Samsung Galaxy S III, um Android difícil de ser superado

Rafael Silva
Por
• Atualizado há 11 meses
Galaxy S III e sua nada monstruosa tela | Clique para ampliar

Em meados de outubro de 2010 eu testei o primeiro Galaxy S, que foi lançado aqui no Brasil com TV Digital. Em agosto de 2011 testei o Galaxy S II pouco depois dele aparecer no país. Então quis testar o Galaxy S III assim que ele foi lançado no mercado brasileiro – isso me custou o iPhone 5 -, para saber em que pontos ele é melhor do que seus anteriores e a concorrência e também onde a Samsung ainda escorrega. E foi o que eu fiz.

A terceira geração do Galaxy S da Samsung vem com um processador quad-core de 1,4 GHz, tela de 4,8 polegadas de Super AMOLED e uma câmera de 8 megapixels, dentre outros componentes. E esse hardware poderoso acompanha a última versão do Android, o Ice Cream Sandwich. Passei uma semana com o Galaxy S III e você confere abaixo minhas impressões sobre ele.

Design e pegada

O slogan do Galaxy S III é “designed for humans”. Não sei que tipo de humano eles se basearam para criar esse modelo, mas eu chuto que deve ter sido um com a mão bem grande. A tela desse aparelho faz com que ele chegue perigosamente perto do campo de foblets, onde se encaixa o irmão maior Galaxy Note, mas ainda é pequeno o bastante para ser segurado com uma mão sem perder a firmeza.

A receita de bolo que a Samsung estabeleceu para seus aparelhos Galaxy S é seguida aqui novamente. Só dois botões sensíveis ao toque na frente, separados por um botão físico no meio, para a home. Na parte superior frontal, a câmera e os sensores de luminosidade. Nas laterais ficam os botões de ligar/desligar e os controles de volume. Acima do aparelho a saída de fone de ouvido mais um microfone para captura de áudio no modo de gravação de vídeo e abaixo a saída microUSB e o microfone padrão.

Dito isso, o plástico com que ele foi construído me pareceu pouco resistente e barato. A lateral do aparelho, que deduzi ser de metal antes de pegar na mão pela primeira vez, na verdade é de um plástico que imita metal escovado. A versão azul, que só tive a chance de ver mesmo na linha de produção da Samsung em Manaus, parece ter um acabamento melhor, mas não consegui pegar em um aparelho para testar.

O Galaxy S III é um aparelho que até achei bonito, apesar de ser apelidado de “saboneteira”. Mas o material de que ele é feito e o seu acabamento poderiam ser melhores.

Tela e interface

Suas generosas 4,8 polegadas de tela Super AMOLED com 1280×720 pixels de resolução fazem do Galaxy S III um excelente aparelho para assistir vídeos, navegar na web e, principalmente, jogar Fruit Ninja. A tela invariavelmente vai atrair marcas de dedos e a oleosidade do rosto se você faz muitas ligações, mas já é algo que estamos acostumados em aparelhos touchscreen. Também testei a tela abrindo uma página em branco tanto nele como num iPhone 4S, ambos com o brilho no máximo. E o Galaxy S III ficou com um estranho tom meio azulado.

Galaxy S III tem um branco mais azulado

O Android 4.0 Ice Cream Sandwich é bem escondido aqui pela Samsung com a interface TouchWiz Nature UX. A experiência pode não ser a do Android puro, mas não é necessariamente ruim. Ao longo dos anos a Samsung foi aperfeiçoando o TouchWiz com base no feedback (possivelmente, as várias reclamações) dos usuários e eu posso dizer que hoje ela atingiu um nível razoável.

Um bom exemplo disso é o conjunto de movimentos personalizados que o Galaxy S III tem. Levar o aparelho ao ouvido com uma SMS aberta, por exemplo, vai ligar para a pessoa que enviou a mensagem. Já cobrir a tela com a mão pausa qualquer conteúdo multimídia, assim como virar o aparelho de tela para baixo. Ou ainda capturar a tela deslizando a mão sobre o aparelho. São pequenos detalhes assim que podem fazer a interface personalizada ajudar mais do que atrapalhar o usuário.

