Facebook pode estar realizando experimentos não consentidos com usuários desde 2007

Emerson Alecrim
Por
• Atualizado há 1 semana

Um dos assuntos mais debatidos da semana passada foi a descoberta de que o Facebook realizou um experimento em 2012 com mais de 600 mil usuários na surdina. Diante da monstruosa repercussão a respeito, Sheryl Sandberg, diretora operacional da empresa, chegou a pedir desculpas pela “falha de comunicação”. Mas talvez seja pouco: de acordo com o WSJ.com, o Facebook vem fazendo experiências com seus utilizadores desde 2007.

No caso de 2012, os pesquisadores alteraram o conteúdo exibido na timeline dos usuários para tentar compreender se determinados fluxos de informação podem causar impactos emocionais. O resultado foi positivo: timelines carregadas com mais posts negativos fizeram com que muitos usuários aumentassem o número de postagens melancólicas ou pessimistas, por exemplo.

1332531700726-mark-zuckerberg

Na primeira olhada, pode até não parecer nada tão grave assim. O problema é que muitas pessoas tiveram suas emoções manipuladas, ainda que levemente, sem nem ao menos desconfiar que a sua timeline serviu de gatilho para isso.

Fontes próximas ao Facebook disseram ao WSJ.com, no entanto, que esta é só a ponta do iceberg: segundo eles, centenas de experimentos vem sendo executados sem o conhecimento dos usuários desde 2007, ano em que a companhia montou uma equipe de “Data Science” formada por engenheiros de software, especialistas em inteligência artificial, psicólogos e outros profissionais.

Um dos entrevistados revelou que testes eram feitos com tanta frequência que alguns pesquisadores chegaram a temer que os mesmos grupos de usuários fossem usados em mais de um experimento e, assim, as consequências de um interferissem nos resultados de outro.

Teria acontecido manipulações para determinar como famílias se comunicam dentro do Facebook, por exemplo. Em outros testes, os pesquisadores teriam tentado identificar causas para a solidão. As fontes relataram até mesmo experiências para analisar o impacto de mensagens com teor político no comportamento dos usuários.

A experiência mais estarrecedora talvez seja uma supostamente realizada há cerca de dois anos: o Facebook teria bloqueado a conta de milhares de usuários e enviado e-mails a eles informando que o motivo era a suspeita de que seus perfis eram falsos.

Facebook + cursor

Para ter seu acesso restabelecido, os usuários tiveram que seguir os procedimentos da mensagem como forma de provar que seus cadastros eram reais. Poderia ser apenas uma verificação de segurança, não fosse um detalhe: o Facebook sabia que estas contas eram legítimas. A empresa teria causado este transtorno apenas para avaliar a eficácia de seus sistemas antifraude.

Ainda que os termos de uso do Facebook deem margem para procedimentos como este, as acusações são preocupantes – experimentos feitos assim, deliberadamente, podem agravar o estado emocional de uma pessoa abalada por um problema mais sério, por exemplo, por mais remota que seja esta possibilidade.

O assunto é polêmico e passível de muita discussão, afinal, mesmo com os termos de uso autorizando, é eticamente esperado que o Facebook obtenha consentimento explícito dos usuários, tal como o fazem pesquisadores de universidades.

A sorte do Facebook, por assim dizer, é que os resultados destes experimentos não foram publicados em papers como é o caso do estudo de 2012, assim, fica difícil comprovar a sua realização. De qualquer forma, não vai ser estranheza nenhuma se Sheryl Sandberg, Mark Zuckerberg ou qualquer outro executivo de peso da empresa tentar esclarecer o assunto nos próximos dias.

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

Canal Exclusivo

Relacionados