Lev, o leitor de ebooks da Saraiva com recursos de sobra

Custando entre 299 e 479 reais, o Lev é um forte concorrente para os e-readers já consolidados

Paulo Higa
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• Atualizado há 11 meses

A Saraiva entrou no grupinho da Amazon e Livraria Cultura ao lançar, na semana passada, o leitor de ebooks Lev. Com touchscreen e-ink de 6 polegadas, peso de apenas 190 gramas e integração com a loja de livros digitais da Saraiva, o Lev chegou ao Brasil custando 299 reais na versão mais simples. Um modelo mais completo, com iluminação embutida para ler no escuro, está sendo vendido por cem reais a mais.

Os preços do Lev são os mesmos do Kindle e Kobo equivalentes, o que dificultou ainda mais a decisão de quem está pensando em comprar um leitor de ebooks. Será que o Lev é uma boa opção? Como é o desempenho? O acervo de ebooks da Saraiva convence? O que o Lev tem de diferente? Todas as respostas estão nos próximos parágrafos, mas posso adiantar que ele é um forte concorrente.

Quiseram fazer algo diferente

Muitos leitores parecem concordar comigo que o Lev não é o leitor de ebooks mais bonito que já vimos. A Bookeen, empresa francesa que projeta o e-reader para a Saraiva, fugiu um pouco do que estamos acostumados ao usar bordas assimétricas, uma moldura de cor diferente em volta da tela e um peculiar botão frontal circundado por um anel prateado que faz o Lev lembrar um tablet.

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Mas se o Lev não passa no concurso de Miss Universo, pelo menos o design é bem funcional. O botão frontal é multiuso. Com um toque, abre-se a lista de atalhos que dá acesso à tela inicial, biblioteca e loja de livros digitais da Saraiva. Com dois toques, é exibido o menu contextual, que serve para alterar a fonte do texto ou ativar o Wi-Fi, por exemplo. Mantenha o botão pressionado e a iluminação será ligada ou desligada.

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A traseira possui um acabamento fosco e um toque levemente emborrachado que muito me lembra o Kindle Paperwhite. Se esse tipo de plástico acaba atraindo muitas marcas de dedo, pelo menos torna a pegada mais confortável. Além disso, o peso de 190 gramas, mais leve que os livros que normalmente lemos, torna possível usar o Lev por algumas horas antes de cansar os braços.

Um hardware não imbatível, mas decente

Se você for mais a fundo nas especificações de hardware, verá que o Lev possui um painel E Ink Pearl. É o mesmo usado no Kindle Paperwhite de 1ª geração e Kobo Glo, mas está atrás do novo Kindle Paperwhite, que adota o moderno E Ink Carta. Na teoria, este último possui contraste até 50% maior e reflete até 20% menos luz. Na prática, a não ser que eles sejam comparados lado a lado, a diferença é quase imperceptível.

O modelo que estou usando há uma semana é o Lev com Luz, que possui preço sugerido de 479 reais — não por acaso, o mesmíssimo valor do Kindle Paperwhite e Kobo Glo. Útil para usar o e-reader em ambientes pouco iluminados, a luz é bastante uniforme e tende um pouco para o azul. Achei bastante exagerado o brilho no nível máximo, mas a opção está lá para quem quiser usar (e estiver com vontade de agredir os olhos).

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O poder do Lev é o mesmo de um e-reader qualquer, e o processador é um ARM de 1 GHz. No geral, o uso é bastante fluido. As trocas de página são rápidas, a abertura de ebooks é quase instantânea e o ajuste das fontes é feito sem cerimônia. Passei por uma travada feia ao usar o recurso de galeria de imagens, mas isso aconteceu apenas uma vez, e o Lev não deve deixar seus proprietários irritados.

Em relação aos dois principais concorrentes, o Lev leva vantagem por possuir o dobro de armazenamento interno, 4 GB, sendo que ainda há como expandir a memória com um cartão microSD. Mesmo guardando mais de 200 arquivos, entre ePUBs e PDFs, não usei mais que 800 MB de espaço, portanto, acredito que a maioria das pessoas nem pensará em comprar um microSD.

