O futuro da influência no OnlyFans, que atraiu até Cardi B e Anitta

O OnlyFans é usado principalmente para criadores de conteúdo adulto, mas cada vez mais astros do cinema e TV aderem à plataforma

Felipe Vinha
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• Atualizado há 1 ano
O OnlyFans como plataforma de expansão para criadores de conteúdo (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)
O OnlyFans como plataforma de expansão para criadores de conteúdo (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Desde seu surgimento, em 2016, o OnlyFans tem sido uma plataforma cada vez mais distinta e com público-alvo bem definido. Hoje, a rede oferece serviços que aproximam criadores e criadoras de conteúdo adulto com seus fãs, mediante pagamentos mensais ou pontuais. Mas e se formos um pouco além disso?

Há quem diga que, no cenário atual, o OnlyFans seja a plataforma mais completa para interação entre público e ídolos. Seja por conta da abrangência, facilidade de criação de conta, formas de se comunicar, personalização e, até certo ponto, segurança em termos de conteúdo divulgado.

Em um exercício de imaginação, em uma realidade onde plataformas de criação de conteúdo estão cada vez mais estagnadas, o que aconteceria se o OnlyFans se tornasse uma alternativa real para qualquer tipo de criador pela rede?

Imagina comigo…

Maria é uma YouTuber de relativo sucesso. Ganhou muita fama ao longo de cinco anos na plataforma, onde já soma mais de 4 milhões de assinantes, mas sofreu uma leve estagnada enquanto o YouTube passou por mudanças na monetização, em decorrência da pandemia da COVID-19.

Já Carlos é um músico famoso, rodou todo o Brasil, tem disco de platina, sua música está no topo das paradas no Spotify. Mas, ao contrário de outros artistas, está respeitando o isolamento social e não promove shows há 10 meses, o que fez com que sua renda diminuísse bastante.

Criar conteúdo em ambientes virtuais cada vez mais disputados é um dos desafios, hoje (Imagem: Chase Chappell)
Criar conteúdo em ambientes virtuais cada vez mais disputados é um dos desafios, hoje (Imagem: Chase Chappell)

Maria pode ativar o Clube de Membros no YouTube e aumentar seu lucro com assinaturas de seus usuários, além da monetização da plataforma. Mas as ferramentas não são tão completas quanto parecem. Já Carlos pode realizar shows virtuais e cobrar ingressos, mas a adesão provavelmente será baixa e o show será facilmente pirateado por aí.

Em uma fase do mundo onde o entretenimento é uma parte vital da sobrevivência social, quem entretém também pode encontrar o fundo do poço e ver suas fontes secarem, assim como aconteceu a estes personagens fictícios e com suas possibilidades.

Uma plataforma que une diversas soluções pode ser a saída, dependendo da forma como interpretamos.

Criando conteúdo online

Receber grana por cada conteúdo postado, ou por meio de uma assinatura mensal cobrada a quem te segue. Essa é a proposta principal do OnlyFans. A plataforma foi criada em Londres, em 2016, por Tim Stokely, com a missão de servir como um “Pay-Per-View”, ou “Pague para acessar”, em tradução livre.

Ela foi criada para ser uma ponte entre fã e criadores, com pagamento mensal, mas sem necessariamente focar em entretenimento adulto. Isso mudou um pouco em 2018, quando o site MyFreeCams, este sim normalmente direcionado a nudez e outros conteúdos adultos, comprou 75% da Fenix International Limited, detentora original do OnlyFans.

De lá para cá, se popularizou a ideia de que o site servia apenas para conteúdo adulto – e não é para menos, já que a plataforma ficou famosa graças ao apelo do entretenimento para maiores de 18 anos. Ainda assim, Stokely gosta de reforçar, em entrevistas recentes, que o site é aberto a qualquer tipo de criador ou artista, citando, inclusive, grandes nomes do mainstream que estão por lá.

Aliás, vamos chegar neste ponto, já, já.

Como funciona, na prática?

Pensando de forma prática: há muitos anos pagamos por conteúdo sob demanda, mesmo antes da popularização de streamings. TVs à cabo são realidade no Brasil e no mundo, por exemplo. Essa é a proposta de uma plataforma como o OnlyFans.

O ecossistema é bem simples: o site fica com 20% de qualquer pagamento recebido pelo criador, como taxa padrão. Este mesmo criador define um valor para assinatura mensal, que pode ser em qualquer faixa, de US$ 5 a US$ 50, ou até mesmo de graça, se assim o criador decidir. Por outro lado, é possível ainda vender conteúdo separados, mesmo para quem já assina o serviço, e totalmente opcional.

