Não é bruxaria, é tecnologia: como a hoverboard da Lexus funciona

Prancha precisa de um ímã permanente e precisa ser resfriada a todo momento por nitrogênio líquido

Jean Prado
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• Atualizado há 11 meses

É difícil acreditar que uma hoverboard possa realmente existir. Já fomos enganados com a HUVr, uma prancha futurística que só fazia parte de uma campanha para ser viral. A dúvida voltou quando a Lexus divulgou há algumas semanas um teaser mostrando sua própria hoverboard. Agora, com mais detalhes, dá para saber como ela funciona (e alguns segredinhos vão ser revelados).

A Slide, como a Lexus batizou sua hoverboard, não flutua por mágica: o conceito físico aplicado na prancha é chamado de levitação magnética. Sem complicar muito, ímãs e supercondutores trabalham juntos em baixíssimas temperaturas para fazer com que campos magnéticos se repilam, criando uma espécie de levitação.

Se você dormiu nas aulas de física do ensino médio, supercondutores são materiais que, quando submetidos a temperaturas muito baixas, não têm nenhuma resistência elétrica. Ao serem combinados com ímãs, ocorre o efeito de superdiamagnetismo, em que a permeabilidade magnética é igual a zero (ou seja, não há campo magnético no interior do material).

Assim, quando colocado sobre um ímã permanente, o supercondutor fica preso no campo magnético permanente e, enquanto estiver muito frio, vai continuar flutuando. A tarefa, a partir dessa parte, fica por conta de dois criostatos embutidos na prancha, que esfriam o supercondutor a uma temperatura de -197 ºC a partir de nitrogênio líquido. A imagem abaixo mostra a harmonia de tudo:

lexus-hoverboard-2

Assim, não só é necessária uma trilha de ímãs para repelirem o supercondutor, como também ele precisa ser resfriado a todo momento por nitrogênio líquido. O presidente da Evico, empresa especializada em levitação magnética que trabalhou junto com a Lexus nesse projeto, explica:

“O campo magnético da trilha está efetivamente ‘congelado’ dentro dos supercondutores na prancha, fazendo com que a distância entre a prancha e a trilha seja mantida ― essencialmente mantendo a prancha flutuando. A energia é forte o suficiente para permitir uma pessoa a ficar de pé ou até pular na prancha”.

Não foi à toa que a Lexus construiu um “hoverpark” em Barcelona. Isto é, um parque que tem pistas similares às de skate, mas tem uma trilha magnética de 200 m por baixo, que é unicamente onde a mágica acontece. Parte do chão do hoverpark, aliás, é coberto com gesso (e não cimento) para não atrapalhar o funcionamento dos campos magnéticos.

Se você ainda não viu o vídeo promocional da Slide (acima), preste atenção em como há um trajeto único a ser percorrido. A trilha magnética, inclusive, está embutida no pequeno lago que fica no meio do parque, mais visível em outro vídeo feito pelo The Verge:

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Todo o trajeto foi percorrido pelo skatista profissional Ross McGouran, contratado pela Lexus para fazer parte da campanha “Amazing in Motion”. Ele conta como foi o processo de aprendizado: “passei 20 anos andando de skate, mas sem o atrito parece que eu tive que aprender uma habilidade totalmente nova, principalmente na postura e equilíbrio que você precisa para andar na hoverboard”.

A slide na verdade é uma jogada de marketing (muito bem feita, por sinal)

A Lexus também divulgou um vídeo que mostra todo o processo de criação da hoverboard, que durou 18 meses. Dá para perceber que a Slide na verdade é uma jogada de marketing (muito bem feita, por sinal). Não foi a Lexus que foi responsável pela mágica da prancha: ela contratou times de pesquisadores da IFW Dresden, da Alemanha, e Evico, uma subsidiária da IFW. A fabricante japonesa ficou por conta apenas do acabamento da Slide (que ficou excelente). Assista ao processo de criação abaixo:

Apesar de parecer que acabamos de dar um passo para o futuro, já existem aparelhos que usam a levitação magnética há pelo menos uns dois anos. Um exemplo é outra hoverboard, chamada de Hendo Hover. O funcionamento é essencialmente o mesmo: a prancha flutua a 2,5 cm do chão apenas em superfícies de alumínio usando campos magnéticos e aguenta até 140 kg.

A Hendo Hover fez parte de uma campanha de sucesso no Kickstarter no ano passado e arrecadou cerca de meio milhão de dólares. Na época, seu criador, Greg Henderson, contou que ela foi inspirada na arquitetura: “se você pode levitar um trem que pesa 50 mil quilos, por que não uma casa?”.

Trem que usa Maglev em uma estação em Xangai. (Foto: Flickr/Louis Allen)
Trem que usa Maglev em uma estação em Xangai. (Foto: Flickr/Louis Allen)

Sim, Henderson não está maluco. Se você não lembra, a série de trens L0 no Japão usa a levitação magnética para alcançar velocidades superiores a 500 km/h (!), mas só deve ficar disponível para o público em meados de 2027. Por outro lado, em Xangai, a linha Chinese Dolphin Maglev é usada desde 2003 para movimentar trens usando ímãs e supercondutores.

Baseado na mesma tecnologia, já existe um projeto parecido no Brasil: o Maglev Cobra. Desenvolvido por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Cobra usa apenas energia elétrica, trabalha numa velocidade média de 70 km/h e os pesquisadores estimam que o custo de produção é equivale a um terço do que custa o metrô.

Infelizmente, fora a Hendo Hover, que custa US$ 10 mil, as grandes soluções que usam a levitação magnética ainda estão longe do alcance do público. A Lexus, por exemplo, não pretende nem levar a Slide ao mercado.

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.

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