Cérebro

Um grupo de 22 pessoas diagnosticadas com esquizofrenia passou quatro semanas jogando Wizard no iPad, um app para treinamento cerebral. A ideia partiu de pesquisadores da Universidade de Cambridge interessados em saber se o game pode, de alguma forma, ajudar no tratamento da condição. Os resultados foram animadores.

A esquizofrenia é um transtorno mental normalmente associado à perda do contato com a realidade. Mas a pessoa que sofre do problema pode apresentar uma série de outras mudanças comportamentais, como apatia, desorientação e perda de memória.

Nos experimentos conduzidos pela professora Barbara Sahakian e equipe, o jogo Wizard mostrou-se como um aliado para melhorar as funções cognitivas (atenção, percepção, raciocínio, associação, memória e por aí vai) dos pacientes, especialmente em relação à memória episódica, aquela que é dedicada à lembrança de eventos passados. Você a usa, por exemplo, para saber onde estacionou o carro.

Resultado de um trabalho envolvendo psicólogos, neurocientistas e, claro, programadores, o aplicativo demorou nove meses para ficar pronto. Pudera: vários detalhes foram considerados, inclusive recompensas para dar ao jogador sensação de progresso (afinal, estamos falando de um game, certo?).

Após as quatro semanas, os pesquisadores avaliaram os 22 pacientes com um teste de memória específico. Em comparação com um grupo que recebeu tratamento habitual, os jogadores apresentaram muito menos erros no teste.

Não foi só a memória que melhorou. Os pesquisadores notaram que muitos pacientes passaram a ter mais motivação e, portanto, devem continuar jogando. Aliás, os mais motivados foram justamente os que apresentaram os melhores resultados no teste de memória.

Wizard app

Aplicativos que se vendem como treinamento para o cérebro vêm ganhando popularidade. Entretanto, há neurocientistas e outros profissionais da saúde que têm lá suas dúvidas sobre a eficácia dessas ferramentas, embora haja consenso de que “exercitar” o cérebro é importante.

“O jogo de memória pode ajudar onde as drogas não fazem efeito”

Assim, fica claro que testes mais abrangentes são necessários para provar que o Wizard realmente cumpre o que promete. Existe um bom motivo para os pesquisadores continuarem engajados: há tratamentos muito satisfatórios para esquizofrenia, mas o progresso para tratar de consequências cognitivas é lento. “Este estudo de prova de conceito é importante porque demonstra que o jogo de memória pode ajudar onde as drogas não fazem efeito”, comenta Sahakian.

O plano é aliar jogos com medicamentos e terapias atuais, de modo complementar mesmo. Essa combinação pode ajudar, por exemplo, a aumentar a empregabilidade de pessoas com esquizofrenia. Embora elas possam trabalhar quando devidamente tratadas, os problemas cognitivos muitas vezes dificultam o exercício de alguma função.

Atualmente, o módulo do Wizard faz parte do Peak, um dos mais populares apps de treinamento cerebral. Há versões para Android e iOS.

Com informações: The Guardian

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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