Novo Kindle Paperwhite melhora o que era bom

Leitor de ebooks da Amazon custa de 479 a 699 reais no Brasil.
Kindle Paperwhite tem iluminação embutida e tela e-ink para ler confortavelmente.

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 10 meses

Nos últimos meses, a Amazon lançou no Brasil a segunda geração do Kindle Paperwhite. Em dezembro de 2013, o modelo Wi-Fi chegou ao país custando 479 reais. Seis meses depois, foi a vez do modelo com conexão 3G grátis, por 699 reais. Trazendo mudanças sutis na iluminação da tela, no processamento e no software, ele não é uma revolução, mas melhora algumas características da geração anterior, que agradou a muita gente.

O novo Kindle Paperwhite é um bom leitor de ebooks? Quais as mudanças em relação ao modelo anterior? Vale a pena fazer um upgrade? Compensa pagar 220 reais a mais pelo 3G? Usei as duas versões durante várias semanas e você confere minhas impressões a seguir.

Igual, só que diferente

No novo Kindle Paperwhite, a Amazon melhorou três fatores: tela, desempenho e software. O corpo do leitor de ebooks permaneceu praticamente o mesmo: olhando rapidamente, é impossível notar que se trata de uma nova geração. A única diferença está na traseira, que deixou de trazer a marca Kindle para incorporar o logotipo da Amazon em baixo relevo.

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A traseira, apesar de possuir um agradável toque emborrachado, tem o problema de acumular marcas de dedo com facilidade. Após alguns minutos de uso, as manchas na traseira e o movimento de esfregar o dispositivo na camiseta serão inevitáveis. Uma das maneiras de evitar isso é comprando uma capa. A oficial é feita de couro e tecido e tem o recurso útil de ligar e desligar a tela ao abrir e fechar a capa, graças a um ímã. No entanto, por 169 reais, é difícil recomendar sua compra.

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Que bela tela!

A tela de e-ink continua com a mesma resolução de 1024×758 pixels (não foi erro de digitação, é 758 mesmo), o que resulta em uma definição de 212 pixels por polegada. Embora alguns concorrentes possuam telas com definição maior, o display do Kindle Paperwhite não deixa a desejar em nenhum momento. As fontes são bem definidas, mesmo no tamanho mínimo. Como a iluminação não é direcionada diretamente para a sua cara, leituras longas tendem a ser mais confortáveis que em um tablet.

Apesar de a definição continuar a mesma, houve pequenas melhorias na tecnologia da tela. Tenho um Kindle Paperwhite antigo há mais de um ano e, ao ligar o display do novo modelo, as diferenças foram perceptíveis: o visor está levemente mais claro, a iluminação está mais uniforme na parte inferior e os pretos estão um pouquinho mais pretos. A Amazon diz que o toque ficou 19% mais preciso, mas eu não notei nenhuma diferença.

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Um pouco mais rápido

Com o processador de 800 MHz sendo substituído por um de 1 GHz, a velocidade também ficou melhor. Não é como se você precisasse de um desempenho monstruoso em um leitor de ebooks, mas ações como trocar páginas, abrir livros e navegar no sistema estão visivelmente mais rápidas.

As respostas ao toque e a fluidez do sistema, dentro das limitações de um painel e-ink, é ótima. O desempenho é significativamente melhor que o do Kobo Aura HD, e-reader de 659 reais que sofria com travadinhas irritantes e era notavelmente mais lento, mesmo em relação ao primeiro Kindle Paperwhite, que tinha hardware inferior.

Novos truques de software

O sistema ganhou refinamentos muito bem-vindos. O Kindle Page Flip permite folhear todas as páginas do livro rapidamente deslizando uma barra, sem perder a posição de página que você está lendo – uma pré-visualização das páginas é exibida em uma camada sobreposta. As notas de rodapé também passaram a ser mostradas em uma camada sobreposta, diferente do modelo anterior, em que o usuário normalmente era direcionado ao fim do capítulo, o que às vezes me deixava perdido.

Folheie o livro sem sair da página em que você está
Folheie o livro sem sair da página em que você está

Ao tocar e segurar uma palavra, é exibida a definição do termo com base no dicionário interno armazenado no Kindle, o que é ótimo quando se está lendo um livro com uma linguagem mais complicada ou em outro idioma (tem até dicionário de chinês). No novo Kindle Paperwhite, a janela de definição possui uma aba da Wikipédia, que ajuda bastante na hora de procurar termos que não estão no dicionário, como nomes de empresas. Se o termo não for encontrado no dicionário, o e-reader automaticamente fará a busca na enciclopédia.