O que é o Onlyfans / Diego Melo / Reprodução
Criado em 2016, OnlyFans cresce a cada ano (Imagem: Diego Melo/Tecnoblog)

Digamos que um músico tenha página no OnlyFans, onde lança suas canções e clipes de bastidores para quem assinar o serviço mensalmente. Porém, ele pode vender a um determinado fã uma música personalizada, com o nome deste pessoa, por US$ 50, digamos.

Não há uma regra para cobrança ou formato desta cobrança. É por este motivo que muitos apontam para a tendência de que OnlyFans tem uma enorme variedade de possibilidade, por ser bem completa. “Você pode mandar mensagens para seus assinantes. A mensagem pode ser para todo mundo ou privada. A pessoa pode falar com o ídolo. Dá até pra fazer um sorteio na própria plataforma”, comenta Cris Catupiry, consultor de marketing de influência, em conversa com o Tecnoblog.

“Dá pra fazer um clube do livro no OnlyFans. A pessoa que tem um canal de literatura pode avisar no vídeo que daqui uma ou duas semanas vai fazer uma reunião sobre o livro para quem assina na plataforma. Hoje o site está sendo usado, basicamente, para conteúdo adulto, mas é uma possibilidade para qualquer pessoa que queira criar conteúdo mais próximo da audiência”, complementou o especialista.

Facilidades, mas nem tanto

Catupiry também destaca a facilidade nos dois lados. “A plataforma tem fácil conexão. Conecta pelas redes sociais, usa Twitter ou Google para logar. Inicialmente eu achei simples, mas depois que testei, por ser parte do meu mercado de influência, vi que as possibilidades são muito grandes. Você pode liberar conteúdo grátis ou pago, personalizando cada um”, disse.

E, de fato, é simples. Na página inicial é possível criar um cadastro de usuário do zero, mas os botões de Twitter e conta Google já montam tudo, sem precisar se preocupar. A partir dali é possível assinar qualquer perfil, buscando algum ou já conhecendo seu ídolo, e receber os conteúdos na página inicial e no “inbox” da plataforma.

Mas veja bem: esta não é exatamente uma plataforma indicada para quem quer começar do zero. Em uma reportagem publicada no The New York Times, a jornalista Gillian Friedman conversa com pessoas que se arriscaram a se lançar na plataforma, como alternativa às perdas que a pandemia trouxe – como falta de emprego, demissões, cortes de custo. Em especial envolvendo trabalhadoras dos EUA.

Segundo a matéria, mais de um milhão de criadores e criadoras estão no OnlyFans, além de mais de 90 milhões de usuários – números obtidos em dezembro. Angela Jones, professora de sociologia da State University of New York at Farmingdale, comenta no texto: “Muita gente está migrando para o OnlyFans no desespero. Estas pessoas estão preocupadas com o que vão comer, pagar as contas de luz, preocupadas em não serem despejadas”.

A história original cita duas personagens: Savannah Benavidez, de 23 anos, que ganhou US$ 64 mil de julho a dezembro; e Lexi Eixenberger, que começou uma conta em novembro e, em dois meses, havia somado apenas US$ 500.

De fato, como em qualquer plataforma famosa que hoje é usada como entretenimento, crescer pode ser uma tarefa ingrata. Se uma pessoa “comum” abrir um canal no YouTube em 2021, vai ter muito mais dificuldade de crescer do que se um grande YouTuber renomado inaugurar um canal secundário, que ganhará inscritos em questão de segundos.

Há quem ganhe

Mesmo assim, há espaço na plataforma para quem já tem uma carreira estabelecida e experiência de mercado. É o caso de Gween Black, de 27 anos, que abriu sua conta no OnlyFans em 2019.

Gween não é novata, trabalha com conteúdo adulto em mais oito sites em paralelo, há pelo menos oito anos, mas usa o OnlyFans por ser “a moda do momento”, mas a modelo apresenta sua visão: “O tráfego é bem grande, mas não ache que abrindo uma conta vai chover gente. Não existe uma ferramenta de divulgação dentro da plataforma, então a troca de postagens com outros criadores ainda é o melhor jeito de ser visto”, comentou ao Tecnoblog.

Gween Black, de 27 anos, está no OnlyFans desde 2019 (Foto: Divulgação)
Gween Black, de 27 anos, está no OnlyFans desde 2019 (Foto: Divulgação)

Gween Black, que trabalha de 10 a 12 horas por dia na criação de conteúdo para seu OnlyFans, tem 83 mil curtidas em seu perfil, além de 3,3 mil fãs, onde oferece conteúdo por uma assinatura de US$ 7. Além dela, muitas outras modelos já estabelecidas tiveram enorme sucesso na plataforma, o que também se estende para outros nomes, de variados nichos.