Ainda existem vários elementos que você não vai usar, como o widget de Promoções Samsung, Game Hub ou o S Sugest, que ocupa quase a tela inteira com sugestões de aplicativos, mas todos podem ser facilmente desativados. O que não pode ser desativado são os irritantes avisos de novos movimentos. Um usuário leigo vai gostar de treinar os novos movimentos, mas quem já usa Android há algum tempo não quer ver os avisos.

Por sinal, o tema padrão aquático do Galaxy S III, em que a tela de desbloqueio mostra ondas quando o dedo desliza e faz sons de gotas d’água em qualquer botão. Depois de um tempo uma das duas coisas acontece: ou você se enjoa ou se acostuma com eles. A primeira opção foi o que aconteceu comigo, então deixei o aparelho constantemente no silencioso.

Sincronização e multimídia

O Galaxy S III é mais um dos aparelhos da Samsung compatível com o Kies, seu programa de sincronização. Mas dizer que esse aparelho quer roubar usuários do iPhone é subestimá-lo. Depois de instalado, o programa detecta automaticamente se você tiver um diretório com o iTunes e importa toda a sua coleção multimídia sem proteção DRM. Além disso (e essa é bem mais cara de pau), assim que um aparelho da Samsung é conectado o programa procura por um backup de iPhone e oferece a opção de automaticamente importar tudo para o celular.

E foi exatamente o que eu fiz para testar o Galaxy S III. A importação funcionou sem falhas (para o horror da Apple). Mas ele ainda tem que melhorar no que diz respeito à organização de arquivos dentro do aparelho. Embora o programa permita que sejam sincronizados podcasts, músicas, vídeos e filmes, ao enviá-los para o Galaxy S III, eles ficaram todos embutidos em uma só categoria. Não há um setor para podcasts ou um apenas para filmes. Por vezes, ao escolher a opção de tocar músicas no modo aleatório, um episódio de podcast aparece.

Tendo você escolhido o programa de sincronização da Samsung para importar seus arquivos de mídia ou optado pela rota mais arcaica de jogar os arquivos dentro do aparelho no modo de armazenamento, a experiência vai ser a mesma: rápida e bem fluída. Nas configurações é possível escolher um volume específico para mídia e outro para o toque, então você não precisa tirar o celular do silencioso para ouvir música no alto-falante. Mas por favor, não faça isso, ele é absurdamente potente.

Vídeos em alta definição tocaram sem uma engasgada sequer e foi possível até incluir legendas neles. E ainda existe a opção de destacar o vídeo e continuar a mexer no aparelho com ele na tela, em qualquer canto que o usuário quiser. O áudio também não desaponta e foi compatível com os dois formatos de música que joguei nele, MP3 e AAC, mostrando também as ID3 tags e capas de álbuns.

Em suma, quem está comprando um Galaxy S III pelas suas funções multimídia não tem a menor chance de ficar desapontado. Mas se usar o Samsung Kies para transferir conteúdo, pode ficar um pouco perdido.

Câmeras

Os 8 megapixels do Galaxy S III vão ser mais que suficiente para a maioria dos seus usuários. Eu imagino que quem quer comprar um aparelho pela câmera já sabe que o Xperia S oferece 12,1 megapixels, por exemplo. E embora o mais novo Galaxy da Samsung continue não oferecendo um botão físico para a câmera, e isso seja bastante irritante, ele tenta compensar em software. O foco é regulável, existem vários modos de cena para escolher e até filtros embutidos na própria câmera.

O reconhecimento facial e a possibilidade de taguear amigos logo após tirar uma foto também são diferenciais interessantes do Galaxy S III. Esse aparelho também tem um modo que captura 20 fotos em sequência, para aqueles eventuais momentos em que algo rápido está acontecendo, ou ainda 8 fotos para escolher a melhor delas de acordo com a localização dos rostos dos amigos e outros fatores, que também ajudam a aproveitar melhor a câmera.

