Observando de fora a sobreloja do edifício Viadutos, que fica no Centro de São Paulo, numa terça-feira à noite, as luzes coloridas podem fazer parecer que tem uma festa acontecendo ali dentro.

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Na verdade, é algo quase oposto a isso: um workshop sobre refrigeração de máquinas, apresentado por um arquiteto que, quando adolescente, fazia overclocking por hobby. Momentos antes, uma designer contava da dificuldade de fazer orçamento no Brasil de placas de metal que pudessem envolver uma cortadora a laser – a mesma que será refrigerada com o conhecimento passado pelo arquiteto. Nas reuniões do Garagem Fab Lab, o conhecimento de todo mundo é aproveitado e vira domínio público da rede Fab Lab.

O primeiro Fab Lab foi montado no MIT pelo professor Neil Gershenfeld como parte da disciplina How To Make (almost) Anything e isso já diz bastante coisa sobre o que é um Fab Lab: um espaço que dispõe de equipamentos para que qualquer pessoa possa transformar suas ideias em realidade. Como Eduardo Lopes, um dos criadores do Garagem, define, eles existem para “transformar ideias em realidade com meios de produção digitais”.

Mais do que um lugar para pessoas criativas colocarem suas ideias em prática, um Fab Lab é quase uma ideologia no que diz respeito ao acesso à informação. Eles prezam pelo conhecimento livre, então tudo que é feito lá precisa ser disponibilizado para toda a rede. Há cerca de 200 espalhados pelo mundo.

O Garagem Fab Lab é o segundo Fab Lab do Brasil. O primeiro fica na USP. Os criadores, Eduardo, Marco Rossi e Heloísa Neves, conheceram a ideia lá e fizeram um independente há cerca de três meses.

Ele ainda não está completo, mas isso deve ocorrer até o fim deste ano ou no começo do próximo. É que, para ser certificado como um Fab Lab, há uma lista de equipamentos que precisam compor o local, de impressoras 3D a placas Arduino e outras que precisam ser importadas ou fabricadas – a cortadora Lasersaur, que é open source, foi o assunto da palestra descrita no começo do texto e será produzida no próprio Garagem. Todas as terças-feiras, quem quiser se envolver com o projeto comparece a um workshop e, depois, fica para a discussão dos próximos passos. Mas quem só quiser ir para conhecer o local e aprender algo novo também é bem-vindo.

O outro projeto que está sendo desenvolvido é a construção de uma bicicleta de madeira. O grupo acabou se dividindo em dois para torná-la realidade: um a fará do zero utilizando softwares de modelagem 3D e os outros equipamentos disponíveis no Fab Lab; o outro utilizará a reciclagem de materiais como mote.

“Quase” tudo

Lopes conta que espera que a Garagem esteja completa lá por fevereiro. Então, será possível para qualquer um levar seu projeto pessoal para ser fabricado no Fab Lab; basta disponibilizar o blueprint – afinal, a ideia do Fab Lab é compartilhar conhecimento – e pagar algo que, segundo o empresário, deve ficar na faixa dos 50 e 150 reais por hora, dependendo das máquinas utilizadas.

A maior parte dos Fab Labs não têm fins lucrativos e, por fazerem parte de universidades, são subsidiados por elas ou por alguma política do governo. Mas há casos de Fab Labs independentes, como o Garagem, que precisa render dinheiro para se sustentar. Para isso, o modelo de negócios, assim que as máquinas que faltam chegarem, será baseado principalmente em parcerias e patrocínios de empresas, segundo Eduardo. Por exemplo, se uma empresa necessitar fazer o protótipo de alguma máquina, pode entrar em contato para que ela seja feita pela comunidade e vendida.

Para ilustrar o potencial de criação de um Fab Lab, praticamente tudo que está no laboratório foi criado lá mesmo: todos os móveis e a decoração (há um monte de estatuazinhas feitas com impressoras 3D expostas que fazem todo mundo que chega passar algum tempo admirando-as) estão disponíveis para download – até o projeto da descolada Prateleira Bola pode ser baixado e refeito na sua casa.

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Mas nem só de fazer cacarecos em 3D para uso pessoal vive um Fab Lab e o lado social é especialmente importante. Lopes citou alguns exemplos internacionais: um projeto que teve como objetivo ajudar a purificar a água na África, outro que providenciou equipamentos agrícolas na Índia e um terceiro que ampliou os sinais de Wi-Fi no Afeganistão.

No Brasil, as pessoas envolvidas com a rede têm desenvolvido projetos principalmente com comunidades carentes e crianças. Para esse público, são utilizados kits mais lúdicos, como Lego, Makey Makey e littleBits, para ensinar noções de eletrônica.

No entanto, não é necessário ter noção nenhuma de programação ou qualquer outra coisa para criar no Fab Lab: basta ter uma ideia que eles têm tudo o resto para que você aprenda os processos e transforme-a em realidade (é preciso por a mão na massa: ninguém vai te entregar nada pronto ou fazer projetos sob encomenda). Se quiser conhecer e entrar para a comunidade de criadores, é só aparecer em um dos encontros. Para acompanhar a programação e as novidades, é só seguir a fanpage.

  • O que é: Garagem Fab Lab
  • Onde fica: Praça General Craveiro Lopes, 19
  • Horário de funcionamento: terças e quintas, a partir das 19h

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Giovana Penatti

Giovana Penatti

Ex-editora

Giovana Penatti é jornalista formada pela Unesp e foi editora no Tecnoblog entre 2013 e 2014. Escreveu sobre inovação, produtos, crowdfunding e cobriu eventos nacionais e internacionais. Em 2009, foi vencedora do prêmio Rumos do Jornalismo Cultural, do Itaú. É especialista em marketing de conteúdo e comunicação corporativa.

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