O WhatsApp compartilha dados com o Facebook?

Entenda quais são os dados dos usuários que o WhatsApp compartilha com o Facebook e quais os efeitos disso no uso

Melissa Cruz Cossetti
Por
• Atualizado há 1 ano
WhatsApp (imagem: Anton/Pexels)
WhatsApp (Imagem: Anton/Pexels)

A celeuma envolvendo o WhatsApp e suas políticas de privacidade é antiga. Desde setembro de 2016, o mensageiro compartilha dados dos seus usuários com o Facebook — que também é dono do Instagram. Na ocasião, o WhatsApp pôs abaixo a opção de não compartilhar dados do WhatsApp com o Facebook, com o objetivo de melhorar suas experiências com anúncios e produtos do grupo. Ou seja, não tem mais opt-out.

Desde então, tanto a plataforma do Facebook, como a de outras empresas do mesmo grupo, podem usar dados dos usuários do WhatsApp para fazer sugestões de novos amigos, grupos ou de conteúdo interessante e mostrar ofertas e anúncios relevantes.

Em 2021, outra mudança no texto o deixou mais abrangente e trouxe à tona insatisfações com a prática do compartilhamento de dados do WhatsApp com o grupo. 

Agora, esses dados podem ser usados para ajudar a “operar, executar, aprimorar, entender, personalizar, dar suporte e anunciar serviços e ofertas de empresas do Facebook”. As informações também podem ser compartilhadas para conectar contas do Facebook Pay e fazer pagamentos no WhatsApp ou para exibir conversas no Portal.

Se em 2016 a mudança não fez tanto barulho, em 2021 a gritaria foi generalizada.

Signal e Telegram passaram a ser considerados opção e o WhatsApp caiu na boca do povo como o aplicativo que não respeita a privacidade dos usuários. Contudo, o uso de dados do WhatsApp no Facebook já era esperado desde a aquisição do app em 2014

Calma, gente!

Para apaziguar o coro dos descontentes, o WhatsApp ativou a operação “Panos Quentes”. Uma thread no Twitter feita pelo próprio CEO do WhatsApp, Will Cathcart, tentou esclarecer alguns pontos. De acordo com Cathcart, a criptografia ponta a ponta segue sendo aplicada. Os recursos oferecidos pelo WhatsApp, neste ponto, não mudam.

Isso quer dizer, na prática, que nem o Facebook, nem o WhatsApp, pode ler os seus chats ou ter acesso às suas chamadas. Você pode compreender isso melhor aqui.

“Atualizamos nossa política para sermos mais transparentes e para descrever melhor os recursos”, explica o líder do WhatsApp. Em outro trecho, Cathcart pontua que a atualização das políticas de privacidade descreve o business e não altera as práticas de compartilhamento de dados do WhatsApp com o Facebook, nem a maneira de usá-los.

O executivo finaliza dizendo que as mudanças envolvendo os serviços de pagamentos são importantes e benéficas para todos e reforça que o aplicativo oferece uma criptografia confiável para que os seus usuários conversem sem que ninguém mais possa ver. “Há pessoas que discordam disso, inclusive alguns governos”, provocou.

O que diabos mudou, então?

Para tirar dúvidas sobre a política de privacidade, o WhatsApp publicou um  infográfico ilustrando — sim, literalmente desenhou — como o WhatsApp mantém a segurança das mensagens e aborda, ponto a ponto, o que o app faz (ou não) com dados de usuários. 

“A atualização da política de privacidade não afeta, de forma alguma, a privacidade das mensagens que você troca com seus amigos e familiares. As mudanças nessa atualização são relacionadas às conversas que você pode ter com empresas no WhatsApp, o que é opcional, e fornecem mais transparência sobre como nós coletamos e usamos os dados”.

Sobre a segurança das mensagens, o WhatsApp garante que:

  • Não pode ler suas mensagens privadas nem ouvir suas chamadas;
  • Não mantém registro das pessoas para quem você ligou ou enviou mensagens;
  • WhatsApp e Facebook não podem ver sua localização compartilhada;
  • O WhatsApp não compartilha seus contatos com o Facebook;
  • As conversas em grupo continuam privadas;
  • Você pode enviar mensagens temporárias;
  • Você pode baixar todos os seus dados;

Esses itens são aprofundados no texto do FAQ (faq.whatsapp.com) e extraio, aqui, alguns trechos que chamam a atenção e possam guiá-lo numa leitura analítica e crítica.

Lendo com mais atenção

O WhatsApp promete, com todas as palavras, a criptografia end-to-end é uma garantia que jamais será revista. “Suas mensagens pessoais são protegidas com a criptografia de ponta a ponta, e jamais enfraqueceremos esse dispositivo de segurança”, explicam.

Os seus contatos não são usados, por exemplo, por anunciantes e páginas. Contudo, o Facebook assume que, quando você dá permissão, são acessados os números de telefone da sua agenda “para tornar a troca de mensagens mais rápida e confiável”.

Informações sobre grupos são valiosas e o WhatsApp afirma que acessa e usa esses dados de “participação dos grupos” para proteger os serviços de abusos e mensagens indesejadas (spam) — levando em consideração famosos encaminhamentos em massa. 

“Nós não compartilhamos esses dados [de grupos] com o Facebook para o propósito de exibir anúncios”, dizem. Em tese, não organizam nichos de usuários nem cruzam dados.

Conversando com empresas no WhatsApp

É aqui que a maioria das “novidades” nos termos de uso se aplicam. Foi-se o tempo que o WhatsApp era um aplicativo para conversas apenas com amigos. A plataforma tornou-se ferramenta de comunicação entre profissionais e times, central de vendas de quentinhas a artigos de luxo e praticamente escritório virtual de gente no mundo todo. 

