Você já ouviu falar em TDA-H ou DDA? Trata-se de um distúrbio neurológico caracterizado pela alteração da atenção e hiperatividade, que atinge de 3 a 5% das crianças em idade escolar. Uma doença característica da infância. A novidade é que os consultórios psiquiátricos passaram a receber adultos com esse distúrbio.

As queixas seguem um padrão: durante a vida toda nunca tiveram problemas, que começaram a se manifestar gradativamente até chegar a um ponto que começou a interferir em sua vida pessoal e profissional. É o cara que sempre deu conta de tudo mas, com o passar do tempo, não conseguia mais produzir, mesmo aumentando as horas de trabalho.

Eu tenho um familiar que está passando por esse problema, fazendo acompanhamento com um terapeuta e contando com auxílio medicamentoso. Tenho pesquisado muito sobre o tema na web. Para minha surpresa, isso está se tornando cada vez mais comum entre adultos.

O que está acontecendo que, de uma hora para a outra, ninguém mais consegue se concentrar? É o excesso de trabalho? O trânsito? De onde vem a falta de tempo para vida social e familiar?

Eu acredito que dá para colocar um ingrediente a mais: a internet. Mas não da maneira como a mídia gosta de colocar, dando destaque para os “viciados em internet”, como se todos que trabalham com web fossem desequilibrados.

A culpa é nossa. Somos nosso maior inimigo. Nós nos auto-sabotamos. Não sabemos fazer uso adequado da tecnologia. E o problema é mais grave com aqueles que passam o dia trabalhando no PC. E com um agravante para os brasileiros: o hábito de deixar tudo para a última hora.

Você já teve a sensação de que, após um dia inteiro na frente do computador, não deu conta de todas as tarefas e ainda viu sua lista de pendências crescer? Ou chega em casa tão exausto que só consegue se largar no sofá e assistir TV? Descansos saudáveis como brincar com o cachorro ou os filhos, passear no parque, ler ou fazer atividades físicas parecem sonhos inatingíveis?

Concentrar-se virou um trabalho árduo

Todos os dias somos bombardeados por informações. TV, rádio, internet, e-mails, instant messengers, Twitter, Facebook… Vivemos num estado em que terapeutas denominam “CPA” — continuous partial attention. Ou seja, independente do que estejamos fazendo, ou tentando fazer, ficamos em alerta constante esperando notificações de email, Twitter e RSS. Um estado contínuo de ansiedade, que nos impede de dedicar 100% de atenção a uma tarefa realmente importante.

Na prática: é quando paramos momentaneamente para dar uma espiadinha nas novidades. A espiadinha transforma-se em horas vendo PowerPoints engraçadinhos, ou clicando em links twittados, ou lendo numa nova notícia no agregador de RSS. Que linka para outra, e outra, e outra… O caráter não-linear da web enreda as pessoas de tal maneira que, mais tarde, a pessoa nem se lembra mais o que o levou originalmente a abrir o navegador, enquanto terminava o relatório para o chefe.

Estudos dizem que, a cada interrupção que sofremos, levamos 15 minutos para retomar o grau de concentração prévio!

Precisamos gerenciar melhor a descarga de informações que recebemos todos os dias. As saídas são abandonar o modo multitarefa e aplicar a ignorância seletiva. Ou seja, providenciar filtros para aquilo que não nos acrescenta nada sequer chegar aos nossos olhos e ouvidos.

Mas somos péssimos nisso, graças à auto-sabotagem. Lógico que dar uma espiada recados do Orkut, ler o que rola no Twitter e ver fotos no Facebook é muito mais divertido que fazer aquela chatérrima planilha de fechamento de mês!

Como manter a atenção naquilo que realmente é importante?

Não conte com seu auto-controle, pois você vai fracassar. Aplique algumas medidas mais radicais para voltar a ser produtivo e chegar ao fim do dia com a sensação de dever cumprido:

1. Determine horários ao longo do dia para checar seus emails: no início do dia, antes e após o almoço, e no fim da tarde antes de sair. Fora desse período, mantenha seu cliente de email fechado, ou, no mínimo, com o notificador desligado.

2. Só use instant messengers se realmente for indispensável no seu trabalho, como mensageiros corporativos. Mesmo assim, coloque no modo ocupado quando estiver trabalhando, pedindo para deixar recados. Desligue os pop-ups para não se distrair. Só cheque os recados após concluir sua tarefa.

3. Redes sociais: deixe-as para para o fim da manhã ou fim da tarde. Será um descanso que funcionará como “recompensa” pelas tarefas cumpridas.

4. Se você trabalha num ambiente com muito ruído, ou cercado de pessoas, use um fone de ouvido com isolamento acústico. Nem precisa ouvir música, é só para deixar o local mais silencioso.

5. Se você é constantemente interrompido por colegas, o fone de ouvido pode desestimular interrupções que não sejam importantes. Remova cadeiras extras de perto de você, ou ocupe-a com pastas, roupas ou mochilas. Sem estímulo para sentar-se, a conversa será breve.

6. Para quem trabalha por conta própria: ao invés de estipular x horas de trabalho por dia, estipule uma lista de tarefas, com cálculo aproximado de duração cada uma delas. Não acumule mais de 6h, para ter uma folga em caso de urgências ou pepinos.

7. Novamente, para quem trabalha por conta: intercale 50 minutos de tarefa em concentração máxima com 5 minutos de repouso. Se você é viciado em redes sociais, aproveite. Ou espaireça dando uma caminhada, tomando um café, ouvindo uma música. A cada 3 blocos de 50 minutos, faça uma pausa de 15′. Ligue um timer para não deixar o tempo de descanso estourar.

8. Se você é absurdamente tarado por internet, seja mais duro consigo mesmo. Tire o cabo de rede do computador ou desligue o wireless. Se ainda assim você for suscetível à auto-sabotagem, use recursos que automaticamente bloqueiem a internet nos horários que você determinar. Como o Rescue Time ou o Stay Focused.

9. Faça brainstorms sem usar ferramentas digitais, principalmente se o seu trabalho envolve criatividade. Eu costumo usar cadernos sem pauta para fazer mapas mentais. Uso eles para tudo: rascunhos de posts, artigos que escrevo, planejamento do dia ou da semana, planejamento de viagens e muito mais. O caderninho está sempre comigo; então, faço-os em qualquer lugar, imediatamente ao surgir uma ideia. Quando estou com mais tempo, por exemplo, fazendo planejamento, uso cores; mas quando a ideia surge de repente, acabo usando lápis mesmo, para não perdê-la. A captura deve ser imediata. Aliás, foi assim que nasceu esse post. Ele levou exatos 43 minutos para ser escrito, no meu laptop, dentro do Evernote, usando o mapa mental abaixo como roteiro:

P.S.: Talvez o seu caso não seja uma simples auto-sabotagem. Se você notar que as medidas acima não surtem efeito e vão além da vida digital, procure ajuda médica.

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Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

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