Google tem parcela de culpa nos mapas do iOS 6 (e outras observações pertinentes)

Rafael Silva
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• Atualizado há 6 dias

Enquanto o iOS 6 ainda estava em beta, os mapas não estavam lá muito bons mas isso foi atribuído ao estado de testes do sistema. Quando finalmente foi liberado para download, os ditos mapas viraram motivo de piada pela sua qualidade pouco comparável com o anterior. E embora o aparente despreparo da Apple com esse recurso do iOS seja mais evidente, existe outra empresa com quem a parcela de culpa pode ser dividida: o Google.

As restrições da API do Google Maps

Um post do ArsTechnica datado de julho desse ano, pouco depois da liberação do primeiro beta do iOS 6, disserta sobre a retirada do Google Maps no sistema móvel. O motivo era claro: o instinto da Apple é querer inovar, mas eles foram impedidos pelas restrições da API do Google Maps. Especificamente citando o item 10.2, em que a gigante da web proíbe a criação de aplicativos de navegação curva-a-curva.

Navegação no Google Maps? Só o Google pode.

É natural que o Google restrinja certas funcionalidades dos seus serviços, dessa forma apenas ele mesmo pode oferecer certos aspectos. E é exatamente isso que a empresa faz: no Android, o Google Maps já oferece há algum tempo os mapas 3D e existe até um aplicativo específico de navegação, que mostra rotas curva-a-curva. O quanto isso vai de encontro ao mantra “Don’t be evil” é questionável, mas uma empresa tem que fazer dinheiro de alguma forma – algo que também foi mostrado no final do ano passado, quando o Google anunciou que o acesso excessivo às APIs do Google Maps seriam cobrados.

Outra coisa que o Ars aponta, e que é mais óbvia, é que a Apple poderia ter criado um acordo com o Google para que os termos de uso da API do Maps não se aplicassem no seu caso, mas nenhuma das duas vai revelar se esse acordo foi fechado ou não. Meu chute é que a Apple, provavelmente assustada com as enormes cifras pedidas pelo Google para fechar o acordo, seguiu com seu plano de trazer direções curva-a-curva no maps do IOS 6 por conta própria – e para tal, fechou parceria com a fabricante de GPS TomTom.

Apple foi às compras

A tática da Apple sempre foi contratar as melhores pessoas ou comprar as melhores empresas da área em que precisa. E foi exatamente o que ela fez nos últimos anos. Os mapas 3D que a empresa exibe hoje são obra da C3 Technologies, comprada ano passado. A implementação dos mapas foi certamente auxiliada pelos funcionários da Poly9, empresa especializada em serviços de mapas para web comprada em 2010. E em 2009 a empresa comprou a Placebase, que criou um serviço similar ao do Google Maps.

O problema é que no caso específico da área de mapas, a tática pode ser falha. Ao menos comparando com a tática que tem dado certo com o Google. Em junho desse ano, o Business Insider conversou com funcionários do Google que revelaram quantas pessoas estão ligadas ao serviço de mapas: 7,1 mil. Desse total, mil são funcionários próprios da empresa e o restante terceirizados. São mais de sete mil pessoas trabalhando em apenas um serviço. Em comparação, a Apple tem 13 mil funcionários e não pode se dar ao luxo de dedicar metade deles para um serviço (e talvez por isso estão atrás de mais cabeças).

Uma demonstração do que a empresa da maçã planejava foi mostrada em maio, quando uma atualização do aplicativo iPhoto trouxe informações do OpenStreetMaps.org para mostrar dados de geolocalização das fotos. Desde então, a Apple tem seguido o caminho que estabeleceu ao comprar as empresas de mapas: criar e implementar sua própria solução.

Só que o que parece ser o ideal no caso de mapeamento é mesmo quantidade e não qualidade. No caso, mais pessoas corrigindo os vários aspectos errados dos mapas, implementando novos recursos e fazendo isso de forma rápida o bastante. E é disso que a Apple precisa se tocar.

Mapas tendem a melhorar, mas só reclamar não ajuda

Sim, eles estão um pouco ruins agora com locais inexatos, imagens destorcidas e direções ainda confusas. Mas eles tendem a melhorar de acordo com o uso. Foi o que disse um porta-voz da Apple para o All Things D, que pediu paciência aos usuários do iOS 6. Mas uma parte importante que pouca gente notou é que ele disse que vai melhorar “de acordo com o feedback dos usuários”. Assim como os usuários do Google Maps podem relatar problemas, existe a opção “Report a problem” nos mapas do iOS 6.

Basta tocar nessa opção, selecionar o tipo do erro e seguir os passos na tela.

Uma pessoa familiarizada com a situação (e que por motivos óbvios, preferiu ficar anônima) afirmou ao Tecnoblog que os mapas para o iOS 6 recebem atualizações quase que diárias, então a Apple está trabalhando neles. Obviamente nós não vemos onde aconteceram essas atualizações já que é do lado dos servidores dos mapas que ela está, mas a fonte afirmou que há um registro que indica as datas das alterações, e elas estão acontecendo quase que diariamente.

Tudo ao mesmo tempo agora

Jobs explica um caminho usando o iOS 6

A minha impressão é de que enquanto a Apple não fizer um esforço maior, ainda vai demorar até os mapas ficarem pau a pau com os do Google. Mas é bom lembrar que eu sou (e para o bem da verdade, muita gente que está reclamando dos mapas também é) um completo ignorante no que diz respeito a mapeamento de locais – então pode ser tanto um processo rápido ou pode ser lento e demorado, é algo que depende da empresa responsável. Podemos até viver num planeta que “apenas” 28,89% da superfície é terra firme, mas isso não faz dessa área menos difícil de ser mapeada.

Fato é que enquanto os mapas do iOS 6 não melhorarem, os usuários vão reclamar, criar tumblrs engraçados e nomear os problema de mapas com os mais diversos apelidos, como iOSmapocalypse, Cartogeddon ou Navi-gate. E a Apple vai continuar no seu pedestal, embrulhada pelo seu campo de distorção da realidade, fingindo que nada está acontecendo mas ao mesmo tempo trabalhando duro por trás dos panos para melhorar a qualidade dos mapas. E nenhuma das atitudes ajuda muito.

De qualquer forma, quem quer uma solução mais rápida para o problema dos mapas, tem atualmente três opções: usar o web app do Google Maps (em m.maps.google.com), voltar para o iOS 5 (como já relatei que é possível) ou acreditar na improvável chance de que a Apple descobrirá um baú de tesouro com todo o mapeamento do mundo já pronto para ser implementado nos seus servidores.

No caso da terceira opção, temos que torcer para que eles não usem os mapas do iOS 6 para tentar encontrar tal baú.

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Rafael Silva

Rafael Silva

Ex-autor

Rafael Silva estudou Tecnologia de Redes de Computadores e mora em São Paulo. Como redator, produziu textos sobre smartphones, games, notícias e tecnologia, além de participar dos primeiros podcasts do Tecnoblog. Foi redator no B9 e atualmente é analista de redes sociais no Greenpeace, onde desenvolve estratégias de engajamento, produz roteiros e apresenta o podcast “As Árvores Somos Nozes”.

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