Por dentro da fábrica da Dell em Hortolândia (SP)

Fomos descobrir como nasce um notebook da Dell

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 1 ano
dell-hortolandia-abre

No mês de agosto, a Dell convidou um pequeno grupo de consultores de tecnologia do programa Dell Experts para apresentar sua fábrica de computadores em Hortolândia, uma cidade de 200 mil habitantes do interior de São Paulo, localizada a pouco mais de 100 km da capital paulista. Eu estive lá para conhecer de perto a rotina dos cerca de 1.000 funcionários que montam a maioria dos desktops, notebooks e servidores vendidos no Brasil.

Por questões de sigilo, a Dell não permitiu que ninguém tirasse fotos dentro da unidade fabril. De qualquer forma, foi possível ver e anotar as informações mais importantes. A exemplo do artigo contando os bastidores da fábrica da Nokia em Manaus, se minha memória não falhar, em alguns minutos você terá em sua mente um quadro mostrando como funciona uma linha de montagem de computadores.

Ao chegar à fábrica da Dell, um edifício localizado próximo às instalações de outras grandes empresas, como a IBM, a farmacêutica EMS e a fabricante de trens CAF, inicialmente assisti a uma apresentação sobre o recém-lançado PowerEdge VRTX, um produto que reúne servidores, armazenamento e rede num gabinete bastante compacto (e bem silencioso, pelo que percebi). Eram informações voltadas aos consultores de TI presentes no evento, acostumados em propor esse tipo de solução para seus clientes, que incluem empresas de todos os tamanhos e necessidades possíveis.

Mas como o Tecnoblog é focado no usuário final, como você e eu, vamos falar da parte legal da coisa: a linha de montagem de computadores.

O ambiente

dell-hortolandia

Antes de ter acesso à linha de montagem, sempre estando devidamente identificado com um crachá, os funcionários precisam colocar uma fita no sapato e uma pulseira para evitar que a energia estática acumulada no corpo danifique algum componente eletrônico.

Logo na entrada, é possível perceber que a Dell dá bastante liberdade aos funcionários. Não há um uniforme específico, então o que mais vi foram pessoas trabalhando confortavelmente com bermuda e tênis. A diversidade é grande: há funcionários de todas as faixas etárias, desde jovens da minha idade até pessoas experientes com cinco ou seis décadas de vida. Não tenho números exatos, mas há muitas mulheres: se você tem um computador da Dell, provavelmente as peças foram encaixadas por mãos femininas.

O diretor executivo de operações da Dell, Claudionor Silva, revelou que pelo menos 90% dos computadores vendidos no Brasil são montados no nosso país. Alguns poucos produtos ainda precisam ser importados, especialmente os mais caros. A fábrica da Dell em Hortolândia até pode montar essas máquinas; o problema é arcar com os equipamentos de teste para o controle de qualidade. Dependendo do produto, os procedimentos para verificar se um produto está funcionando corretamente antes de ser vendido podem variar muito, o que encareceria o custo de produção.

Mais um notebook nasce

Para montar um notebook convencional, o primeiro passo é separar os componentes internos que virão em cada máquina. Como um mesmo modelo de notebook pode apresentar várias configurações de hardware, há um grupo de funcionários treinados para selecionar módulos de RAM e discos rígidos e enviá-los para a linha de produção, sempre respeitando uma ficha individual de cada PC, que contém a lista de especificações técnicas.

Essa ficha individual também permite que a Dell tenha os registros de um computador desde o nascimento. Pelo número de série único, a empresa consegue descobrir a configuração de hardware de um determinado computador. É assim que eles se viram quando um usuário leigo está pedindo ajuda e não sabe exatamente o que há dentro de seu PC, por exemplo.

Grande parte dos componentes vêm de fora, normalmente de algum país asiático, como você deve imaginar. Uma equipe especializada tem a missão de testar as peças para verificar se elas estão funcionando corretamente. Se alguma não passar pelo teste, precisará ser enviada ao fornecedor para substituição.

Quando os componentes e a carcaça do notebook chegam aos responsáveis pela montagem, por meio de esteiras, o que se vê é bastante agilidade: há uma série de funcionários encaixando cada peça de maneira bastante precisa, parafusando tudo rapidamente com as furadeiras e encaixando telas, teclados e outras partes em seus respectivos lugares. Não há espaço para distrações, e uma das regras básicas é: “Faça o procedimento correto e certifique-se de que seu colega faça o mesmo”.

