Moto X (2ª geração): o divisor de águas dos smartphones topo de linha

Segunda geração do Moto X tem tela gigante, hardware moderno, construção premium e preço de mid-end.

Thiago Mobilon
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• Atualizado há 11 meses
Moto X (2ª geração) com Apex Launcher

Em 2013, a Motorola apresentou aquela que seria a primeira linha de smartphones da era Google. Os aparelhos chamaram a atenção não apenas por serem muito bem construídos, mas por possuírem uma excelente relação custo-benefício. Com o Moto X, por exemplo, a empresa conseguiu mostrar que os números não são assim tão importantes se você conseguir fazer com que o seu software trabalhe bem com o seu hardware.

Um ano depois, a segunda geração do Moto X chega ao mercado. Será que a empresa manteve o mesmo zelo na produção do aparelho? E ainda, será que conseguiu deixar para trás os pontos negativos da primeira versão?

Passei cerca de 20 dias com ele e essas são as minhas considerações.

Moto X 2014 02-anel

Design e pegada

Um smartphone high-end com “materiais de verdade”. Foi assim que a Motorola apresentou o novo Moto X, dando ênfase ao fato de que, diferente de seus concorrentes, todos os componentes utilizados em seu aparelho são “de verdade”. Isso vale para o corpo de metal, para a traseira de bambu e também para o revestimento em couro. A boa impressão causada pelo aparelho é instantânea (em lugares públicos, exiba com moderação!).

Olhando com mais atenção você capta outros detalhes na construção: traseira curvada, linhas simétricas e alguns detalhes minúsculos que dão um toque especial – como o anel metálico que fica na boca do conector de fone de ouvido e a textura no botão liga/desliga, que garante que você não vá desligar a tela por engano ao controlar o volume.

Comparando com o Moto X de primeira geração, a versão nova foi uma grande evolução em design, mas perdeu ergonomia por conta da tela gigante e da falta de aderência do metal. A traseira curvada e emborrachada dá uma boa pegada ao aparelho, mas só quando você está em pé, com a força G trabalhando a seu favor. Utilizar o aparelho com uma mão só enquanto se está deitado é uma tarefa bem difícil. A minha mão (que é gigante!) não consegue abraçar o aparelho e tocar a tela sem que ele escorregue. Para essa tarefa, fiquei com a sensação de que bordas emborrachadas seriam mais úteis do que este belo acabamento em metal.

Por falar em bordas, as da tela continuam finas, como devem ser. Então a culpa do desconforto é unicamente do tamanho da tela. Se você ainda não está pronto para um aparelho de tela grande… bem, é melhor ir se acostumando. A era dos smartphones para uso com uma mão só está ficando para trás.

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Tela

A tela AMOLED do novo Moto X está mais equilibrada.

Para muitos, o alto contraste e saturação da tela AMOLED do primeiro Moto X foram um problema. Nessa versão as coisas estão um pouco mais sutis, mas essa diferença só é perceptível se você colocar os dois aparelhos lado a lado. No menu de notificações, por exemplo, você consegue notar a diferença entre o fundo completamente preto e o acinzentado das notificações. O mesmo acontece na tela inicial, onde os ícones gritam menos, apesar de serem bastante saturados em comparação às telas LCD.

O Thás citou no que review dele sobre o primeiro Moto X que conseguia perceber a presença de pequenas faixas horizontais na tela, principalmente em fundos brancos. Esse “problema” não está presente nessa versão, mas notei uma distorção sutil ao movimentar a tela. O efeito é parecido com a coloração de uma bolha de sabão e também fica mais evidente quando o fundo é completamente branco. São detalhes que um usuário comum nunca vai captar, mas estão lá para os olhos mais atentos.

A tela mede 5,2 polegadas e a resolução é Full HD, com definição de 424 ppi. Segundo a Motorola, os tamanhos preferidos dos usuários brasileiros são de 5 e 5,2 polegadas. Sendo assim, o irmão mais pobre do Moto X ficou com a tela menor.

Software e multimídia

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Ô Jucileide, me acorda às 8 horas!

O assistente de voz do Moto X agora entende mais comandos e você pode personalizar a sua ativação. Eu, por exemplo, chamei a minha de Jucileide. Eu sei que a modinha é chamar de Jarvis, mas assim posso deitar a cabeça no travesseiro no fim do dia e falar “ô Jucileide, me acorda às 8 horas”. Também é ótimo para geeks fazerem graça com as moçoilas, mas além disso, continuo bastante cético quanto à praticidade das assistentes de voz que temos hoje em português.

