Blanka e outros personagens “brasileiros” dos games

Capoeira e cores da bandeira são usados para justificar a nacionalidade de alguns personagens bem esquisitos dos jogos.

Izzy Nobre
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• Atualizado há 1 ano

Como brasileiros, temos um relacionamento curioso com a cultura pop: a consumimos avidamente, mesmo que ela não seja feita para nós. Seja você fã das sitcoms americanas, otaku viciado em desenhos japoneses, ou hipster que só assiste filme iraniano em preto e branco, você deve saber que o palco da ficção geralmente está bem longe da nossa realidade.

Com games, que costumam seguir as convenções da cultura pop, a história é a mesma.

Os personagens, as localidades, os situações… Geralmente, tudo que vemos na tela (seja do cinema ou de uma TV plugada a um Xbox 360) orbita a sociedade e os costumes norte-americanos. Talvez seja por isso que vibramos tanto quando vemos o nosso país representado nos filmes.

Eu aposto que você curtiu quando o Mark (interpretado pelo ator Kevin Corrigan) apareceu do nada no filme Superbad usando uma camiseta da seleção.

Superbad

Ver esse tipo de coisa é como se os responsáveis pelo filme dissessem: “Olha aí, um abraço para os nossos amigos do Brasil”, enquanto piscam na nossa direção. E às vezes isso acontece nos videogames, também. Eis uma lista de personagens que falam português, pintam o rosto na Copa do Mundo, e provavelmente deixam para pagar suas contas no último dia.

Blanka (Street Fighter)

Blanka

Este é sem dúvida o mais clássico. Jimmy Blanka era um garoto que sobreviveu a um acidente aéreo sobre o Amazonas e foi criado por animais selvagens. História clássica nos moldes de Tarzan ou Mogli.

Blanka nem sempre foi brasileiro, nem tinha esse nome: o personagem se chamava originalmente Anabebe e era africano. Mudaram seu nome para Hammer Blanka (mas mantendo boa parte do visual do lutador), e eventualmente virou Jimmy Blanka.

Curiosamente, os criadores de Street Fighter não têm a menor ideia do quão popular Blanka é no Brasil. Em uma entrevista em 2008, Yoshi Ono (um dos produtores da Capcom) se desculpou pelo personagem e a sua frase característica, achando que a maioria dos brasileiros teria se ofendido com a aparência do personagem conterrâneo e por terem representado o Brasil no jogo como a selva clichê.

Richard Meyer (Fatal Fury)

“Maia”

Este é provavelmente um pouco obscuro (pelo menos em comparação com os demais nessa lista), apesar de ter um mérito interessante. Richard Meyer (ou “Ricardo Maia”, a tradução oficial do nome) foi o primeiro personagem capoeirista nos games. E além disso, ele é o dono do Pão Pão Café, uma boate com temática brasileira.

Curiosamente, de acordo com a história do personagem, ele só entrou no torneio King of Fighters pra promover sua boate.

Eddy Gordo (Tekken)

Eddy Gordo

Eddy é um dos personagens capoeiristas da série Tekken (nem preciso dizer, outro personagem muito popular na nossa terra). Para a captura de movimentos do personagem, a Namco contratou os serviços o Mestre Marcelo, um nome respeitado na capoeira.

No (péssimo) filme baseado no jogo, Eddy foi interpretado pelo novato Lateef Crowder. Como se isso já não fosse o bastante pra irritar os fãs tradicionalistas da franquia, ainda erraram a grafia do nome do personagem: Eddy virou Eddie.

Christie Monteiro (Tekken)

Christie: brasileira mesmo?

Não dá pra mencionar Eddy Gordo sem citar a Christie Monteiro — ou “Christie MONTÉROU”, como diz o narrador de Tekken —, não é? Christie substituiu Eddy como o personagem capoeirista no quarto jogo da série. É supostamente brasileira, mas é dublada pela americana Xanthe Smith, que não faz a menor questão de sequer tentar um sotaque tupiniquim:


(YouTube)

No filme baseado no jogo, a lutadora foi interpretada por Kelly Overton, outra desconhecida. E de acordo com a Namco, o visual da personagem foi baseado na ex-modelo e apresentadora Tyra Banks.

Dublada, tatuada e baseada em americanas. Vem cá: a única desculpa pra chamar a Christie de brasileira é a capoeira mesmo, né?

Khushnood Butt (Fatal Fury: Mark of the Wolves)

Senhor “Butt”

Você deve estar estranhando esse nome (especialmente se você conhece o significado da palavra “butt” em inglês). Como assim, um sujeito de nome ‘Khushnood’ é brasileiro?

Acontece que esse é o nome na versão americana no jogo, que decidiu japonezar o personagem, sabe-se lá por quê. O nome original do sujeito era Marco Rodriguez (supostamente mudado na versão gringa pra evitar similaridades com o lutador americano Ricco Rodriguez). E a voz do personagem é do japonês Hikaru Hanada.

Ou seja, o Khushnood tem aparentemente menos motivo ainda que a Christie Monteiro para ser brasileiro. A Christie ao menos luta capoeira…

Rikuo (Darkstalkers)

Tire os óculos ou aperte os olhos: o Rikuo meio que lembra o Blanka, certo?

Rikuo, de Darkstalkers

O personagem é um homem-peixe que liderava uma sociedade aquática do rio Amazonas. Um terremoto destruiu seu reino, e ele está deste então procurando possíveis sobreviventes. O outro nome pelo qual o personagem é conhecido é… “Aulbath”. Não é exatamente um “José da Silva”, e tecnicamente nem humano o Rikuo é. Mas olhe para o sujeito… Ele usa as cores da bandeira, pô!

Você deve ter notado que todos os personagens brasileiros citados na lista são lutadores (e dois deles mal podem ser considerados seres humanos). Talvez o Yoshi Ono tenha mesmo um motivo pra se desculpar aos brasileiros pelo estereótipo que ele iniciou com o Blanka.

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Izzy Nobre

Izzy Nobre

Ex-autor

Israel Nobre trabalhou no Tecnoblog entre 2009 e 2013, na cobertura de jogos, gadgets e demais temas com o time de autores. Tem passagens por outros veículos, mas é conhecido pelo seu canal "Izzy Nobre" no YouTube, criado em 2006 e no qual aborda diversos temas, dentre eles tecnologia, até hoje.

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