LG G Flex, o smartphone de tela curva

O alto preço a se pagar por uma novidade que ainda não está pronta

Paulo Higa
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• Atualizado há 10 meses
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Faz pouco mais de um mês que o LG G Flex chegou às lojas brasileiras. Com tela OLED de 6 polegadas, design que lembra o irmão LG G2, poder de processamento de sobra para rodar o Android e preço sugerido de 2.699 reais, ele seria só mais um aparelho grande e caro no mercado se não fosse por um detalhe: trata-se do primeiro smartphone com tela curva a ser vendido no Brasil.

Mas para que serve um smartphone com tela curva? Há alguma vantagem no formato diferenciado do G Flex? Compensa pagar a mais em relação aos outros smartphones topo de linha, que possuem as tão comuns telas planas? É o que você verá neste review. Usei o G Flex como smartphone principal por duas semanas e nos próximos parágrafos você confere minhas impressões.

Design e pegada

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Não tem como não perceber. Se você estiver com um G Flex na mão, certamente será notado pelas pessoas. Algumas, menos tímidas, perguntarão: “nossa, que celular é esse?”. Não só pelo formato curvo, diferente de qualquer outro smartphone vendido atualmente no mercado, mas também pelo tamanho gigante: com 6 polegadas, ele é mais um daqueles dispositivos que borram a linha que divide os smartphones dos tablets.

Com 81,6 mm de largura, 8,7 mm de espessura, 176 gramas e bordas finíssimas, o tamanho do G Flex fica entre o Galaxy Note 3 e o Lumia 1520. Definitivamente não é um aparelho pensado para mãos pequenas: o G Flex é focado em consumo de conteúdo, principalmente vídeos, e foi feito para ser usado com as duas mãos — você até pode tentar manuseá-lo com apenas uma mão, mas isso resultará em constantes exercícios de alongamento do polegar.

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A curva no eixo vertical dá a impressão de que o aparelho fica desconfortável no bolso ou foi feito para se adaptar às nossas nádegas (!), mas achei o G Flex bem melhor de carregar no bolso da frente da calça do que os planos Galaxy Note 3 e Lumia 1520 — o G Flex será sentido a todo momento, mas ele fica levemente inclinado e convive bem com o formato da nossa coxa.

A parte frontal e as laterais do G Flex são bem parecidas com as do LG G2, sem nenhum botão físico. Todos os botões estão localizados na parte traseira, o que é bom tanto para canhotos quanto para destros, mas frequentemente gera marcas de dedo na lente da câmera. Felizmente, não é necessário usar tanto esses botões, porque a LG desenvolveu recursos de software que diminuem a dependência deles: basta tocar duas vezes na tela apagada para ligar o aparelho e duas vezes na barra superior para desligar a tela.

Esses botões quase não são usados
Esses botões quase não são usados

A traseira é lisa e brilhante, o que particularmente não me agrada muito, e possui uma cobertura especial capaz de se “regenerar”, eliminando por conta própria os pequenos riscos do dia a dia, bastante sentidos no Xperia Z1. Eu não arranhei o G Flex para testar na prática a eficiência dessa camada, mas saiba que ela é capaz de remover apenas riscos superficiais, não arranhões de facas. Quanto maior a temperatura ambiente, menor o tempo necessário para se recuperar, que fica na casa dos minutos.

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Ter uma camada protetora na traseira é legal porque aumenta a durabilidade do aparelho e o deixa com cara de novo por mais tempo; é uma pena que ela não seja tão transparente para ser aplicada também na tela. Outro fator que colabora com a durabilidade do G Flex é que, como o nome indica, ele é flexível, então o risco de quebrá-lo ao sentar em cima ou colocá-lo em um bolso apertado acaba sendo menor (e sempre é bom lembrar: “flexível” não é “dobrável”).

Tela

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Só uma olhada rápida na ficha de especificações técnicas do G Flex é capaz de decepcionar usuários com sede de números grandes: apesar do tamanho de 6 polegadas, a tela possui resolução de 1280×720 pixels, uma definição de apenas 245 pixels por polegada, abaixo do que costumamos ver nos smartphones da mesma faixa de preço. No entanto, analisar uma tela só por números é um erro — e ainda oculta outros problemas, bem mais graves.