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Quanta coisa nesse software!

A interface do Lev é bem simples, mas uma olhada mais profunda nas configurações revela recursos de software bem interessantes. Separei três:

  • Modo noturno: as cores ficam invertidas, com fundo preto e texto branco. Uso com frequência esse recurso no smartphone, em aplicativos como Instapaper e Pocket, e sinto que meus olhos cansam menos.
  • Em “Meus Livros”, o Lev permite navegar pelos livros armazenados em pastas. Para quem quiser dedicar uma pasta só para guardar arquivos da faculdade, por exemplo, é prático e uma mão na roda.
  • Orientação da tela: você pode ler ebooks tanto no modo retrato quanto no modo paisagem. E tem como ativar um gesto com os dedos para alternar entre os modos (como você deve saber, e-readers são bem simples e não têm acelerômetro como os smartphones e tablets).
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Como não dá para ter tudo, senti falta de um navegador. O browser do Kindle Paperwhite, mesmo que simples e lento para renderizar páginas, ainda é útil para fazer consultas rápidas. E, falando em consultas, seria bom ter acesso fácil à Wikipédia e um dicionário de inglês ou espanhol (ou francês, ou chinês simplificado, enfim) para textos mais complexos. De fábrica, há apenas o Soares Amora embarcado, que faz um bom trabalho nos verbetes em português.

Todos os livros comprados na Saraiva ficam acessíveis através do SaraivaReader, que possui aplicativos para Windows, OS X, Android e iOS. Portanto, dá para começar um livro no Lev e continuar do ponto em que parou no tablet. Mas um recurso que está ausente (ou pelo menos não funcionou) é a sincronização de marcadores e notas: ele só guardou a posição da página. Já é alguma coisa, mas poderia ser melhor.

PDF Reflow: a hora da verdade

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Um dos recursos mais legais propagandeados pela Saraiva é o PDF Reflow. Não tem jeito: ler PDFs em leitores de ebooks nunca foi uma experiência muito boa. As fontes pequenas, as limitações tecnológicas nas telas e o baixo poder de processamento tornam um pesadelo ler qualquer coisa que não seja um ebook de verdade. O que o PDF Reflow promete fazer é reorganizar os PDFs para que eles possam ser lidos confortavelmente na tela e-ink de 6 polegadas do Lev.

E devo dizer que o PDF Reflow funciona razoavelmente bem. Não é perfeito, mas está dentro do que eu esperava. Para o teste, joguei mais de 20 arquivos em PDF dentro do Lev, entre páginas web transformadas, comunicados à imprensa e uma série de textos que professores de jornalismo normalmente pedem para os alunos lerem. Em aproximadamente 60% dos arquivos, os resultados foram bem satisfatórios.

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Nos arquivos em PDF contendo apenas texto e imagem, não há o que temer — o PDF Reflow reorganiza o arquivo e faz parecer que estamos lendo um ePUB. É possível fazer ajustes no tamanho da fonte, marcar algum trecho importante e tudo mais. A formatação dos arquivos é preservada, então será possível enxergar normalmente os negritos e itálicos do documento.

A limitação fica por conta de documentos mais complexos, com gráficos, tabelas e múltiplas colunas. O PDF Reflow claramente se perde, deixando trechos sem sentido e fazendo uma salada de parágrafos de colunas diferentes. Alguns poucos arquivos PDF complexos, mas bem feitos, funcionaram bem — no entanto, quase nunca dá para depender de quem gerou o documento.

Nem sempre funciona muito bem...
Nem sempre funciona muito bem…

Mas, mesmo quando o PDF Reflow não dá conta do recado, o Lev faz o favor de cortar automaticamente aquelas margens brancas em volta das páginas dos PDFs. Consequentemente, as páginas aproveitam toda a pequena tela de 6 polegadas do e-reader, as fontes ficam com tamanho legível e toda a diagramação complexa do documento é mantida.