No quesito interface, não há muito o que dizer: os aparelhos da Motorola utilizam o Android praticamente puro. Suas personalizações estão presentes no formato de apps, que podem ser atualizados de forma modular através da Play Store. Na prática, isso significa que você deve receber as novas versões do Android quase que instantaneamente no seu aparelho. O launcher padrão é o Google Now Launcher.

Existe um certo nível de sensibilidade na interpretação da fala que ativa a assistente. Renato Arradi, gerente de produto da Motorola, me explicou que, quanto mais sensível, mais falso-positivos teremos. Por outro lado, se reduzirmos demais essa sensibilidade, é capaz que o aparelho não te entenda em um ambiente que esteja com um mínimo de ruído. É muito difícil chegar a um meio termo, então é natural que você tenha falso-positivos, bem como comandos que não foram identificados.

Mesmo no Moto X de primeira geração, já aconteceu várias vezes comigo de estar na mesa do bar ou em qualquer outro ambiente e ele ativar o assistente sem que eu desse o comando. A sensação que eu tive é que esses falso-positivos se intensificaram na segunda geração. Para você ter uma ideia, a Jucileide já achou que eu estava falando com ela ao assistir TV, ouvir música clássica instrumental, andando na rua e até com o “clac” de ajuste no retrovisor central do carro (!!!). Ok, nesse último caso, ela deve ter se embolado com o som do motor, mas o rádio estava desligado.

Talvez esse aumento nos falso-positivos seja culpa da frase que escolhi (ninguém mandou chamar de Jucileide, né?) e isso não ocorra com a frase padrão “Ok Google Now”. Talvez. Mas já que isso é um review, achei importante anotar.

A Moto Tela também está mais inteligente. Com o auxílio de quatro sensores infravermelho, posicionados ao redor da tela, ela consegue detectar quando a sua mão se aproxima do aparelho para exibir as notificações. Você também consegue visualizar detalhes de todas as suas notificações e não apenas da última, como acontecia na versão anterior.

Também se aproveitando desses sensores, é possível ignorar chamadas: basta passar a mão por cima da tela.

De resto, mantêm-se os recursos da versão anterior: agite o aparelho para abrir a câmera e utilize o Assist para silenciar o aparelho durante o sono/reuniões, ou para ler suas mensagens e tocar música enquanto você dirige. Tudo de forma automatizada, integrando-se com o seu calendário, GPS e dispositivos Bluetooth conhecidos.

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Câmera

Um dos piores atributos do primeiro Moto X era o seu sensor de 10 MP. Não pela resolução, mas pela qualidade das imagens, que eram apenas razoáveis. A nova versão carrega um sensor de 13 MP que faz sim fotos melhores, mas ainda não se compara com os de outros aparelhos topo de linha. As cores carregam um nível de saturação um pouco acima da realidade e no geral as fotos saem granuladas, mesmo em ambientes abertos e bem iluminados.

Em fotos onde havia um ponto branco ou mais claro, ficou parecendo que apliquei uma camada do filtro “brilho difuso” no Photoshop – esse efeito deixa a imagem com uma granulação branca que sai das partes claras, invadindo os elementos mais próximos. Também dá uma sensação de que a imagem está um pouco embaçada. Seria o caso clássico de “it’s not a bug, it’s a feature”? 😛

Para entender melhor, veja a foto da cafeteira na galeria acima.

O foco está muito mais rápido e os LEDs duplos conseguem produzir imagens menos estouradas em ambientes com pouca ou nenhuma iluminação. Já a correção por software está presente, mas senti que foi reduzida, talvez para preservar os detalhes da imagem. Isso produz camisetas e cabelos menos lavados e com textura, porém aumenta também a quantidade de ruído, principalmente em ambientes com pouca iluminação.

Na comparação abaixo, repare na blusinha da moça de branco – na primeira foto ela está bem estourada, enquanto que na segunda é possível ver as dobras do tecido. Surpreendentemente, se formos analisar a imagem como um todo, dá para dizer que a do primeiro Moto X ficou bem melhor, pois a do segundo ficou esverdeada e bem granulada.

Moto X 2014
Moto X (2ª geração)
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Moto X (1ª geração)
 

Em ambientes com mais iluminação, o novo Moto X se saiu um pouco melhor, apesar de exagerar no contraste e saturação. No modo HDR a diferença é gritante – ele consegue capturar o melhor dos dois extremos, enquanto o primeiro se confunde na hora de calcular a luminosidade ideal. Para ser justo, capturei as fotos abaixo com o mesmo ponto de foco.

