O Kinect está praticamente morto

O que é o Kinect (hoje em dia) e porqie a Microsoft dá todas as pistas de que já não liga muito para o dispositivo

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 11 meses
Kinect 2.0

O primeiro sinal de alerta veio da E3 2015. Na ocasião, a Microsoft mostrou várias novidades — como o sofisticado Xbox Elite Wireless Controller —, mas não fez uma menção sequer ao Kinect. Agora, na E3 deste ano, a situação piorou. A companhia revelou o Xbox One S, versão compacta e acessível do seu console, mas que precisa de um adaptador para funcionar com o acessório. Diante dessas circunstâncias, fica difícil negar: o Kinect, tal como o conhecemos, está com os dias contados.

Olha, mãe: sem o controle

Você deve se lembrar: o Kinect surgiu em novembro de 2010 como um promissor acessório para o Xbox 360. A Microsoft precisou de apenas 10 dias para vender 1 milhão de unidades do dispositivo. Isso só nos Estados Unidos. No final daquele ano, o Kinect já acumulava cerca de 5 milhões de unidades comercializadas no mundo todo.

Pudera. O Kinect levou a nossa experiência com o videogame para outro nível. Você não precisa mais ficar sentado no sofá manipulando freneticamente o joystick; você pula, levanta os braços, dança, faz gestos, finge que está correndo. O controle é o seu corpo.

Kinect para Xbox 360

É verdade que essa experiência não era exatamente inédita: o Nintendo Wii já oferecia algo semelhante. A diferença aqui é que o Kinect não exige nenhum joystick (o Wii requer o Wiimote) e captura movimentos com mais precisão. Não é por menos que o Kinect não se limitou ao universo dos games: o acessório passou a ser testado, por exemplo, em clínicas de fisioterapia e até como ferramenta de auxílio em cirurgias.

No que dependesse da Microsoft, a tecnologia do Kinect seria onipresente, estando em computadores, TVs e até carros. Mas é mesmo nos jogos que o acessório mostrou a que veio. É por isso que o Xbox One foi lançado com uma nova e mais precisa versão do Kinect.

Kinect - movimentos

Xbox One com Kinect

A Microsoft estava tão empolgada com a receptividade à tecnologia que decidiu disponibilizar o equipamento como item padrão do Xbox One: além de um joystick, a embalagem do console trazia um Kinect. Na verdade, a intenção da companhia era tornar o dispositivo obrigatório: o Kinect seria exigido para rastrear e identificar o jogador quando o console fosse ligado. A Microsoft recebeu tantas críticas que desistiu da ideia.

Mesmo assim, o Kinect continuou fazendo parte do kit básico do Xbox One. Mas, diante do avanço do PlayStation 4, a Microsoft passou a vender o Xbox One sem o Kinect em junho de 2014. Isso fez o kit do console baixar de US$ 499 para US$ 399, mesmo preço do PlayStation 4. O resultado? No mês seguinte, a companhia dobrou as vendas do Xbox One.

Nessa época, o Kinect já estava em crise, por assim dizer. Era esperado que o Xbox One já tivesse um bom número de jogos compatíveis com o acessório, mas isso não aconteceu. Como se não bastasse, entre os títulos compatíveis, poucos exploram todo o potencial do Kinect.

Xbox One

Daí foi ladeira abaixo. Os desenvolvedores, que já não estavam muito interessados no Kinect, perderam ainda mais o interesse quando perceberam que a maioria dos jogadores não fazia questão de comprar um Xbox One com o acessório. A situação ficou pior com a revelação de que, sem o Kinect, a capacidade gráfica do Xbox One fica até 10% maior, dependendo do game.

Esta é a consequência: pouquíssimos títulos compatíveis com o Kinect foram lançados desde então. Um deles é Just Dance 2016, lançado em outubro de 2015. Outro, a ser disponibilizado oficialmente no próximo dia 24, é o Kung-Fu for Kinect.

Com lançamentos de títulos compatíveis esparsos, falta de atualização (o SDK do Kinect não recebe updates desde outubro de 2014) e silêncio nas edições da E3, a Microsoft praticamente atesta que o Kinect foi deixado de lado.

Fim da linha para o Kinect — pelo menos em parte

Com o anúncio do Xbox One S, a Microsoft deu o golpe final. Entre outras novidades, o console é 40% menor em relação ao Xbox One original, suporta vídeos em 4K e oferece versões com 500 GB, 1 TB e 2 TB de armazenamento interno. A porta dedicada ao Kinect, porém, sumiu. Se quiser conectar o dispositivo, você terá que recorrer a um adaptador USB.

Mas que fique claro: o Kinect está longe de ser uma ideia ruim, tanto que ele continua sendo empregado em projetos acadêmicos, como os exploram a realidade virtual. Só que, no que diz respeito aos games, a Microsoft errou ao priorizá-lo tanto. Com óbvia exceção para os títulos de esportes e danças, a companhia nunca encontrou uma maneira realmente envolvente de integrá-lo à dinâmica dos jogos — quem disse que ficar sentado no sofá com o controle na mão é ruim?

Xbox One S: Kinect só com adaptador
Xbox One S: Kinect só com adaptador

As vendas do Kinect continuam, até porque há uma legião de usuários que não abre mão dos jogos baseados em movimentos, ainda que as opções não sejam numerosas. Mas, do ponto de vista técnico, é pouco provável que o Kinect receba novidades: do jeito que as coisas estão, simplesmente não vale a pena atualizá-lo.

Pode ser que a proposta do dispositivo não seja completamente abandonada. Na atual E3, a Microsoft também anunciou o Project Scorpio, console que terá foco em games com resolução 4K e títulos que exploram a realidade virtual. Por conta disso, não será surpresa se o Kinect (já se sabe que o acessório será compatível) ou a sua tecnologia for aproveitada de alguma forma no novo projeto. Só convém não contar muito isso.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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