Palavras que não estão no dicionário não são problema
Palavras que não estão no dicionário não são problema

Para melhorar o recurso de dicionário, a Amazon incluiu uma função chamada Construtor de vocabulário, acessível através do menu do canto superior direito da tela. Ao pesquisar a definição de uma palavra, o vocábulo é automaticamente registrado para ser acessado posteriormente. Isso é bem bacana como ferramenta de estudo: além de exibir Flashcards, o Construtor de vocabulário também guarda a frase em que você marcou a expressão, então você sabe em que contexto ela pode ser usada.

Construtor de vocabulário registra as palavras pesquisadas no dicionário
Construtor de vocabulário registra as palavras pesquisadas no dicionário

O ecossistema em torno do Kindle merece destaque. Além de adicionar textos copiando arquivos por meio do cabo USB ou comprando-os na Amazon, é possível fazer isso enviando um email para um endereço @kindle.com com o arquivo em anexo. A extensão para Chrome permite enviar páginas da web convertidas para o Kindle, ótima para ler textos grandes. Ultimamente, eu tenho lido muito mais análises gigantes e artigos técnicos do que livros.

Até a bateria acabar, você já encontrou uma tomada

A bateria tem ótima autonomia. Eu não consegui fazer testes profundos, mas não fui capaz de zerar a carga nas três semanas em que usei o Kindle Paperwhite Wi-Fi, então prefiro confiar nos números da Amazon: a duração da bateria é de até oito semanas, com brilho configurado na posição 10 (vai de 0 a 24), meia hora de uso por dia e Wi-Fi desligado.

No Kindle Paperwhite de primeira geração, fui capaz de ler um livro por cerca de duas horas adicionais depois de o sistema avisar que a bateria estava chegando ao fim. Então, é pouco provável que você seja pego de surpresa por falta de energia enquanto estiver usando o e-reader. Até a bateria acabar de fato, você certamente já encontrou uma tomada.

Aqui, vale destacar uma informação: a caixa do Kindle Paperwhite traz apenas o cabo USB, que pode ser usado para recarregar o e-reader em qualquer computador. O adaptador de tomada é vendido separadamente pela Amazon por 79 reais, o que não é exatamente um preço interessante. Particularmente, uso o carregador do meu smartphone no Kindle para não “gastar” uma porta USB.

As amarras do Kindle

O Kindle Paperwhite suporta, além de documentos de texto, imagens convertidas e PDF, ebooks nos formatos AZW, Mobi e PRC. A ausência mais notável é o suporte aos arquivos ePUB, o formato mais popular do mercado. Se você comprar um ebook na Livraria Cultura, Livraria Saraiva, Gato Sabido ou qualquer outra loja que não seja a Amazon, é muito provável que o arquivo venha em ePUB.

É bem verdade que é possível converter facilmente arquivos ePUB para Mobi pelo Calibre, mas essa conversão nem sempre é perfeita, ainda mais se o livro possuir formatação mais complexa, com fontes personalizadas e tabelas. Embora a loja da Amazon seja muito completa, dificultar a leitura de livros comprados em outras fontes é um ponto negativo, não apenas do Kindle Paperwhite, mas de toda a linha Kindle.

O contrário também é verdadeiro: se você comprar livros da Amazon e posteriormente quiser adquirir outro e-reader que não seja um Kindle, terá dificuldades para migrar sua biblioteca, uma vez que os ebooks vendidos pela loja de Jeff Bezos possuem proteção contra cópia – será necessário fazer uma gambiarra para remover o DRM dos arquivos.

No final das contas, essa dependência do ecossistema da Amazon acaba servindo para baratear o hardware, em um negócio bem parecido com o mercado de impressoras, aparelhos de barbear e afins: vende-se o produto principal por margens de lucro bem apertadas para, depois, lucrar mais com os suprimentos.

Gastar 220 reais a mais para ter 3G é uma boa ideia?

Só alguns meses depois de lançar o modelo Wi-Fi no Brasil, a Amazon trouxe o novo Kindle Paperwhite com 3G, pelo mesmo preço da geração anterior: 699 reais. São 220 reais a mais para ter conexão disponível em qualquer lugar, por tempo indeterminado. Não há entrada para chip, não é necessário pagar uma taxa adicional para nenhuma operadora e o 3G é fornecido por parceiros da Amazon em mais de 100 países, incluindo o Brasil.

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A conexão 3G do Kindle Paperwhite serve para consultar artigos na Wikipédia, manter anotações e marcações em ebooks sincronizadas com os servidores da Amazon e, claro, comprar novos livros com apenas um toque.