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Moto X (1ª geração)
Moto X 2ª geração
Moto X (2ª geração)
 
Primeira geração VS Segunda geração
Primeira geração e segunda geração

Na câmera frontal a resolução continua a mesma, de 2 MP. Se no início essa câmera era desimportante e servia apenas para videochamadas (leia-se Skype), hoje ela é muito utilizada para fazer as famosas selfies. Sendo assim, os usuários cada vez mais procuram câmeras frontais que consigam ter um bom desempenho em ambientes com baixa iluminação – bares, baladas e eventos noturnos, locais mais propícios para essa modalidade de fotografia.

A câmera frontal está cada vez mais relevante.

Nesse ponto o Moto X de segunda geração ainda não é a melhor escolha. A câmera frontal possui uma configuração muito estranha: funciona normalmente em ambientes com boa iluminação, mas, conforme a luz é reduzida, a taxa de atualização da câmera também diminui e o sensor puxa a coloração para tons de magenta. Para simplificar: em ambientes sem iluminação, a câmera frontal do Moto X parece uma câmera de segurança.

Levantei essa questão também ao Renato Arradi e ele disse que mais uma vez é um caso de chegar ao meio termo: diminuindo a taxa de atualização, você consegue captar mais iluminação. Isso não acontece na primeira geração, mas o ponto positivo é que, por ser uma configuração de software, é de se esperar que a Motorola melhore esse ponto nas próximas atualizações, como fez também com a câmera traseira do Moto X de 1ª geração.

Você conquistou um novo badge: selfie em um review!
Você conquistou um novo badge: selfie em um review!

A câmera do Moto X também vai agradar aos três proprietários brasileiros de televisores na resolução 4K. Para o resto dos mortais, é um recurso que será usado apenas uma vez e depois esquecido. Essa resolução também é interessante para produtores de conteúdo audiovisual, pois assim podem cortar um pedaço da imagem na edição, alternando ângulos, por exemplo, para gerar uma filmagem mais dinâmica. No entanto, um produtor que se preze não vai utilizar um celular para seus vídeos.

Em meus testes, um vídeo de 1min31s gerou um arquivo de 549 MB. Isso dá mais de 6 MB por segundo (!!!) de filmagem, ou um arquivo de até 2 GB para um vídeo de apenas 5 minutos. Haja HD externo para armazenar tanto arquivo! Sem contar que não consegui assistir ao vídeo no meu MacBook com processador Core 2 Duo de 2,4 GHz — o áudio foi reproduzido, mas só consegui ver um frame a cada vários segundos.

Abaixo uma gravação de teste da câmera 4K do Moto X.

Bateria e desempenho

Se formos categorizar os aparelhos em uma escala de 1 a 5 com base em seu hardware, o Moto E estaria na categoria 2, Moto G na categoria 3 e Moto X (2013) na categoria 4. Sim, ele era o flagship da Motorola e conseguia oferecer desempenho muito bom com seu Snapdragon S4 Pro dual-core de 1,7 GHz, graças às boas otimizações que a Motorola implementou no Android. Mas ainda não dava para compará-lo com Galaxy S4 e os “verdadeiros” high-end disponíveis no mercado.

Em nossos benchmarks, o primeiro Moto X conseguiu até superar os seus concorrentes em algumas tarefas, talvez pela resolução menor da tela, que exigia menos do hardware. Mas ele ainda não era um high-end. A pequena diferença (de preço e de hardware) entre ele e o Moto G também fazia com que muita gente optasse pelo segundo, devido ao custo-benefício incrível que ele oferece.

A Motorola percebeu isso e turbinou o novo Moto X. Agora ele é equipado com um Snarpdragon 801 quad-core de 2,5 GHz e os mesmos 2 GB de RAM. A empresa também elevou o nível do jogo e equipou o aparelho com 32 GB de armazenamento interno, quantidade que considero crucial para qualquer smartphone da categoria hoje em dia.

A diferença de performance entre as versões é notável. Enquanto a primeira geração já começa a apresentar alguns lags e travadinhas, na nova tudo funciona de forma lisa e sem engasgos.

Com o aumento na quantidade de núcleos, um grande temor foi a duração da bateria. Sua capacidade cresceu apenas 100 mAh, chegando aos 2.300 mAh. Porém, na prática, o ganho foi muito maior do que o numérico, principalmente com o aparelho no modo ocioso ou com pouco uso da tela.

Nesse ponto a Moto Tela ajuda muito. Exibindo mais detalhes sobre as notificações, você acaba ligando ainda menos o aparelho para ver o que aconteceu. E graças ao display AMOLED, que não precisa acender o painel inteiro ao exibir as notificações, a economia é ainda maior. Os sensores infravermelho também ajudam, já que o aparelho deixa de piscar as notificações tantas vezes e acende só quando a sua mão se aproxima.