O Lev ainda não resolve o problema dos PDFs em e-readers, mas é a melhor opção se você depende muito desse tipo de arquivo.

Uma olhada de perto no acervo da Saraiva

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É verdade, nada impede você de obter ebooks em ePUB em outro lugar e armazená-los no Lev. Mas, prezando pela praticidade, o ideal mesmo é ter acesso fácil a uma boa loja de livros digitais diretamente do e-reader. Hoje, a referência nessa área é a Amazon. Será que a Saraiva, que promete o maior acervo de livros digitais em língua portuguesa, possui um conteúdo forte?

Para fazer a comparação, peguei os 10 livros mais vendidos de cada loja (Saraiva e Amazon), além dos cinco mais vendidos de acordo com a revista Veja em cada categoria (ficção, não ficção e autoajuda). Este é o resultado:

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As lojas possuem acervos bem equilibrados, mas a vantagem da Amazon fica clara quando o livro é de um autor independente — essas obras fazem sucesso na loja do Kindle, apesar de não possuírem grande distribuição por não terem uma grande editora por trás. Por outro lado, a Saraiva pode ser mais atraente para pequenos nichos, especialmente advogados e estudantes de Direito. A última edição do Vade Mecum Saraiva e alguns manuais de Direito, por exemplo, são exclusivos da Saraiva.

Fato é que, caso você se limite aos best sellers, não terá muitos problemas em nenhuma das lojas.

O veredicto (ou não)

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Eu realmente gostei do Lev. A Saraiva bem que poderia tentar vender o leitor de ebooks um preço mais agressivo no lançamento para atrair pessoas que já estão interessadas nas outras opções (e facilitar a minha conclusão), mas o Lev é um e-reader que consegue competir de igual para igual com os produtos já consolidados. Com um acervo bom, recursos interessantes e interface rápida, eu diria que um potencial futuro proprietário do Lev não se arrependeria da compra em nenhum momento.

Se antes eu recomendava o Kindle Paperwhite indiscutivelmente como a melhor opção, hoje eu não tenho tanta certeza disso. Ainda acho que a Amazon, por estar há mais tempo no mercado, conseguiu formar um bom ecossistema: uso muito a integração com o Instapaper e o botão para enviar páginas da web para o e-reader, por exemplo, e por isso provavelmente ainda escolheria o Kindle.

No entanto, o Lev chama mais a atenção pelo recurso de PDF Reflow, que funciona bem e daria vida a alguns arquivos que não leio no Kindle Paperwhite pela péssima experiência. Até por isso, o armazenamento interno mais generoso para os arquivos PDF, mais pesados, é uma boa ideia. Por fim, o suporte aos arquivos ePUB, inexistente no leitor de ebooks da Amazon, também é um ponto positivo para a Saraiva.

Por isso, diferentemente do que faço nos outros reviews, não vou definir aqui qual é a melhor compra entre Kindle Paperwhite e Saraiva Lev porque, de fato, não há grandes motivos para não comprar algum deles: você estará muito bem servido com qualquer um dos dois. Permita-me, só desta vez, ficar em cima do muro. 🙂

Especificações técnicas

  • Bateria: até três semanas de duração.
  • Conectividade: Wi-Fi 802.11 b/g/n e Micro USB.
  • Dimensões: 166 x 120 x 9,4 mm.
  • Formatos: ePUB, PDF, FB2, imagens (JPEG, GIF, PNG, BMP, ICO, TIFF e PSD) e texto (TXT e HTML).
  • Memória interna: 4 GB (2,8 GB disponíveis para o usuário).
  • Memória externa: entrada para cartão microSD de até 32 GB.
  • Peso: 190 gramas.
  • Processador: 1 GHz.
  • Tela: e-ink de 6 polegadas com resolução de 1024×758 pixels e iluminação integrada (opcional).

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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