A resolução da tela do G Flex é o menor dos problemas. Sim, dá para notar que a definição é inferior a dos outros smartphones caros, mas a falta desses pixels adicionais é quase imperceptível no dia a dia. O maior defeito está no painel POLED, feito de plástico (por isso o “P”). Apesar de possuir bons ângulos de visão e pretos profundos, ele exibe muitos ruídos.

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Fundos de cor sólida ganham uma estranha textura na tela do G Flex, que chega a incomodar: todas as imagens são exibidas de forma granulada, e o defeito fica ainda mais perceptível quando o brilho não está no máximo e as imagens possuem tons contínuos de azul e cinza. Este era um problema que afetava as primeiras telas OLED dos smartphones, como a do Galaxy Nexus, mas que é inadmissível em pleno ano de 2014.

Outro problema grave que afetava as primeiras telas OLED, mas que também está presente no G Flex, é a retenção de imagem. Frequentemente, notei que os botões do teclado virtual ficavam visíveis mesmo após ele ser ocultado. Botões de aplicativos que ficam parados por muito tempo no mesmo lugar também marcavam a tela temporariamente. Os “fantasmas” na tela ficam bastante visíveis nos primeiros segundos e depois começam a sumir lentamente.

Eu sempre elogiei as telas IPS LCD da LG: do Optimus 4X HD, passando pelo Optimus G e G2 e chegando ao G Pad 8.3, todas possuem possuem brilho altíssimo, cores fidedignas e ótimo contraste. Mas ficou a impressão de que a LG não tem a mesma expertise com os painéis OLED ou a tecnologia ainda não está pronta para encarar o formato curvo. O fato é que, depois de todos esses anos, a tela do G Flex é de longe a pior que já vi em um topo de linha da LG.

Software e multimídia

Como estamos falando de um Android da LG, podemos esperar muitas modificações na interface. O esquema de cores é diferente, os ícones são diferentes, os recursos são diferentes, os aplicativos básicos são diferentes. Até as fontes do sistema mudaram. E também podemos esperar uma versão do Android não muito recente: o G Flex vem de fábrica com o Android 4.2.2 e oficialmente ainda não recebeu KitKat no Brasil.

Qual o preço? Mistério.
Qual o preço? Mistério.

Algumas modificações melhoram a experiência de uso, enquanto outras parecem estar ali apenas por questão de perfumaria ou foram mal desenvolvidas. A interface da LG suporta temas e por padrão possui ícones quadrados com um fundo preto de gosto duvidoso. Quando você recebe um SMS, a mensagem é exibida em um pequeno balão no canto superior esquerdo da tela e permite que você a responda dali mesmo. Parece prático, mas esse balão corta o final de mensagens um pouco maiores, logo, em várias ocasiões ele se mostra inútil.

Metade da central de notificações é tomada pelos botões de acesso rápido, pelo controle de brilho e pelo ajuste de volume, o que pode incomodar algumas pessoas, já que isso acaba deixando pouco espaço para o que interessa em uma central de notificações (as notificações). Outros usuários, no entanto, podem achar esses controles bem úteis — de qualquer forma, o ideal seria permitir que eles fossem exibidos ou ocultados de acordo com o gosto de cada um.

Os mesmos aplicativos encontrados em outros aparelhos da LG estão aqui. Há um gerenciador de arquivos nativo, que é bem eficiente e se integra ao Dropbox; o QuickRemote, para controlar uma TV de qualquer marca usando o emissor de infravermelho; os utilitários Notas, Tarefas e Gravador de voz; e o LG Backup, que faz backup de configurações, mensagens, aplicativos e outros dados manualmente ou de forma automática, por agendamento.

Explorando um pouco mais as configurações, é possível encontrar um modo de teclado compacto, que concentra as teclas em um dos lados da tela, permitindo a digitação com apenas uma mão. Tem também um modo multitarefa, que tenta aproveitar melhor o espaço da tela: basta segurar a tecla Voltar para manter dois aplicativos abertos ao mesmo tempo. O KnockON, já mencionado, permite ligar e desligar a tela dando apenas dois toques, útil em um aparelho em que os botões ficam na traseira e nem sempre estão facilmente acessíveis.

Na parte de multimídia, o player de música não faz nada além do que estamos acostumados, enquanto o player de vídeo é muito bem feito, sendo capaz de reproduzir diversos formatos — os filmes com os codecs mais comuns, DivX, XviD e H.264, foram executados sem problemas. A interface suporta gestos: basta deslizar o dedo para avançar o vídeo ou ajustar o volume, por exemplo. E, se isso é importante para você, saiba que o G Flex tem rádio FM.

