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Hoje foram divulgados os indicados ao Emmy, premiação que homenageia as melhores séries americanas e seus elencos e equipes. O grande buzz foi com a indicação de House Of Cards ao prêmio de melhor série de drama. Isso porque House Of Cards é uma série exclusiva do Netflix, ou seja, a única de todas as indicadas que nunca foi exibida na televisão, apenas na internet.

Arrested Development também levou indicações, incluindo melhor ator de comédia para Jason Bateman. Mas a série teve somente a quarta temporada exibida exclusivamente pelo serviço de streaming. Em todo caso, foi essa que a levou ao Emmy desse ano.

Enquanto a internet toda pareceu empolgadíssima com as indicações, eu reagi com bastante indiferença. Sou muito fã de Arrested Development (não sei se alguém já pegou minhas referências por aqui) e fiquei feliz com a indicação de Bateman por esse motivo, apesar de achar que David Cross merecia mais, assim como fiquei feliz com a de Lena Dunham para melhor atriz de comédia (apesar de não entender a escolha da categoria) porque adoro Girls. Mas não liguei para House Of Cards disputando um dos principais troféus assim como não liguei para Game Of Thrones estar na mesma categoria porque não assisto nenhuma das duas. Acho que essa é a reação da maioria das pessoas.

Então, me deparei com um texto do ator Chris Gorham no Mashable que falava das indicações e me fez pensar em como o Emmy de 2013 representa algo bem grande no que diz respeito ao reconhecimento da “nova mídia” (a.k.a. internet) em relação à “mídia tradicional” (a.k.a. televisão).

Refazendo os questionamentos que Gorham faz em seu texto: você sabe qual o dia e horário que sua série preferida passa na TV? E quantas séries você acompanha semana após semana na televisão? Ainda mais as que já foram exibidas: você espera a reprise até ficar em dia? Conhecendo o perfil de quem lê o TB, aposto que todas as respostas foram negativas. Foi o meu caso, também: a princípio, eu não liguei para as indicações de séries do Netflix porque o Netflix é onde eu vejo televisão e, como o Emmy premia programas de TV, o que haveria de surpreendente nisso?

Arrested Development: a série que foi cancelada na TV e revivida no Netflix
Arrested Development: a série que foi cancelada abruptamente na TV e teve sua última temporada aanos depois como uma produção original do Netflix

Então, lembrei que o Netflix não é a TV.

Há alguns anos, a gente achava que o YouTube – ok, a internet – iria sepultar a TV. Isso não aconteceu e nem vai acontecer, assim como a TV não sepultou o rádio; as mídias se adaptam e aprendem a conviver, suprindo necessidades diferentes do público. O conteúdo, em suas diferentes formas, vai aonde as pessoas estão.

A inclusão de séries do Netflix nos indicados ao Emmy lado a lado de séries da TV comprova isso. O Emmy é a premiação da Academia de Artes e Ciências Televisivas (tradução livre de Academy of Television Arts and Sciences), entidade americana que foi criada com o intuito de desenvolver a arte na televisão nos EUA.

Acolher séries de outras mídias no Emmy mostra que a existência desses outros meios e a valorização de seus produtos não apenas é vista, mas celebrada e encarada com tanta seriedade quanto as da mídia tradicional. O  Emmy está mais preocupado em premiar a qualidade do que se limitar ao meio. Afinal, se as séries do Netflix têm audiência, uma grande base de fãs e contam com todo o processo de criação de uma série de um canal de TV, por que não colocar tudo no mesmo saco?

Seguindo essa fórmula, também seria justo incluir algumas produções da web, não? Há dezenas de webséries muitíssimo bem produzidas, apesar do baixo orçamento que lhes costuma ser característico. Não seria o caso de criar uma categoria para elas no Emmy, como Gorham sugere, e abrir os olhos para todas as mídias que entregam entretenimento em vídeo disponíveis atualmente? A internet já tem suas próprias premiações, como o Shorty Awards. Mas deixar as produções de alto nível restritas a elas talvez seja, sei lá, desperdício de talento. Quantos de vocês nunca tinham nem ouvido falar do Shorty Awards antes de ler esse texto? E quantos nunca tinham ouvido falar do Emmy? Pois é.

Talvez estejamos comemorando a vitória da internet antes da hora, tomando uma porção bem pequena formada por produções que envolvem muita grana e muita gente como amostra do todo, que é, em sua esmagadora maioria, composto por equipes reduzidíssimas, equipamentos que normalmente são o que tem ali na hora e praticamente nenhuma grana.

Em todo caso, é legal ver uma mudança dessas numa premiação tão antiga e tradicional como o Emmy. E vamos torcer para que Arrested Development ganhe tudo para ter mais um motivo para uma quinta temporada no Netflix. 🙂

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Giovana Penatti

Giovana Penatti

Ex-editora

Giovana Penatti é jornalista formada pela Unesp e foi editora no Tecnoblog entre 2013 e 2014. Escreveu sobre inovação, produtos, crowdfunding e cobriu eventos nacionais e internacionais. Em 2009, foi vencedora do prêmio Rumos do Jornalismo Cultural, do Itaú. É especialista em marketing de conteúdo e comunicação corporativa.

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