Em termos de vídeo a qualidade é boa e sem muita granulação perceptível. Para um celular que grava em 1080p (fullHD), é uma qualidade decente, como você pode ver abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=qeIVMGEDJ90


(Vídeo no YouTube)

Conectividade, qualidade de chamada e acessórios

O aparelho é compatível com as redes HSPA+ das operadoras brasileiras, então se você contrata o plano 3GMax da Claro ou 3GPlus da Vivo, vai navegar à incrível velocidade de até 6 Mbps. Ok, não é muito, mas é o que tem para hoje no Brasil. Além disso, o aparelho também vem com suporte a DLNA, Bluetooth 4.0 (compatível com diversos acessórios), NFC e Wi-Fi Direct.

A qualidade de chamada é o que você já espera de um aparelho do cacife do Galaxy S III, um áudio nítido mesmo com o volume no médio e em uma região cheia de gente. Os fones de ouvido incluídos com o Galaxy S III provam que a Samsung tem ouvido (pun intended) reclamações dos seus clientes. Eles estão bem melhores desde o Galaxy S II e mesmo sendo intrauriculares, não incomodam tanto quanto antes. Os fones também ganharam um upgrade: os botões agora também pulam e pausam a música no lugar de apenas atender chamadas.

Aqui no Brasil a Samsung prometeu no lançamento vender uma case especificamente para esse modelo, além de cabos para conexão a TVs, canetas stylus, docks para carro e vários outros. Mas o mais interessante mesmo, o carregador sem fio, não tem data para chegar no mercado.

Aplicativos embutidos

Como não podia deixar de ser, o Galaxy S III vem com uma leva de aplicativos de utilidade duvidável. O ChatOn, serviço concorrente do Whatsapp, criado pela Samsung, não tem exatamente uma grande base de usuários para justificar seu uso. Mas também há um aplicativo de notas para desenhar e escrever lembretes, o de calendário e um para mostrar outros aplicativos e serviços da própria Samsung que podem ser instalados no aparelho. E foi uma boa a empresa ter embutido os demais nesse aplicativo no lugar de encher o aparelho de coisas potencialmente pouco úteis.

Outro aplicativo embutido no aparelho é o S Beam, que serve para transferir arquivos entre… usuários do Galaxy S III. É um público bem restrito, admito, mas não deixa de ser útil. Ele se conecta via NFC para reconhecimento mútuo dos aparelhos e faz a transferência de arquivos via Wi-Fi direct. Nos testes com um amigo, foi possível transferir fotos e vídeos de maneira bem rápida. Mas a quantidade de vezes que você vai usar isso dá para contar nos dedos.

O Android Beam também está embutido, no caso dos usuários desse aparelho encontrarem outro smartphone que não seja da Samsung e tenham a versão mais nova do Android.

S Voice

O conhecido assistente virtual da Samsung não iria chegar com o aparelho ao Brasil, por conta da falta do suporte ao português. Mas um dos nossos leitores que comprou o Galaxy S III afirmou que era possível baixá-lo direto do Samsung Apps, a loja própria da empresa, algo que nós confirmamos pouco depois. Ele é, portanto, bem fácil de instalar, tornando desnecessário o acesso root ou ativar a instalação a partir de fontes desconhecidas.

S Voice instalado no Galaxy S III

Usá-lo já são outros quinhentos. Compatível com inglês, espanhol e alguns outros idiomas, o S Voice teimava em não funcionar direito na maioria das vezes que testei, mostrando o conhecido “Network error”. E sim, a Samsung afirmou que ele ainda não está pronto para o Brasil, mas achei que seria bom mostrar ao menos como ele funciona no aparelho, já que isso é uma das suas principais características.

Quando funcionava, o S Voice fazia o que era proposto muito bem. Abrir aplicativos, criar rotas em direção a locais, desativar certos itens de conectividade, criar alarmes e pesquisar na web, dentre outras, foram tarefas executadas de forma bem rápida. Com o S Voice a Samsung criou um bom concorrente ao Siri, mas é uma pena que usuários do aparelho no Brasil (que não estão bem informados) vão ficar sem experimentar essa funcionalidade mesmo que em outro idioma.