Câmera

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A câmera de 13 megapixels do G Flex é apenas razoável. As fotos poderão ser compartilhadas em redes sociais ou até impressas em tamanhos médios sem problemas, mas nada muito além disso. Assim como no G2, a lente tem abertura f/2,4, mas não há a estabilização óptica, o que pode dificultar um pouco a captura de fotos em situações de baixa iluminação. Na verdade, se você não se concentrar ao tirar a foto, o máximo que conseguirá é isso:

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Em diversas condições de iluminação, tanto ao ar livre quanto em ambientes internos, a câmera do G Flex tem tendência à superexposição. As sombras ficam mais claras que de costume e os brancos chegam a estourar, já que o alcance dinâmico de um sensor de smartphone não é tão amplo — no entanto, esses problemas podem ser minimizados ao ativar o modo HDR.

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As fotos, mesmo em locais com iluminação prejudicada, têm pouquíssimo ruído, mas isso é resultado de um pós-processamento por software bastante agressivo, que acaba removendo muitos detalhes da imagem. As duas fotos abaixo, tiradas com bem mais calma que a primeira, mostram fortes borrões em regiões iluminadas, como lâmpadas e letreiros:

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Em áreas de bastante contraste, o alcance dinâmico limitado e a tendência à superexposição do G Flex fica ainda mais evidente, como no caso desta sala de reuniões, com mesa branca e chão escuro:

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A LG tem evoluído bastante no quesito câmera nos últimos anos, mas ainda não conseguiu colocar nos seus smartphones um sensor de imagem à altura dos concorrentes. Se você está procurando por um bom aparelho para tirar fotos, o G Flex certamente não deverá estar na sua lista de prioridades — há aparelhos mais baratos que podem fazer um trabalho superior.

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Hardware e conectividade

Na caixa do G Flex, nada além do básico
Na caixa do G Flex, nada além do básico

O G Flex tem o mínimo que um Android topo de linha deveria ter: chip Snapdragon 800, formado por processador quad-core de 2,26 GHz e GPU Adreno 330, além de 2 GB de RAM, suficiente para rodar vários aplicativos ao mesmo tempo. O armazenamento interno é de generosos 32 GB, mas não há entrada para cartão de memória. Boa parte do espaço é usado pelo sistema operacional, deixando ao usuário aproximadamente 24 GB disponíveis.

O desempenho é ótimo, como você deveria esperar de um hardware desse porte, mas há travadinhas em partes modificadas pela LG, especialmente na tela de bloqueio, que exibe uma animação de acordo com a previsão do tempo. Jogos como Asphalt 8: AirborneFIFA 14 e Real Racing 3 são executados com alta taxa de frames — é uma vantagem do G Flex, que possui tela com resolução de 1280×720 pixels, menor que a dos outros aparelhos da mesma categoria.

Nos benchmarks sintéticos, o G Flex se dá bem, ficando inclusive acima do G2, que possui praticamente o mesmo hardware, mas resolução maior, de 1920×1080 pixels:

Com relação às conexões, nada a reclamar. Assim como outros smartphones caros, há suporte ao 4G brasileiro, de 2.600 MHz, que já possui cobertura decente nas grandes cidades brasileiras. Graças ao Snapdragon 800, o G Flex se conecta às novas redes Wi-Fi 802.11ac. Há ainda NFC, DLNA e infravermelho.

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Bateria

Dura dois dias fácil
Dura dois dias fácil

O modelo brasileiro do G Flex é vendido pela LG como tendo bateria Li-ion com ânodo de óxido de silício (SiO+) de 3.400 mAh, 100 mAh a menos que o modelo internacional. É uma diferença minúscula, que ainda mantém a bateria do G Flex com uma das maiores capacidades do mercado. E o número gigante realmente se reverte em resultados práticos.

Assim como o G2, que tinha bateria de 3.000 mAh, o G Flex possui ótima autonomia. Acredito que, exceto para usuários que executam jogos pesados o tempo todo, o G Flex é capaz de durar dois dias seguidos, sobrando um restinho de carga no final do segundo dia.

No meu caso, saindo de casa às 9h30, navegando na web e em redes sociais por uma hora, lendo e respondendo emails durante dez minutos, ouvindo música por streaming no 4G por três horas e chegando em casa às 23h50, terminei o dia com 57% de bateria, sempre com o brilho no automático. Não carreguei o aparelho e segui quase a mesma rotina no dia seguinte, mas saí de casa só às 16h. Nesse cenário, terminei o segundo dia com 22% de carga.