Tudo é colocado em plásticos protetores, para que as máquinas não cheguem ao comprador com riscos ou qualquer outro defeito estético. Há, inclusive, alguns funcionários responsáveis por verificar um determinado número de máquinas por lote para ter certeza de que os produtos estão bem apresentáveis visualmente. Afinal, ninguém gostaria de tirar um computador novinho da caixa já com arranhões, certo?

O notebook está montado? Ok, é hora de injetar o sistema operacional e fazer os testes automáticos para verificar se tudo está funcionando como deveria. Este não é exatamente um processo rápido: para instalar o Windows 8 e verificar o funcionamento da tela, dos módulos de RAM, do disco rígido e de outros componentes, podem ser necessárias até quatro horas.

Após serem montados e testados, os notebooks são embalados. Aqui, Claudionor explicou que a Dell está abandonando os velhos isopores e passando a usar plásticos cheios de ar para proteger os computadores contra impactos dentro das caixas. Esses plásticos vêm vazios e são recortados e enchidos na hora por um funcionário, de acordo com as peculiaridades de cada modelo. É o tal do conceito “one size fits all”.

Os notebooks prontos para serem vendidos saem da linha de produção em direção a um prédio ao lado para serem armazenados antes de chegarem aos clientes, que podem ser grandes empresas, lojas de varejo ou usuários finais, já que a Dell também vende computadores diretamente ao consumidor.

Mas esses notebooks não viajam de qualquer jeito. Eles sobem por uma espiral e atravessam uma comprida ponte, percorrendo vários metros até chegarem ao outro galpão. A esteira recebe não apenas notebooks, mas também desktops, por isso é normal encontrar caixas de tamanhos bem diferentes umas das outras. Já no prédio ao lado, a esteira se divide em vários “braços”, que levam o produto para a área correta. Depois, ele vai para o feliz comprador.

Mas o mundo não é feito apenas de notebooks

A Dell também monta servidores em Hortolândia, mas não na linha de produção, já que a demanda é bem menor e as necessidades de um cliente podem diferir muito de outro. Hoje, a empresa consegue montar aproximadamente 300 servidores por dia em um único turno. Se houver demanda, é possível aumentar a produção para até 500 ou 600 unidades diárias. Isso é possível porque há funcionários treinados em várias áreas. Dessa forma, quem monta notebooks, muitas vezes também conhece os procedimentos para fazer um servidor nascer.

Dentro da fábrica, em uma pequena sala, alguns funcionários são responsáveis por montar os equipamentos da linha de montagem, como as bancadas, que precisam ser ergonômicas. É corte, solda e faísca para todo lado. Muitas das bancadas hoje são feitas com tubos de PVC e metal, que duram aproximadamente sete anos. Aos poucos, a Dell está fazendo estruturas em aço inox, que resistem mais ao tempo e custam aproximadamente 30% menos.

Ainda há espaço

Como tempo é dinheiro, a Dell constantemente otimiza seus processos de produção. Periodicamente, a empresa analisa cada etapa da montagem de um produto para verificar se existe a possibilidade de reduzir o tempo gasto na produção de cada desktop, notebook ou servidor.

O espaço físico usado em uma linha de montagem também pode ser reduzido. É por isso que várias áreas da fábrica estavam vazias: onde antes havia bancadas e peças circulando, sobrou apenas um pedaço de chão, que em breve será usado para montar novos modelos e aumentar a produção. Em determinados locais, papeis afixados indicavam os resultados da última otimização, e praticamente todos eles mostravam alguma diminuição no tempo e espaço usado para montar uma máquina.

A fábrica da Dell em Hortolândia começou a funcionar em fevereiro de 2007 e hoje emprega cerca de 1.000 funcionários. Embora não divulgue exatamente o número de computadores montados no local, a Dell revela que a unidade é responsável por fabricar pelo menos 90% de tudo o que a empresa vende no Brasil. Há até capacidade para exportação, mas devido aos recentes problemas na Argentina, a fábrica está focando no mercado brasileiro.

Por fim, vale lembrar que a Dell já possuía uma fábrica de computadores no Brasil há bastante tempo: ela estava localizada em Eldorado do Sul (RS) e foi inaugurada em 1999. Atualmente, como toda a produção de computadores foi migrada para Hortolândia, a unidade gaúcha apenas sedia a administração e presta serviços de suporte técnico e vendas da Dell.

O editor viajou para Hortolândia (SP) a convite da Dell.

Receba mais sobre Dell na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

Relacionados