iOS foram e estão sendo adaptados para a Retina Display, ganharam gráficos mais pesados e ocuparão rapidamente os 13 GB disponíveis na versão mais básica. Como não é possível expandir a memória com um cartão microSD, a economia de R$ 200 em relação a versão de 32 GB acaba não compensando — exceto se você não se importar em ter que desinstalar aplicativos ou deixar músicas e vídeos somente na nuvem.

O upgrade é válido para quem possui o iPad original, lançado em 2010. Você ganhará um tablet mais leve, atualizável para o iOS 6 (inclusive com Siri, mas só em inglês), com câmeras para chamadas em vídeo e fotografias emergenciais, além de um hardware mais poderoso — são quatro vezes mais memória RAM. Se você é usuário do iPad 2, no entanto, pode deixar o dinheiro investido enquanto a Apple não lança o iPad de quarta geração. A Retina Display é boa, mas não vale as centenas de reais cobradas por um iPad novo.

Para a maioria das pessoas, um iPad é apenas um dispositivo supérfluo de consumo de conteúdo, não de produção. Por isso, ele não pode ser considerado um investimento. Mesmo assim, um tablet é uma alternativa mais confortável e portátil para ler livros e revistas, assistir vídeos, navegar em redes sociais e, claro, jogar. Essas funções, o iPad faz muito bem.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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