Em resumo: apesar do processador potente e da tela gigante, a bateria do G Flex realmente dá conta do recado. Você definitivamente não precisará se preocupar em levar um cabo USB ou carregador de tomada a todo momento. Para quem usa um iPhone 5s como smartphone principal (que muito provavelmente não chegaria ao fim do primeiro dia com carga), a autonomia do G Flex foi ainda mais surpreendente.

Pontos negativos

  • Câmera com muita resolução e pouca definição.
  • Péssima relação custo-benefício.
  • Tela de baixa qualidade.

Pontos positivos

  • Bom desempenho gráfico.
  • Camada “regenerativa” na traseira.
  • Grande duração de bateria.

Conclusão

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Vale a pena pagar 2.699 reais em um smartphone de tela curva? A resposta é não, mas vale explicar um pouco.

O altíssimo custo do G Flex é compreensível (mas não aceitável) porque ele possui uma tecnologia nova. Por trás do preço do G Flex, há o custo para se produzir uma tela curva e os gastos com pesquisa e desenvolvimento. Embora alguns smartphones lançados no passado tivessem vidro curvo, como o Galaxy Nexus e o Galaxy S II Lite, a curvatura não chegava nem perto do G Flex e o painel era reto, como o de qualquer outro smartphone.

O problema é que, como boa parte das tecnologias novas lançadas no mercado, ela não está totalmente pronta e ainda precisa melhorar bastante. O painel POLED de qualidade decepcionante é uma prova disso: a LG, que costuma colocar excelentes telas em seus smartphones, usou um display medíocre no G Flex, com retenção de imagem e um incômodo ruído.

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As características do G Flex que a LG cita como vantagens são questionáveis. O microfone realmente fica mais próximo da boca durante um telefonema, mas isso não é suficiente para aumentar significativamente a qualidade da chamada. A ergonomia pode até ser melhor que a de um smartphone de tela plana, mas não pode ser um ponto levado a sério em um aparelho de 6 polegadas. No software, não há nada que realmente faça uso da tela curva: o único recurso visível é um efeito de “cortinas de teatro” ao desbloquear a tela com dois dedos, algo totalmente dispensável.

Sendo racional, não há nenhum motivo para comprar um G Flex, a não ser que você goste de tecnologias novas e tenha dinheiro sobrando. A própria LG produz um smartphone com relação custo-benefício muito superior, o G2, que possui o mesmo hardware, uma duração de bateria tão boa quanto e uma tela de qualidade impressionante, mas por um preço bem mais baixo: em promoções, o G2 pode ser facilmente encontrado por menos de 1,5 mil reais.

Quer tela grande? O Lumia 1520 é uma ótima opção, com sua câmera de qualidade acima da média (embora não tão impressionante quanto a do Lumia 1020). Prefere Android? Dê uma olhada melhor no Galaxy Note 3, que foi lançado antes do G Flex e já caiu de preço. Só está procurando um smartphone com hardware potente? Se você não se incomodar com as personalizações da LG, o G2 é uma das melhores opções atualmente.

O G Flex, portanto, é mais uma demonstração de que a LG é capaz de fazer um smartphone com tela curva do que um smartphone para realmente ser comprado pelas pessoas. É irônico que, há alguns anos, todos tinham TVs de tubo e o sonho de consumo era ter uma TV de tela plana. O futuro dos smartphones pode até estar nas telas curvas — mas, pelo visto, esse futuro não deve chegar tão cedo.

Especificações técnicas

  • Bateria: 3.400 mAh (Li-ion/SiO+).
  • Câmera: 13 megapixels (traseira) e 2 megapixels (frontal).
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, NFC, Bluetooth 4.0 e USB 2.0.
  • Dimensões: 160,5 x 81,6 x 8,7 mm.
  • GPU: Adreno 330.
  • Memória externa: sem suporte a expansão de memória.
  • Memória interna: 32 GB.
  • Memória RAM: 2 GB.
  • Peso: 176 gramas.
  • Plataforma: Android 4.2.2 Jelly Bean.
  • Processador: quad-core Snapdragon 800 de 2,26 GHz.
  • Sensores: acelerômetro, bússola, giroscópio e proximidade.
  • Tela: POLED de 6 polegadas com resolução de 1280×720 pixels.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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