Sistemas de captcha existem para impedir que robôs façam requisições automatizadas a determinado serviço ou conteúdo. Na teoria, apenas humanos conseguem decodificar as letrinhas e resolver um captcha. Na prática, alguns algoritmos avançados alcançam uma taxa de sucesso superior a 90%. Mas há uma terceira solução: um serviço que usa humanos de verdade para decifrar os captchas e automatizar o processo.

O Anti Captcha é um serviço que existe desde 2007 e fornece uma API para que desenvolvedores criem softwares que consigam quebrar a proteção por captcha. No serviço, um captcha é atribuído a um trabalhador, que decifra o que está escrito na imagem e retorna o resultado. Por causa do fator humano, há um tempo gasto entre o envio do captcha, o trabalho humano e o retorno do captcha decifrado — de acordo com o serviço, um captcha é resolvido, em média, em 15 segundos.

A explicação do Anti Captcha para atrair clientes é triste e ao mesmo tempo cômica. Nas palavras da empresa (grifo nosso): “100% dos captchas são resolvidos por trabalhadores humanos ao redor do mundo. É por isso que, usando nosso serviço, você pode ajudar milhares de pessoas a alimentarem a si e a suas famílias. Um trabalhador médio ganha US$ 100 por mês, o que é um salário muito bom em países como Índia, Paquistão, Vietnã e outros. Com a sua ajuda, agora eles têm uma escolha entre trabalhar em indústrias poluídas e trabalhar em frente a um computador.”

Então tá.

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O serviço me chamou a atenção por fazer parte do Trojan-SMS.AndroidOS.Podec, um trojan para Android que se espalhou pela Rússia e usa o Anti Captcha (anteriormente conhecido como Antigate) para quebrar captchas. Descoberto recentemente pela Kaspersky, o trojan envia mensagens de texto sem a autorização do usuário para se inscrever automaticamente em serviços que requerem pagamento, roubando os créditos do usuário ou causando uma surpresa nada agradável na conta do celular.

Interessados em ganhar uma fração de centavo de dólar para resolver um captcha são submetidos a regras bastante rígidas. Caso um trabalhador forneça uma resposta com alguns erros para um captcha, ele recebe uma advertência — após cinco avisos, a conta é banida automaticamente. Além disso, se a resposta for completamente incorreta, ele é sumariamente banido do sistema em algumas horas. Nos dois casos, o escasso dinheiro ganho com o trabalho é totalmente perdido.

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Para receber um pagamento, é necessário atingir um mínimo de US$ 1, o que é pouquíssimo dinheiro, mas parece demandar bastante trabalho. Depois de cinco minutos resolvendo 49 captchas, o suficiente para me deixar mentalmente cansado, meus ganhos foram de exatamente US$ 0,023667, o que seria útil para comprar um pedaço de uma esfiha de carne do Habib’s quando eu tinha seis ou sete anos de idade.

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Mesmo os melhores decifradores de captcha ganham uma quantia irrisória. O sistema mostra para todos os usuários uma lista dos 100 melhores trabalhadores. No topo do ranking, o maior felizardo do mês havia conseguido juntar US$ 189,76. O segundo e terceiro colocados acumularam US$ 170,07 e US$ 145,92, respectivamente. Não sei se isso seria suficiente para tratar uma lesão por esforço repetitivo na Índia, Paquistão ou Vietnã, mas espero que eles consigam resgatar o dinheiro antes de serem banidos por terem errado um captcha.

Pelo menos eles vão conseguir alimentar suas famílias. Tomara.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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