Uma lembrança feliz dos meus tempos de infância eram as partidas de Imagem e Ação. Cresci vendo meus pais reunindo-se ao redor da mesa da sala de jantar, berrando ensandecidamente diretamente na cara dos amigos e rodopiando uma ampulheta cheia de um pó azul que eu acreditava ser Omo Multiação.

Eu era muito novo quando meus pais jogavam Imagem e Ação com os amigos, mas a ideia de um jogo que revertia meus pais de sua condição magnânima de adultos sérios a uma cambada de crianças berrando umas com as outras me deixava intrigadíssimo. Só alguns anos mais tarde é que vim a experimentar o jogo por mim mesmo, com toda a gritaria e inconformação com a inabilidade de seus amigos de desenhar uma raquete de tênis.

Pois bem, esta semana resgatei um pouco daquela nostalgia (incluindo o desgosto com amigos sem habilidade artística!) com o lançamento de Draw Something, um game freemium para iOS e Android.

Draw Something tem dois sabores: uma versão gratuita suportada por propagandas, e uma versão sem banners por 99 centavos de dólar. Primeiro, você cria um login no jogo ou acessa usando suas credenciais do Facebook. Em seguida, é só sair buscando partidas (seja com amigos ou internautas desconhecidos).

O jogo funciona de forma bastante simples: primeiro, você deve escolher uma de três palavras. A mais simples (termos fáceis de serem desenhados, como “mão”) o recompensará com uma moeda, a intermediária (às vezes verbos, como “chorar”) com duas, e as difíceis (ideias abstratas ou pessoas, como “Brad Pitt”) com três moedas.

Você desenha as palavras pro amigo, e se ele as acertar, você ganha as moedinhas. O jogo é assíncrono, ou seja: você faz a sua jogada e envia ao seu amigo. Ele recebe-a via uma notificação do tipo push, e dará atenção a ela quando tiver tempo. É o método perfeito para se jogar um game numa plataforma móvel como o celular, entre um intervalo de aula ou sorrateiramente durante uma reunião no trabalho.

E aí entra o seu talento artístico: os melhores desenhistas produzem ilustrações mais fidedignas, e portanto recompensam o cartunista amador com mais moedas.

Pra que as tais moedas, você talvez me pergunte…? Aí entra o esquema freemium da parada.

Digamos que  aquelas três palavras que o jogo ofereceu ultrapassam os limites da sua habilidade como desenhista de touch screen.

 

O botão “Get New Words” substitui as três palavras por outras que sejam, ou pelo menos é o que você espera, mais compatíveis com seu nível de orientação artística. Para isso, você gasta “bombas”. As bombas são compradas com as tais moedinhas e, se você for impaciente, pode simplesmente comprar as moedinhas como dinheiro de verdade, bem nos moldes de Farmville e Colheita Feliz.

As bombas e as moedas também servem outro propósito, aliás.

 

O jogo oferece uma seleção de 12 letras, dentre as quais encontram-se as que resolvem a charada desenhada por seu amigo. Se seu amigo tem as habilidades artísticas de uma lesma (e, portanto, as 12 letras não afunilam suficientemente a possível combinação de letras que solucionarão o desenho), você pode usar uma bomba para eliminar algumas letras sobressalentes e assim, talvez, facilitar a charada.

Já as moedas servem para comprar novas cores com as quais fazer os desenhos. Você começa com uma aquarela vitual bastante limitada que te obrigará nos primeiros jogos a desenhar árvores com troncos pretos por exemplo. Por algumas moedinhas (na verdade, MUITAS), você pode expandir sua paleta comprando pacotes de cores novas. O jogo é arquitetado de forma que motiva o jogador impaciente a simplesmente comprar as moedinhas. Com partidas rendendo no máximo três moedas, e pacotes de cores custam centenas delas, até entendo um pouco os apressados.

Felizmente, o jogo oferece diversão o suficiente mesmo que você não queira apelar pra essas microtransações.

Após seu amigo adivinhar seu desenho, você pode assistir as tentativas dele conforme elas aconteceram à medida que o desenho foi sendo feito, o que é um exercício interessante (embora prolongue um pouco a duração de cada partida).

Pros nerds com mania de quantificar as coisas (ou seja: eu), o jogo oferece até uma tela de estatísticas pra cada partida.

 

Em resumo, Draw Something é fenomenal. Há o apelo às lembranças nostálgicas de jogos similares de adivinhação baseada em desenhos, a apresentação e a interface do game são praticamente perfeitas, e a implementação de multiplayer assíncrono o transforma no joguinho ideal pra matar tempo em situações em que não se tem tanto tempo assim para matar.

Não é à toa que o jogo disparou nas listas de games mais populares, tanto na App Store (app gratuito e pago) quanto no Android Market/Play (app gratuito e pago). Curiosamente, ontem eu estava no trabalho ajudando uma cliente (tendo acabado de jogar minhas partidas no Draw Something) quando a vejo puxando o celular e jogando uma partida também. Nunca experimentei tal momento com nenhum outro jogo.

A única desvantagem do jogo realmente é que ele me fez descobrir que alguns amigos são absolutamente incapazes de desenhar as coisas mais simples, como uma rede ou uma tartaruga, o que invariavelmente reduziu um pouco meu apreço por eles.

Bastava apenas um amigo irritante tentando adivinhar repetidamente a mesma palavra e o retorno àquelas partidas de Imagem e Ação estaria completo!

Receba mais sobre Draw Something na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Izzy Nobre

Izzy Nobre

Ex-autor

Israel Nobre trabalhou no Tecnoblog entre 2009 e 2013, na cobertura de jogos, gadgets e demais temas com o time de autores. Tem passagens por outros veículos, mas é conhecido pelo seu canal "Izzy Nobre" no YouTube, criado em 2006 e no qual aborda diversos temas, dentre eles tecnologia, até hoje.

Relacionados