A atriz Bella Thorne, de 23 anos, que chegou a gravar seriados para a Disney, entrou para o site em agosto de 2020, somando US$ 1 milhão em assinaturas em 24 horas, derrubando os servidores no processo – para assinar seu perfil é preciso desembolsar US$ 10 mensais.

Outras celebridades internacionais também têm, ou tiveram, perfis por lá, onde interagem com fãs, vendendo assinaturas e conteúdos adicionais: a rapper Cardi B, o ator Tyler Posey (de “Teen Wolf”), o cantor Chris Brown, DJ Khaled e, ao que tudo indica, futuramente, o astro Michael B. Jordan, ninguém menos que a co-estrela de Pantera Negra, filme do Marvel Studios. Muitos destes nomes, inclusive, tomaram a decisão impulsionados pela quarentena.

No Brasil, algumas celebridades já se arriscam por lá, como a apresentadora Pietra Príncipe, que já tem conta, ou Anitta, que tem planos para abrir um. Em novembro, Anitta chegou a comentar para a imprensa que ia dar uma “boa olhada” na plataforma e criar seu perfil. O Tecnoblog tentou contato com a assessoria da cantora para saber mais, mas não obteve retorno a tempo de fechar esta matéria.

O único detalhe é que estas pessoas, consideradas “mainstream”, não vendem necessariamente conteúdo adulto. Algumas comercializam fotos sensuais, outras apenas bastidores de seus trabalhos principais. Mas estão vivendo no mesmo sistema que os chamados “sex workers”.

Tyler Posey, ídolo de Teen Wolf, é um dos astros no OnlyFans (Imagem: Reprodução)
Tyler Posey, ídolo de Teen Wolf, é um dos astros no OnlyFans (Imagem: Reprodução)

“Existem vários personal trainers, dançarinos e artistas na plataforma, o jeito de trabalhar dessas pessoas é bem diferente do meu ramo e monetizam por vídeo aula, assessoria etc. O site já foi questionado várias vezes se vai banir o sex work, mas eles garantem que não, justamente porque foram os criadores de conteúdo adulto que fizeram a plataforma crescer e ser vista”, adicionou Gween.

Para a modelo, é positivo ver pessoas da música, cinema e TV no OnlyFans. “Acho incrível! É realmente legal ver uma plataforma que dedico tanto meu tempo sendo mainstream. É um processo que desmitifica meu trabalho como “das sombras” e coloca como spotlight”, finalizou.

Nada para baixinhos

Obviamente, o OnlyFans pode ser um site perigoso para qualquer influenciador ou influenciadora que resolver se aventurar por lá. Não seria fácil controlar o que seu fã pode consumir, enquanto você divide a plataforma com criadores de conteúdo adulto.

Talvez a solução resida em criar um “site irmão”, com o mesmo sistema, mas com outra cara, plano de lançamento focado em ser “family friendly” e com muitos atrativos, em especial o pagamento local.

Hoje não há nada tão próximo deste tipo de site no Brasil, e o OnlyFans só permite cobrar em Dólar, o que é também uma barreira natural para nossa moeda. Há alternativas próximas, mas nada igual. Quem sabe ele não pode servir de inspiração para alguma grande produtora?

É sempre bom ficar de olho em tendências e em como certos sites e serviços podem influenciar outros no futuro – breve ou distante. Não é por um acaso que o YouTube, quando criou a prévia de vídeos nas thumbs, chegou a ser comparado com outro site de vídeos, mas de entretenimento adulto, que inovou e já trazia ferramenta similar, muito antes.

Tecnologia é um processo, um meio, um conjunto de técnicas para uma determinada realização. Responsável direta pela – ainda mais – franca expansão do mercado de influência e criação de conteúdo – não ferindo princípios legais, venha ela de onde vier.

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Felipe Vinha

Felipe Vinha

Ex-autor

Felipe Vinha é jornalista com formação técnica em Informática. Já cobriu grandes eventos relacionados a jogos, como a E3, BlizzCon e finais mundiais de League of Legends. Em 2021, ganhou o Prêmio Microinfluenciadores Digitais na categoria entretenimento. Foi autor no Tecnoblog entre 2020 e 2022, escrevendo principalmente sobre games e entretenimento. Passou pelos principais veículos do ramo, e também é apresentador especializado em cultura pop.

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