Bateria

O conjunto de tela enorme e processador quad-core pode gastar bastante energia, mas a Samsung conseguiu fazer com que a bateria acompanhasse esse hardware. Com uso moderado, que inclui navegação esporádica na web via 3G e WiFi por um total de 2 horas, 1 hora de vídeo no Netflix, playback de 2 vídeos de 40 minutos em 480p e 30 minutos de jogos, a bateria chegou a 21%. Com uso intenso, com 3 horas de navegação web, 2 horas de vídeo no Netflix, 1 vídeo de 40 minutos em 720p e 1 hora de jogatina, 15% de bateria restavam. E ele ainda dispõe de uma opção para economizar bateria em casos extremos.

Os dois exemplos de autonomia que citei acima podem ser bem razoáveis para o que o Galaxy S III oferece, mas o que me impressionou mesmo foi que ele consegue durar mais de um dia com o meu uso normal de um final de semana. Ao todo, ele durou 23 horas antes de pedir arrego com 15% de bateria. E tudo o que fiz foi desconectá-lo da tomada de manhã, colocar no bolso e fazer com ele tudo o que faria com o iPhone, que inclui conferir redes sociais esporadicamente. Só notei que ele havia chegado aos 15% na manhã seguinte. Veja aqui a captura de tela desse ciclo da bateria.

Pontos negativos

  • S Voice ainda não funciona no Brasil;
  • Versão branca tem acabamento que parece barato;
  • Aplicativo de sincronização ainda não é ideal.

Pontos positivos

  • Processador rápido que deixa a interface fluída;
  • Bateria duradoura;
  • Expansão por microSD.

Conclusão

Não há dúvidas, o Galaxy S III da Samsung é o melhor celular com Android do mercado brasileiro. Embora alguns aparelhos vendidos por aqui tenham planejada uma atualização para o Android Ice Cream Sandwich e só então fiquem ao mesmo nível dele, não há um que ofereça performance comparável no conjunto processamento, bateria e tela.

Um deles é o Xperia S, que se viesse com o Android 4.0 competiria bem ao menos na câmera, embora a falha dos botões pouco sensíveis ainda seja uma grande desvantagem. Lá fora, o HTC One X até bate de frente com o S III, mas já sabemos que ele não vai mais vir ao Brasil mais. O Optimus 4X HD da LG também tem potencial, mas não sabemos se ou quando chega ao país. E quem quiser um conjunto de tela, bateria e processador um pouco menos poderoso mas com a experiência Android pura, já sabe que o Galaxy X (Nexus) existe e está à venda há algum tempo.

Galaxy S III: vai continuar sendo o melhor Android do Brasil por um tempo | Clique para ampliar

O problema é que ter o melhor Android do mercado brasileiro custa caro. Por R$ 2,1 mil na sua edição de 16 GB, o Galaxy S III parece ser um aparelho perfeito para atrelar clientes de operadoras a contratos de 1 ano e caros planos mensais. E embora a empresa já tenha dito que planeja montá-lo aqui (e a montagem já está acontecendo), não há uma data para quando os preços devem cair.

O Galaxy S III vale a pena, então, para quem não se importa em pagar caro pelo melhor. Ou para aqueles que querem migrar de outra plataforma móvel e ver o que o Android tem a oferecer em conjunto com o hardware do Galaxy S III, que não é pouco. Mas ele ainda não justifica o upgrade os donos do Galaxy S II, principalmente com a atualização para o Android 4.0 chegando aí. Talvez com o suporte em português ao S Voice ele passe a valer a pena, mas é melhor esperar nesse caso.

Um conselho final que dou àqueles que decidirem comprar esse aparelho: garimpem em lojas por qualquer versão que não seja a branca. Se essa for a sua única escolha, já se prepare mentalmente para os inevitáveis arranhões que vão aparecer na traseira do seu Galaxy S III.

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Rafael Silva

Rafael Silva

Ex-autor

Rafael Silva estudou Tecnologia de Redes de Computadores e mora em São Paulo. Como redator, produziu textos sobre smartphones, games, notícias e tecnologia, além de participar dos primeiros podcasts do Tecnoblog. Foi redator no B9 e atualmente é analista de redes sociais no Greenpeace, onde desenvolve estratégias de engajamento, produz roteiros e apresenta o podcast “As Árvores Somos Nozes”.

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