Nos nossos testes intensivos, o Moto X também se saiu muito bem. Coloquei o brilho da tela no máximo, configurei o volume do falante externo em 90% e deixei ele reproduzindo filmes na Netflix utilizando a conexão Wi-Fi. Consideramos que, nessas condições, um aparelho bom consegue segurar a carga entre 5h e 5h30min. O Moto X funcionou por seis horas.

Outro ponto que ajuda a economizar a bateria são os processadores contextual e de linguagem, responsáveis por monitorar os sensores e a assistente de voz. Por não serem desenhados com foco em performance, são chips extremamente econômicos que cumprem as suas funções perfeitamente. Dessa forma os núcleos principais podem ficar em modo de espera, economizando bateria. Isso explica a boa duração, mesmo com o pequeno aumento da bateria e a adoção de um Snapdragon 801.

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Fone de ouvido e falante embutido

A Motorola também redesenhou completamente os fones de ouvido do aparelho. Enquanto o primeiro embarcava apenas uma versão comum dos fones da empresa, o novo traz um um fone branco, com um design que segue a linha adotada pela Apple. No meio dos fones temos um pequeno orifício, responsável pelos graves, e nas pontas temos o drive, responsável pelo resto dos timbres.

É uma evolução e tanto em relação ao anterior, mas não espere uma performance sonora similar aos modelos premium. O ganho nos graves é notável e até empolga em algumas músicas, mas o som enlatado ainda está ali de alguma forma. Também senti uma leve falta de ganho no volume, detalhe que deve incomodar quem usa o transporte público todos os dias. No geral, o fone deve satisfazer os usuários menos exigentes.

Há de se levar em conta, também, o preço de lançamento do Moto X. Por R$ 1.799, 300 reais a mais, o Nexus 5 sequer possuía fones de ouvido.

Outro ponto positivo é o falante embutido – antes ele ficava ao lado da câmera, na parte traseira, e agora fica na frente, junto com o microfone. É uma mudança pequena, que melhora a usabilidade, mas pode atrapalhar na hora de fazer ligações no modo viva voz – como o falante fica encostado no microfone, a tarefa de eliminação de retorno fica um pouco mais complicada. Fiquei um pouco frustrado em saber que o falante não era estéreo, diferente do novo Moto G, que possui dois frontais.

De qualquer forma, recomendamos fortemente que você jamais use o falante embutido em público, exceto em casos de extrema necessidade.

Conclusão

O Moto X de 2ª geração é um aparelho realmente empolgante. O fato de ele entregar um hardware topo de linha, com um acabamento premium e por um preço de lançamento de apenas 1.499 reais, o torna uma opção realmente incrível. Ficou claro para mim, como discutimos no Tecnocast 008, que a Motorola precisou aumentar a diferença entre o Moto X e o Moto G, até para evitar o fogo amigo.

Hardware topo de linha, acabamento premium e preço atraente.

Não dá para dizer que ele é o melhor em tudo o que faz. Ele não tem a resolução de tela do LG G3, a câmera do Lumia 1020 ou os fones de ouvido da Apple. Mas você não consegue ver pixels em sua tela, tem sempre o instagram para “arrumar” as suas fotos e, se realmente se importa com fones de ouvido, é provavel que já tenha um melhor na sua casa.

O aparelho é inteligente desde a sua concepção e entrega isso cobrando mil reais a menos do que seus concorrentes. Como a Motorola conseguiu entregar tanto valor sem pedir os nossos rins em troca? Eu não sei bem. Mas espero que as outras fabricantes descubram por nós.

Especificações técnicas

  • Bateria: 2.300 mAh.
  • Câmera: 13 megapixels (traseira) e 2 megapixels (frontal).
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, Bluetooth 4.0, USB 2.0 e NFC.
  • Dimensões: 140,8 x 72,4 x 10,0 mm.
  • GPU: Adreno 330.
  • Memória externa: sem suporte a cartão de memória.
  • Memória interna: 32 GB.
  • Memória RAM: 2 GB.
  • Peso: 144 gramas.
  • Plataforma: Android 4.4.4 (KitKat).
  • Processador: quad-core Snapdragon 801 de 2,5 GHz.
  • Sensores: acelerômetro, bússola, proximidade, giroscópio, barômetro, temperatura, movimento.
  • Tela: AMOLED de 5,2 polegadas com resolução de 1920×1080 pixels e proteção Gorilla Glass 3.

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Thiago Mobilon

Thiago Mobilon

Founder & CEO

Começou a empreender aos 18 anos, fazendo manutenção de computadores e artes gráficas. Criou o Tecnoblog para ser uma espécie de laboratório, onde contaria as suas experiências com eletrônicos e, de quebra, poderia aprender sobre programação e servidores. No entanto o site cresceu rapidamente, se transformando em uma empresa de mídia digital.

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