Testamos o Google Glass

Como o público reage ao ver alguém usando os óculos inteligentes do Google?

Gus Fune
Por
• Atualizado há 11 meses

Há alguns meses, tive a surpreendente notícia de que havia sido um dos selecionados para participar do programa Glass Explorer do Google, e muitos acharam que era primeiro de abril. Os participantes sortudos receberiam convites para serem os primeiros a testar o novo brinquedo vários meses antes do lançamento. No mês passado, fui até o escritório do Google em Los Angeles retirar o gadget para fechar a cobertura da E3 com chave de ouro.

O autor se recusou a tirar a primeira foto no espelho fazendo duck-face.
O autor se recusou a tirar a primeira foto no espelho fazendo duck-face.

A preparação

Foi numa quinta-feira, dia de gravação de um episódio do Tecnoblog Podcast, que chegou a mensagem no Twitter avisando que chegou minha vez para finalmente entrar no programa Glass Explorer. Como nada no mundo é de graça, existe um preço para retirar o Glass: contando os impostos, cerca de US$ 1.600 (aproximadamente R$ 3.640).

Preço um tanto salgado para um gadget, mas dentro da realidade brasileira que paga mais de R$ 2.000 num iPhone, certo? Optei em pagar porque meu interesse não é apenas ser mais um early-adopter, mas também poder produzir logo de início aplicativos para a plataforma.

Feito o pagamento pelo Google Wallet, o sistema libera um agendamento com a escolha de um dos três locais de retirada: Los Angeles, Nova York ou a sede do Google em Mountain View. Escolhi Los Angeles por já estar com a viagem agendada para a cidade. Com a confirmação em mãos, agora era só aparecer no escritório da empresa em Venice Beach para entrar no mundo desse weareable.

A retirada

Ao chegar ao escritório do Google, fui recebido por uma das pessoas do time e apresentado às cinco cores disponíveis no Glass XE (Explorer Edition). Mantive minha escolha na cor Slate, que me lembra grafite, e daí sentamos em uma mesa para aprender a usar o gadget.

A primeira coisa a fazer é ligar o Glass e colocá-lo. Logo vem a surpresa: o dispositivo é muito mais leve do que aparenta. Ele fica fixo e preso no rosto perfeitamente e o prisma está em uma área do campo de visão que não atrapalha o foco.

A configuração é feita de forma simples. Ao logar na página do Glass pela minha conta do Google, é necessário fazer o cadastro da rede Wi-Fi na qual os óculos vão se conectar. As informações do Wi-Fi podem estar em formato de QR Code – ao apontar o Glass, ele lê, entende e se conecta à rede.

Os primeiros comandos

Caixa com alguns acessórios do Glass. Cabo USB, carregador e papéis informativos.
Caixa com alguns acessórios do Glass. Cabo USB, carregador e papéis informativos.

Além do Wi-Fi, o Glass pode se conectar a um smartphone iOS ou Android via Bluetooth. Com isso, é possível usar o plano de dados 3G ou 4G quando você não tiver nenhuma rede Wi-Fi ao alcance. Algumas funcionalidades, como navegação GPS e compartilhamento da tela do Glass, só funcionam com o aparelho conectado a um celular, e no momento apenas Android.

Após feitas as configurações, é hora de aprender a usar o aparelho. Os primeiros comandos aprendidos são os de toque, feitos na haste lateral da esquerda do Glass. Swipe para baixo: cancelar; swipe para os lados: navegar; um toque: confirmar ou selecionar.

Aprendidos os comandos de toque, vamos navegar pelo Glass. Um toque na lateral e o prisma exibe a tela padrão inicial: um mostrador da hora atual e os dizeres “Ok Glass” abaixo. Ao dizer em voz alta “Ok Glass”, ele troca para uma tela com algumas opções de comando, que são:

  • Gravar vídeo: por padrão ele grava apenas 10 segundos; cabe ao usuário dar um comando extra para continuar gravando por mais tempo.
  • Tirar foto: além do comando por voz, é possível tirar uma foto instantaneamente ao apertar um pequeno botão localizado na parte de cima da haste. Segurá-lo grava vídeo em vez de fotografar.
  • Navegação: é um GPS curva-a-curva ligado ao Google Maps. Ao pedir as direções para algum destino, o Glass passa as instruções via voz e imagem com o mapa no display.
  • Enviar mensagem: função simples para enviar SMS através do celular.
  • Realizar Chamada: o Glass faz uma ligação para algum número cadastrado no sistema ou da lista de contatos do celular. No caso, os óculos funcionam basicamente como um fone de ouvido Bluetooth.
  • Vídeo chamada: é um Hangout do Google+. Quem estiver na chamada não vê o usuário do Glass, mas sim o que ele está vendo.
  • Busca no Google: o nome é autoexplicativo, mas há algumas diferenças em relação a busca normal. Uma delas é a integração com a Wikipédia, que exibe um card com foto e resumo do termo buscado. Na próxima atualização de firmware, prevista para os próximos dias, é esperada uma nova função de navegar na web e acessar páginas normalmente.

