Por que a tela dobrável do Galaxy Z Flip gera polêmica (é vidro?)

Afinal, a tela dobrável da Samsung tem vidro ou não? Se é vidro, por que a tela risca fácil?

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 11 meses
Samsung Galaxy Z Flip - Hands-on

O Galaxy Z Flip vem chamando atenção não só por ser o primeiro smartphone da Samsung que dobra na horizontal, mas também por trazer tela de vidro. Uma tela polêmica, no entanto: alguns testes mostram que o componente se comporta como se fosse plástico. Isso quer dizer que a Samsung mentiu? A resposta curta é: não. A completa está nas próximas linhas.

Samsung: é vidro, mas é flexível

Se você rolar a página oficial do Galaxy Z Flip, vai encontrar um trecho que diz com todas as letras: “É vidro. Mas é flexível”. Como pode? Tente dobrar um copo de vidro e, provavelmente, você acabará com um belo corte na mão.

A afirmação da Samsung é tão surpreendente que a própria companhia diz, em um vídeo promocional do Galaxy Z Flip, que “dobrou “as leis da física (a partir de 0:10):

É óbvio que a Samsung não quebrou nenhuma lei da física — a afirmação é puro marketing. Só que, como bem aponta o The Verge, a companhia tampouco mentiu ao afirmar que o Galaxy Z Flip tem tela de vidro dobrável. Só que, obviamente, o vidro do aparelho está longe de ser convencional.

Um vidro pode ser dobrado?

Pode. É o que dizem os especialistas da Corning (fabricante dos painéis Gorilla Glass) e da Schott (empresa que produz a tela do Galaxy Z Flip) ouvidos pelo The Verge.

Eles afirmam, basicamente, que qualquer material pode ser dobrado se ficar fino o suficiente. Essa suficiência depende do tipo de material, é claro. Talvez você consiga dobrar facilmente uma chapa de alumínio com 1 mm de espessura, mas uma camada de vidro com as mesmas dimensões, não.

O truque está em “afinar” o vidro de forma que haja um número tão reduzido de ligações químicas que o procedimento de dobra não irá exercer pressão suficiente sobre o material a ponto de quebrá-lo.

Vidro flexível de 70 mícrons da Schott (foto: CNET)
Vidro flexível de 70 mícrons da Schott (foto: CNET)

Quatro anos atrás, a Schott conseguiu fazer isso com uma camada de vidro com 70 mícrons (ou micrômetros). É muita “finura”. Para você ter ideia, um fio de cabelo costuma ter entre 70 e 100 mícrons. Agora vem a maior surpresa: chamado de Samsung Ultra Thin Glass (UTG), o vidro que equipa o Galaxy Z Flip tem 30 mícrons.

Falando assim, parece fácil: deixe o material o mais fino possível e, pronto, você tem uma camada de vidro tão flexível quanto plástico. Só que essa é apenas uma parte do processo. Outra, talvez mais desafiadora, é mitigar as imperfeições na fabricação do material que podem colocar tudo a perder.

Por que o vidro dobrável do Galaxy Z Flip arranha fácil?

Se você observar em escala microscópica um copo de vidro, por exemplo, certamente encontrará pequenos defeitos na superfície do material. Mas, como o vidro é suficientemente grosso, essas diminutas imperfeições não aumentam o risco de o vidro se quebrar.

Mas, em um vidro muito fino, essas imperfeições não são nem um pouco desprezíveis. Ao The Verge, Erkka Frankberg, pesquisador da Universidade de Tampere que estuda formas não convencionais de vidro, explica que “as tensões que você aplica sobre o vidro tendem a se concentrar nesses pequenos defeitos”.

A tela do Galaxy Z Flip risca fácil (foto: JerryRigEverything)
A tela do Galaxy Z Flip risca fácil (foto: JerryRigEverything)

Isso significa que, em um movimento de dobra da tela, uma pequena área com uma bolha de ar ou um simples arranhão pode fazer o vidro sofrer algum dano bem naquele ponto, favorecendo trincas ou, em casos extremos, ruptura.

A solução? Submeter o vidro a processos químicos e térmicos que irão fortalecer o vidro contra imperfeições. Só que existe um efeito colateral: o material se torna mais suscetível a arranhões. Reparou que esse é justamente o calcanhar de Aquiles do Galaxy Z Flip?

A película do Galaxy Z Flip

Em nota enviada ao Tecnoblog no post em que apontamos que a tela do dobrável pode ser riscada com facilidade, a Samsung explicou que “o Galaxy Z Flip possui uma camada protetora semelhante ao Galaxy Fold”. É uma referência óbvia à película que, a essa altura, todo mundo já sabe que o aparelho tem.

A pergunta é: por que ela está lá? O pesquisador Erkka Frankberg indica que, possivelmente, trata-se uma “camada de sacrifício”. Pode até ser que ela ajude o display a ser dobrado, mas é mais provável que o componente esteja lá para sofrer arranhões no lugar do vidro em si.

Película do Galaxy Z Flip (foto: JerryRigEverything)
Película do Galaxy Z Flip (foto: JerryRigEverything)

Provavelmente, o motivo principal é este: já que não dá para evitar arranhões ou outros tipos de danos, mudar a película sai mais barato do que trocar todo o vidro quando houver necessidade de reparo.

Por que vidro, então?

Película em celular é o tipo de proteção que o usuário opta por aplicar. É estranho o componente vir colocado de fábrica, tanto que os primeiros jornalistas que puseram as mãos do Galaxy Fold acharam que o material deveria ser retirado, você deve se lembrar.

Com o vidro, parecia que a película não seria necessária. Agora sabemos que só parecia. Se não deu para evitar o uso desse componente, não seria mais fácil — ou barato — deixar o Galaxy Z Flip com tela baseada em plástico? Não, necessariamente.

É frustrante que a tela de um dispositivo tão caro possa ser riscada facilmente, mesmo assim, há bons motivos para o vidro estar lá: o componente pode permitir respostas a toques mais precisas, tende a fazer a tela se desgastar menos e, talvez, torne o uso do smartphone mais agradável, este último quesito valendo tanto para o conforto do toque quanto para a qualidade visual do display.

Samsung Galaxy Z Flip - Hands-on

A verdade é que, do ponto de vista técnico, o Galaxy Z Flip evoluiu consideravelmente em relação ao Galaxy Fold, mas não dá para considerar o modelo o dobrável ideal. É dizer o óbvio, mas celulares com essa proposta ainda têm muito o que melhorar.

Mas eu concordo com a afirmação que o iFixit fez ao desmontar o Galaxy Z Flip e constatar que a proteção contra poeira do aparelho não é tão eficiente assim: “toda nova tecnologia tem que começar de algum lugar”. Isso também vale para a tela.

Dá para esperar avanços nas próximas versões? Dá. Mas, por ora, quem comprar um Galaxy Z Flip (ou outro dobrável) estará se aventurando em um segmento ainda cercado de incertezas.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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