Nota da Redação: Você lerá a seguir o último texto do Izzy Nobre como colunista. Depois de alguns bons anos, nós chegamos à conclusão de que era hora de deixar ir. Obrigado, Izzy, pela sua participação por aqui. Boa sorte nos novos desafios! (Thássius Veloso)

Personagens de videogame são, de certa forma, como amigos. Nós nos conhecemos às vezes sem sequer ir muito com a cara deles. Com o passar do tempo, o convívio, as experiências compartilhadas juntos, você acaba gostando do sujeito. Ele pode até te causar raiva às vezes (“Pula, desgraçado! Eu tenho certeza que apertei X na hora certa, que droga!”), e como todo amigo de verdade, você pode passar até um bom tempo sem vê-lo, mas eventualmente o cara surge com uma história nova pra te contar (mesmo que só via DLC) e você retoma a amizade exatamente do ponto onde parou.

Só que, como amigos, os personagens dos videogames às vezes nos dizem adeus também. Temos os personagens perenes, aqueles longos amigos de infância que tudo indica que jamais nos abandonarão (os Marios, os Links, os Solid Snakes e por aí vai). Por outro lado, temos personagens que sumiram da nossa vida sem sequer dar um adeus bem definido – sem um jogo definitivamente final, que deixe claro que é sua última aventura com ele.

É o caso com…

Carmen Sandiego

Onde ela está?

Onde ela está?

Carmen Sandiego era a vilã da série de jogos educativos de mesmo nome. O primeiro da série, originalmente para o Apple II mas com lançamento pra DOS nos anos seguintes, é um que muitos de nós conheceram na escola: Where in the World is Carmen Sandiego?, um joguinho de aventura em que os gamers caçam ladrões internacionais usando como pistas dicas sobre a geografia e cultura dos países por onde os criminosos vão passando (além de ter que também emitir mandados de prisão baseando-se nas descrições que ouvem dos suspeitos).

O sucesso dos games foi tamanho que houve até um desenho animado baseado na série, que passou no Brasil nos anos 90. Não se lembra? Olha aí embaixo.

A série rendeu dezessete jogos, pra diversas plataformas, todos com a mesma pegada educativa. O último jogo legítimo da série (que sofreu com um orçamento menor do que um churrasco de domingo, pelo que noto nos vídeos de gameplay) chamou-se Where in the World Is Carmen Sandiego? Treasures of Knowledge. Ele saiu em 2001 e parece um pouco mais com os adventures point and click mais tradicionais – que já estavam perdendo fôlego por essa época. Além disso, o mercado educacional de games não é lá essas coisas todas, então é fácil entender porque a série definhou.

Eu disse que “World Is Carmen Sandiego? Treasures of Knowledge” é o último jogo “legítimo” da série porque em 2011 rolou um remake de Facebook do jogo original. Só que remake não conta, e jogo de facebook é fim de feira, né? Especialmente com esse ressurgimento dos point and click adventures.

Jazz JackRabbit

jazz-jackrabbit

Jazz Jackrabbit era uma resposta dos PCs a jogos de plataforma, que até então tinham trono garantido nos consoles mas não encantávam a galera micreira (lembra desse termo?). E eu não fui o único a achar que o game se inspirava bastante em Sonic: numa época de animais antropomorfizados que serviam como sinônimo visual de plataformas, não faltou gente que alegava que Jazz Jackrabbit seria o mascotes dos PCs. E graças à velocidade do Jazz, comparações com o Sonic eram realmente inevitáveis.

O jogo foi quase inteiramente programado na casa da mãe do seu desenvolvedor, um garoto até então desconhecido chamado Cliff Bleszinski. Sim, o próprio co-criador da série Gears of War. Quase caí da cadeira quando descobri isso alguns anos atrás.

O coelho verde apareceu na continuação do jogo, e num port lamentável pro Game Boy Advance. Olha a capa deste negócio, um elemento do produto que deveria ter o esmero ímpar, aquele que deveria supostamente atrair um jogador:

Também no GBA

Também no GBA

Mais genérico e sem inspiração, impossível. Tanto que matou o personagem, que não teve mais nenhum game desde então.

Ben 

"Faz tempo que não o vejo". Sei como você se sente, Ben.

“Faz tempo que não o vejo”. Sei como você se sente, Ben.

Com uma perene expressão de quem acabou de chupar limão com sal, uma barba por fazer e uma atitude geral que não o torna exatamente mocinho nem bandido da história, Ben praticamente apresentou toda uma geração aos jogos adventure. E é uma pena que ele ficou só em um jogo: Full Throttle: Payback foi anunciado em 2000 e cancelado no ano seguinte. E em 2002, a LucasArts anunciou Full Throttle: Hell on Wheels. Digo com convicção que é até uma boa que o jogo não foi pra frente, porque aquele aspecto de que foi feito por calouro de faculdade de animação digital envelheceu muito mal. Sem contar nessa pegada “personagens descoladões de filmes da DreamWorks”, que zoa completamente o ambiente e o espírito do primeiro jogo.

E pra fechar o caixão de vez (literalmente), Roy Conrad (o ator que fazia a voz do Ben) faleceu no mesmo ano em que Hell on Wheels foi anunciado. Oficialmente de câncer, mas prefiro acreditar que foi por desgosto daquele trailer. E por isso, pra sempre teremos a presença do Ben em apenas um jogo. Pelo menos, é um jogo sensacional, que por outro lado aumenta a sensação de potencial desperdiçado do personagem. É tipo quando um músico muito bom morre após gravar só um álbum.

Até mais

Antes de encerrar o texto de hoje perguntando a você que outros personagens de games deram adeus pra gente, chegou a minha vez de fazer o mesmo. Pessoal, é hora de tocar a bola pra frente, e então, após quatro incríveis anos na lista de escritores do Tecnoblog, este é meu último texto aqui. Meu período como colunista do TB foi ímpar pro meu crescimento como profissional da internet; foi de fato uma das primeiras oportunidades que recebi que legitimaram minha ocupação como “problogger”. Não apenas isso, mas muitas das oportunidades que recebi em seguida vieram justamente por causa do meu envolvimento com este site.

Sentirei falta de fazer parte deste que é um dos maiores sites brasileiros de tecnologia, e sentirei falta de poder me comunicar com vocês através de um site tão prestigioso. Já começo a sentir falta agora, aliás. Desejo sucesso para o resto da equipe.

Ah! Se quiser continuar acompanhando meu trabalho, você pode me encontrar no meu site, o Hoje é um Bom Dia, no meu canal do YouTube e no Twitter. Um grandissíssimo abraço a todos e continuem jogando 😉

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Izzy Nobre

Izzy Nobre

Ex-autor

Israel Nobre trabalhou no Tecnoblog entre 2009 e 2013, na cobertura de jogos, gadgets e demais temas com o time de autores. Tem passagens por outros veículos, mas é conhecido pelo seu canal "Izzy Nobre" no YouTube, criado em 2006 e no qual aborda diversos temas, dentre eles tecnologia, até hoje.

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