Todos os comandos acima são acionados pela voz. Outro ponto que surpreende no Glass: o reconhecimento de frases. Diferentemente de qualquer outro aparelho que tenha testado com essa tecnologia, o Glass foi o que menos teve problemas em entender palavras por conta de sotaque ou pronúncia. Erros quase não existiram.

Glassware: os aplicativos para o Glass

Essa lateral é multitouch e permite controle com os dedos. Na frente, a câmera e o prisma do display.
Essa lateral é multitouch e permite controle com os dedos. Na frente, a câmera e o prisma do display.

Os aplicativos para Google Glass são chamados Glassware. Todos os aplicativos funcionam dentro de pequenos cards com pouco texto e informações. É tudo muito simples e intuitivo. No momento existem muitos poucos Glasswares aprovados pelo Google. Estes são os principais:

  • The New York Times: apenas exibe cards de notícias à medida que elas são publicadas. Também existem aplicativos iguais da CNN e revista Elle.
  • Evernote: possibilita o envio de notas de voz diretamente para sua conta.
  • Facebook: apenas envia fotos.
  • Twitter: envia fotos e exibe replies recebidos em cards individuais, permitindo responder ou retweetar. No momento ainda não é possível enviar um novo tweet diretamente do Glass.

Explorers Program

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Ao receber o Glass, automaticamente minha conta Google foi linkada ao Explorers Program, o programa que reúne todos os proprietários de Google Glass no momento.

O programa inclui acesso a um fórum privado de discussão, onde pessoas compartilham histórias de uso, tiram dúvidas e até sugerem funcionalidades diretamente para o time de desenvolvimento do Glass. O Explorers Program também dá acesso a uma linha de suporte técnico disponível todos os dias da semana e acesso à API Mirror para desenvolvimento de aplicativos.

Reações do público

Sair na rua com um Google Glass na cara é pedir para ser o centro das atenções em alguns lugares. É muito comum as pessoas pararem e me abordarem perguntando o que é esse troço na cara, ou se é mesmo um Glass de verdade. Ir ao bar com Google Glass pode render algumas bebidas de graça, pelo menos nos EUA.

Agora também tem o outro lado. Tem gente que te olha feio e algumas evitam ficar na sua frente. Nem todo mundo fica confortável ao ver uma pessoa com uma câmera no meio da cara. Em uma ocasião, numa festa, reclamaram que eu estava filmando as pessoas, sendo que o display estava apagado.

Outra parte interessante é entregar o gadget para outras pessoas testarem. Algumas não conseguem lidar com a interface e acabam devolvendo o aparelho meio frustradas, mas a maioria que pega a manha se diverte bastante.

Em uma ocasião deixei o Glass com uns amigos no bar e fui sentar na outra ponta da mesa. Ao voltar tinha uma roda inteira revezando o Glass. O motivo? Eles descobriram como usar o Google sem SafeSearch e pesquisar pornografia.

Versão beta

O Glass XE é considerado uma versão beta do Google Glass, que chega em 2014 ao consumidor final, ainda sem preço definido. Dentre algumas melhorias para a versão final do produto está a possibilidade de usar lentes de correção visual (pessoas com problemas de visão podem ter dificuldades para usá-los) e diferentes armações. Outra principal expectativa é a duração da bateria. O Google espera uma autonomia de quase uma semana de uso na versão final, contra apenas oito ou dez horas da versão XE.

A grande pergunta é: o Google Glass mudou a minha vida? Por enquanto, não. Ele tem sido o melhor de alguns weareables que uso no dia-a-dia, mas ainda há muito caminho a seguir até ele acabar com a necessidade de pegar um celular para realizar qualquer tarefa.

Mas vale lembrar que ele ainda é um gadget em desenvolvimento. Em questão de apenas um mês, algumas das novas features mudaram muito alguns paradigmas no uso do Glass. Ano que vem, com a versão comercial provavelmente nas prateleiras, o gadget vai estar muito mais avançado e então poderá ser uma revolução. Por enquanto, vamos assistindo e acompanhando, e claro, testando cada novidade.

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Gus Fune

Gus Fune

Ex-redator

Gus Fune é formado em Comunicação Social e pós-graduado em desenvolvimento e design de Games. No Tecnoblog, cobriu eventos como Electronic Entertainment Expo (E3), Game Developer Conference (GDC) e South by Southwest (SXSW) e escreveu sobre esse universo. Atua, hoje, como diretor de tecnologia e assessor, mas já esteve em projetos de empresas como 3M e Motorola.

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