O Kindle Paperwhite possui um navegador web, mas você não conseguirá acessar seu blog de tecnologia preferido ou mesmo a caixa de entrada do seu email. Não apenas porque o browser é bastante limitado, mas porque a Amazon e suas parceiras bloqueiam páginas que não sejam a Amazon ou a Wikipédia. Ao tentar acessar outros sites, você será obrigado a se conectar em uma rede Wi-Fi.

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Portanto, o Kindle Paperwhite 3G é um modelo voltado para aquele leitor voraz de livros, que frequentemente está longe de casa e quer pagar a mais pela comodidade de ter conexão o tempo todo. Para a maioria das pessoas, até por causa do preço bem maior e das limitações do 3G, o modelo Wi-Fi é a opção com melhor custo-benefício.

Notas relevantes

  • Na primeira versão deste review, publicada em janeiro de 2014, as novidades de software do Kindle Paperwhite não estavam disponíveis para o modelo antigo. Algumas semanas depois, felizmente, a empresa liberou uma atualização com as funcionalidades novas. Ponto para a Amazon!
  • A iluminação do novo Kindle Paperwhite é mais amarelada em relação ao modelo antigo. Eu prefiro a iluminação mais fria do Kindle Paperwhite de primeira geração, mas isto não é um defeito.
  • Os novos Kobo possuem integração com o Pocket, um recurso que me faz muita falta no Kindle. Seria ótimo se a Amazon também fechasse uma parceria com o serviço. Readability e Instapaper podem enviar textos periodicamente para o Kindle, e há serviços de terceiros que fazem isso com o Pocket, mas não é a mesma coisa.
  • A Amazon não revela quais são suas parceiras no fornecimento do 3G do Kindle Paperwhite. No Brasil, há evidências de que a operadora é a Vivo, mas essa informação não foi confirmada pela Amazon quando questionada pelo Tecnoblog.

Vale a pena?

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Apesar de possuir alguns problemas, como prender o usuário ao ecossistema da Amazon, o novo Kindle Paperwhite é um ótimo leitor de ebooks. O dispositivo possui ótima fluidez, tela com bom contraste e definição e recursos de software que tornam a experiência de leitura melhor que se fosse feita em um livro de papel, como o dicionário integrado, o tempo restante estimado para terminar um capítulo e as marcações que não sujam a folha.

Para quem costuma fazer leituras longas e, principalmente, lê frequentemente durante a noite ou em locais com pouca iluminação, o novo Kindle Paperwhite é o e-reader com a melhor relação custo-benefício à venda hoje no mercado brasileiro. Por 479 reais, ele é um bom dispositivo para leitura, que não cansa a vista, não gera distrações e possui uma bateria bastante duradoura.

Para a maioria das pessoas, eu não recomendaria o gasto adicional de 220 reais com o modelo 3G. É legal ter conexão em todo lugar, mas as limitações impostas pela Amazon e suas parceiras não ajudam a tornar o recurso atraente. Hoje, o 3G do Kindle Paperwhite serve principalmente para comprar livros. Mas, antes de terminar de ler um livro, é provável que você já tenha encontrado uma conexão Wi-Fi por aí.

Se você possui um Kindle mais antigo, como o modelo mais básico, de 299 reais, o upgrade pode ser recomendado: o novo Kindle Paperwhite traz funcionalidades muito úteis, a iluminação integrada ajuda bastante e a tela é ótima.

Para quem possui um Kindle Paperwhite de primeira geração, esqueça: embora o novo modelo possua desempenho e tela levemente melhores, essas novidades não são suficientes para justificar o gasto. Na verdade, leitores de ebooks têm vida útil bem maior que os smartphones e tablets — portanto, é provável que seu e-reader ainda sobreviva por uns bons anos.

Especificações técnicas

  • Bateria: até oito semanas de duração.
  • Conectividade: Wi-Fi 802.11 b/g/n e Micro USB.
  • Dimensões: 169 x 117 x 9,1 mm.
  • Formatos: AZW, AZW3, PDF, Mobi, PRC, imagens convertidas (JPEG, GIF, PNG e BMP) e texto (TXT, HTML, DOC e DOCX).
  • Memória interna: 2 GB (1,25 GB disponíveis para o usuário).
  • Memória externa: sem suporte a cartão microSD.
  • Peso: 206 gramas.
  • Processador: 1 GHz.
  • Tela: e-ink de 6 polegadas com resolução de 1024×758 pixels e iluminação integrada.

Publicado originalmente em 8 de janeiro de 2014. Atualizado em 21 de julho para incluir o teste da versão 3G.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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