Por que lançar uma série na Netflix brasileira? Porque o brasileiro pede entretenimento que não o da Globo

Conversamos com Felipe Neto, fundador da Parafernalha, sobre “A Toca”

Thássius Veloso
Por
• Atualizado há 2 horas

Não está sendo fácil para a televisão brasileira. Os índices de audiência só fazem cair como um todo, causando preocupação nos executivos sobre como essa história vai terminar. Qual o motivo da diminuição do número de espectadores? Tudo nos leva a crer que tem a ver com a internet. Neste cenário, aparece A Toca, primeira série distribuída exclusivamente pela Netflix no país. Ela foi feita pela produtora Parafernalha, encabeçada por Felipe Neto. De acordo com ele, o conteúdo original interessa cada vez mais porque o brasileiro pede conteúdo que não seja feito pela Rede Globo.

Felipe Neto em vídeo de humor da Parafernalha


Eu conversei com o Felipe por email sobre como se deu a abordagem da Netflix para lançar a primeira websérie exclusiva do site no Brasil. Há algumas diferenças em relação ao que já foi feito lá fora.

Por exemplo, House of Cards. Essa série é uma produção exclusiva (também a mais popular) da Netflix. Foi pensada do início ao fim tendo em vista um contrato de distribuição na plataforma digital. Já A Toca existia antes da aproximação da empresa. Em resumo, é como se eles pegassem um produto bem sucedido e comprassem uma segunda temporada — com evidentes diferenças que o primeiro youtuber a conseguir um milhão de assinantes no YouTube conta a seguir.

Existe alguma diferença entre o A Toca que estará no Netflix e a série que foi publicada no YouTube?

Felipe Neto — Sem dúvida. No YouTube, fazemos episódios de 5 a 7 minutos, já no Netflix são episódios de 30 minutos. Foi uma experiência totalmente nova para toda a equipe produzir episódios de meia hora, pois tudo é diferente: estrutura de roteiro, montagem, e a própria produção segue outro ritmo. É algo totalmente diferente, mas sem perder a essência que temos no YouTube.

Como se deu esse contato do Netflix com a Parafernalha para a realização de uma série em conjunto?

Fui contactado pela Netflix numa viagem de negócios que fiz a Los Angeles. Eles me explicaram que queriam lançar conteúdo exclusivo na Netflix do Brasil e que, após terem feito uma pesquisa profunda de audiência e qualidade, tinham optado pela Parafernalha, graças ao trabalho que ela realiza no YouTube. Eu não sou o dono ou o autor da série, como a imprensa tem divulgado, a série é da Parafernalha. Eu participo.

Como você vê essa ampliação de conteúdos originais que são produzidos com muita grana, com qualidade de TV, mas especificamente para a internet, como House of Cards? Curte essa pegada? E qual é a diferença disso para o que se faz pensando no público da televisão?

Vale ressaltar que há uma diferença entre conteúdo exclusivo e conteúdo original. House of Cards é uma série produzida pela Netflix. Já A Toca é uma série produzida pela Parafernalha e comprada pela Netflix. Eu acompanho séries assim, inclusive acabei de ver Orange is The New Black e adorei. Acho que as séries originais e exclusivas Netflix têm uma linguagem melhor, um estilo mais próprio, algo diferente da televisão em si. Se comparada à TV americana, acho que está no mesmo nível, mas se comparada à TV brasileira, dá uma goleada de 118 a 0. O brasileiro pede cada vez mais por novas formas de entretenimento sem ser da Rede Globo. Cada vez mais oferecemos isso a eles.

Corta pra mim

Dá pra dizer que tanto o Felipe Neto como a Netflix estão bem alinhados em relação ao discurso sobre como funciona esse negócio de séries para internet. Depois de publicarmos a nota sobre o lançamento de A Toca, um representante da empresa entrou em contato para explicar que House of Cards trata-se de uma produção Original Global. Diferentemente de A Toca, que será disponibilizada apenas para assinantes do serviço brasileiro da Netflix. Palavras da empresa: “Esta é uma extensão natural do trabalho que já estávamos fazendo para dar suporte a ótimos comediantes locais, como Rafinha Bastos e Marcela Leal. Estamos muito felizes de trazer uma comédia local exclusiva para nossos assinantes brasileiros.”

Ficou curioso para assistir à série? Dá play abaixo. Tem um dos vídeos já publicados, da primeira temporada. A Toca na Netflix deve ser aproximadamente 6 vezes isso que você vê a seguir.

A única bronca do Felipe é em relação às informações publicadas na internet de que a série, assim como os produtos da Parafernalha em geral, são focados num público muito jovem, praticamente pré-adolescente. “Afirmar que o público é formado por maioria de pessoas muito jovens foi uma puta falta de pesquisa por parte do jornalista, baseado puramente no achismo”, disse Felipe. Ele continua: “Para você ter ideia, o público da Parafernalha, que é a autora da série, é de maioria absoluta entre 18 e 24 anos, seguido por 25 a 34. O grupo de 13 a 17 aparece só em terceiro lugar. A média geral calculada do público da Parafernalha é de 24 anos, 70% masculino, consumidor ativo”.

Reclame feito, vale lembrar que os três episódios de A Toca chegam à Netflix na próxima sexta-feira (9). Todos de uma vez, como é de costume no serviço. Embora a imagem do Felipe ainda esteja muito associada à empresa, ele mesmo destaca que já são cerca de 20 profissionais trabalhando na Parafernalha. Eles utilizam um espaço de 300 metros quadrados no Largo do Machado, no meu Rio de Janeiro. E agora, falando de YouTube: 3,3 milhões de internautas assinam o canal da Parafernalha, que já tem 203 milhões de visualizações. Cada vídeo publicado possui em média 1,8 milhão de visualizações.

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Thássius Veloso

Thássius Veloso

Editor

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia e editor do Tecnoblog. Desde 2008, participa das principais feiras de eletrônicos, TI e inovação. Também atua como comentarista da GloboNews, palestrante, mediador e apresentador de eventos. Tem passagem pela CBN e pelo TechTudo. Já apareceu no Jornal Nacional, da TV Globo, e publicou artigos na Galileu e no jornal O Globo. Ganhou o Prêmio Especialistas em duas ocasiões e foi indicado diversas vezes ao Prêmio Comunique-se.

Canal Exclusivo

Relacionados