Ainda que não seja possível garantir que todos os negócios e prestadores de serviço que usam WhatsApp — principalmente os pequenos — tenham aderido ao WhatsApp Business e aos recursos de vendas e pagamentos citados nas novas políticas de privacidade, o WhatsApp afirma que sempre informará, de maneira clara, quando você estiver conversando com uma empresa que usa os recursos comerciais abordados.

O que muda quando você conversa com empresas no WhatsApp?

Basicamente, três pontos:

  • O uso de serviços de hospedagem do Facebook;
  • A adesão a novos recursos comerciais do grupo;
  • Exposição a anúncios para descobrir outras empresas.

Quando você conversa com uma empresa que usa o WhatsApp Business e todos os seus recursos de venda e pagamentos, elas são tecnicamente diferentes das conversas que você tem com os seus amigos e familiares que usam o aplicativo tradicional.

Entendendo para onde vão os dados do WhatsApp Business

Algumas empresas — principalmente as de grande porte — podem usar serviços de hospedagem para gerenciar as comunicações com os clientes. Isso significa que o WhatsApp oferece a essas empresas a opção de usar os serviços de hospedagem do Facebook para gerenciar as conversas com clientes no WhatsApp e também vender. 

“O conteúdo da sua conversa (seja por chamada, e-mail ou WhatsApp) pode ser visto e lido pela empresa, e algumas informações compartilhadas podem ser utilizadas pela própria empresa para fins de marketing, inclusive para fazer publicidade no Facebook”.

O uso dos dados dos clientes ou não é uma opção da empresa. O WhatsApp, por meio do Facebook, permite que isso aconteça. Não quer dizer que vai sempre acontecer. 

A forma que você tem de saber se os dados poderão vir a ser usados para publicidade, por exemplo, é ficar atento ao aviso na conversa se uma empresa optou por usar os serviços de hospedagem do Facebook e que se trata de conversas com empresa.

Com o tempo, novos recursos são adicionados ao WhatsApp Business, como o Lojasem que empresas podem exibir um catálogo de produtos para que os clientes possam ver quais itens estão disponíveis e fazer a compra. Atividades de compra dos clientes poderão ser usadas para personalizar a experiência nas Lojas (em geral) e os anúncios que esse mesmo cliente vê no Facebook e também no Instagram. Como boa parte dos negócios estão presentes em todas essas plataformas, isso pode beneficiar o vendedor.

“Esses recursos são opcionais e quando você os usa, nós informaremos diretamente no app do WhatsApp como e por que seus dados serão compartilhados com o Facebook”.

Por fim, você ainda poderá ver anúncios no Facebook com um botão para enviar mensagens para uma empresa no WhatsApp. E, se você tiver o WhatsApp instalado no seu celular, será possível enviar mensagens com um toque. Para isso ocorrer, é necessário permitir a troca de dados entre os aplicativos. O Facebook, claro, pode usar os dados de como você interage com os anúncios para personalizar outros anúncios.

O WhatsApp é seguro?

No que se propõe. Mas, há limites. 

É como colocar todos os ovos em uma única cesta. 

Quando você decide que vai usar o WhatsApp, o Facebook e o Instagram — e qualquer outro aplicativo ou serviço do grupo — está confiando que o Facebook (dono de todos) não vai vazar, ser invadido ou permitir o uso inadequado de todas essas informações.

O passado nos mostra que o Facebook já foi protagonista de vazamentos e escândalos, como o que envolveu a Cambridge Analytica e ataques que afetaram milhões de contas.

Além disso, a criptografia de ponta a ponta assegura o bloqueio total do conteúdo das mensagens, mas não garante o mesmo para os metadados (informações sobre com quem você conversou e quando, ou seja, o cabeçalho) usados contra spam, e o backup do app em nuvem, que não é protegido pela mesma criptografia de ponta a ponta. 

A segurança deste arquivo de backup fica a cargo da Apple (iCloud) e do Google (Drive), que também podem acessar esses documentos. Sobre isso, o WhatsApp prometeu uma espécie de proteção por senha no backup, em testes tanto no iOS quanto no Android.

Usá-lo sem backup ainda é uma opção; é verdade.

Vale notar que essas questões não dizem respeito exatamente às mudanças nas políticas de privacidade e sempre foram motivos de críticas mesmo antes de 2016.

Aplicativos de mensagem seguros

Outros aplicativos como Telegram, Signal, Threema, Briar, entre outros, tem uma abordagem diferente no processo de criptografia, assim como no armazenamento dos dados dos usuários, existência ou não de backup e são usados por pessoas mais preocupadas com a privacidade, seja por que tratam de assuntos sensíveis ou não.

E, principalmente, não fazem parte de conglomerados de aplicativos cujo principal modelo de negócio envolve anúncios, comportamento de consumo e redes de contatos.

O texto com as Políticas de Privacidade do WhatsApp de Janeiro de 2021 e os tipos de dados coletados se encontra aqui (whatsapp.com/legal/updates/privacy-policy).

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Melissa Cruz Cossetti

Melissa Cruz Cossetti

Ex-editora

Melissa Cruz Cossetti é jornalista formada pela UERJ, professora de marketing digital e especialista em SEO. Em 2016 recebeu o prêmio de Segurança da Informação da ESET, em 2017 foi vencedora do prêmio Comunique-se de Tecnologia. No Tecnoblog, foi editora do TB Responde entre 2018 e 2021, orientando a produção de conteúdo e coordenando a equipe de analistas, autores e colaboradores.

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