Zenfone 2: mais hardware por menos dinheiro

Hardware de ponta: smartphone da Asus tem processador quad-core Intel Atom e 4 GB de RAM.
Lançamento da taiwanesa chega ao Brasil com preço sugerido a partir de R$ 1.299.

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 11 meses

Em 2014, a Asus conseguiu fazer uma bela estreia no mercado brasileiro de smartphones. Num segmento que era totalmente dominado pela Motorola, a taiwanesa, até então pouco conhecida pelo público em geral, conseguiu lançar dois aparelhos com relação custo-benefício que agradaram bastante: Zenfone 5 e Zenfone 6. Eles tinham preços muito atraentes para o hardware potente que ofereciam.

Um ano depois, a Asus está querendo repetir a história com o Zenfone 2, um smartphone mais caro, mas que possui hardware ainda mais poderoso — e com o chamariz dos exagerados 4 GB de RAM, uma característica inexistente na faixa de preço que o aparelho da Asus será vendido no Brasil, de R$ 1.299 a R$ 1.499. Vale a pena? Depois de algumas semanas com o Zenfone 2 em mãos, conto tudo nos próximos parágrafos.

Design e tela

A Asus manteve a identidade visual que usou nos Zenfones anteriores. Isso é bom, porque o design da marca passa uma boa impressão: a base com linhas concêntricas reflete a luz de maneira elegante, e o aparelho não tem cara de ser “barato”. Mas isso também é ruim, porque os velhos problemas foram mantidos (e alguns novos foram adicionados).

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A traseira do modelo que testei é feita de plástico na cor grafite com acabamento “escovado”, lembrando bastante o LG G3. Os pequenos relevos sentidos ao toque dão a impressão inicial de que a aderência não é boa, mas na prática o aparelho não se mostrou escorregadio. A leve curvatura também ajuda na ergonomia do aparelho, que encaixa melhor nas mãos.

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Ao mesmo tempo, a Asus manteve as bordas anormalmente grandes em volta do display, fazendo um smartphone de 5,5 polegadas ficar ainda maior. Somando a largura desconfortável à espessura (10,9 mm no ponto máximo), a pegada não ficou boa. A localização do botão liga/desliga, no topo do aparelho, não faz sentido num phablet, é muito antiergonômica. A boa notícia é que você não precisará apertá-lo, já que a Asus fez boas modificações no software, que detalharei adiante.

Já a tela do Zenfone 2 agrada, embora não seja perfeita. É um painel IPS LCD decente, com ângulo de visão satisfatório e excelente resolução (1920×1080 pixels), mas que peca na falta de brilho — se você colocar o Zenfone 2 ao lado de outro aparelho equivalente mostrando uma tela branca, o aparelho da Asus quase sempre terá o display mais escuro. Você não terá problemas ao usar o Zenfone 2 em ambientes internos, mas talvez precise fazer algumas sombras com a mão em dias ensolarados.

Software

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Eu já disse algumas vezes que gosto da personalização da Asus: a ZenUI é bastante modificada em relação ao Android original, mas não prejudica o desempenho, ao menos nos três smartphones da Asus que testei até agora, e traz diversos recursos que são úteis e melhoram a experiência de uso. O problema é que a interface da Asus está cada vez mais poluída e o Zenfone 2 traz uma série de apps novos de utilidade questionável; é um retrocesso em relação à geração anterior.

Esse problema ficou mais evidente para mim depois da chegada da Xiaomi ao Brasil e sua MIUI. A diferença básica entre MIUI e ZenUI, ambas muito diferentes do Android original e trazendo funções adicionais bacanas, é que a Xiaomi conseguiu integrar tudo de forma harmônica, com ícones e interfaces que conversam entre si. Na ZenUI atual, minha impressão é que tudo está bagunçado e jogado, reforçando a sensação de que há um monte de crapware — as boas mudanças são ofuscadas pelos desleixos.

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Olhando pelo lado bom, há o Gerenciador de Arquivos, que integra suas contas do Dropbox, Google Drive e OneDrive no mesmo local e permite copiar arquivos entre eles; o Asus Backup, que faz cópias dos dados de aplicativos a sua escolha (e provavelmente agradará a quem já usou o Titanium Backup); e os aplicativos Link, para controlar seu smartphone remotamente a partir do computador.

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Entre os aplicativos pré-instalados, a Asus colocou um antivírus da Trend Micro, o limpador Clean Master (num smartphone com 4 GB de RAM, e olha que há outro otimizador nativo da Asus pré-instalado), o leitor de revistas Zinio, atalhos para joguinhos de demonstração, um ícone para um papel de parede animado (?) e redes sociais próprias, como Omlet Chat e ZenCircle, que fazem pouco sentido num mercado onde WhatsApp e Instagram estão mais que consolidados.

Há boas funcionalidades embutidas no software da Asus. Você não precisa usar o botão liga/desliga posicionado no topo: para ligar a tela, dê dois toques nela; para desligá-la, dê dois toques na barra superior. E você pode usar gestos: ao desenhar um “C” na tela desligada, por exemplo, o aplicativo da câmera será imediatamente aberto. Também é possível definir letras especificas para cada aplicativo.

Outra sacada interessante é o fato da ZenUI ter sido desmembrada em várias partes. Isso é importante porque, embora a base do Zenfone 2 continue sendo o Android 5.0, a Asus consegue distribuir rapidamente correções de segurança para os aplicativos nativos pela Play Store. A taiwanesa também costuma lançar pacotes de atualizações com frequência — foram pelo menos dois nos últimos 30 dias em que fiquei com o aparelho.

Câmera

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A câmera do Zenfone 2 entrega resultados satisfatórios dentro da faixa de preço. Não é uma câmera de topo, mas é uma câmera que entrega fotos aceitáveis, com nível de ruído controlado e cores fortes. Além disso, o aplicativo de câmera da Asus é bastante completo, com uma série de modos que ajudam em certas situações.

Vendo as fotos mais de perto, é possível notar certa falta de definição e alguns artefatos ou deformações causadas pelo algoritmo de pós-processamento. O alcance dinâmico não é muito amplo, o que frequentemente gera fotos com luzes estouradas em cenários mais iluminados. O HDR funciona bem, mas por vezes adiciona pequenos ruídos nas imagens, como você pode perceber no céu abaixo.

Sem HDR
Sem HDR
Com HDR
Com HDR
HDR desativado, céu estourado
HDR desativado, céu estourado
HDR ativado, bem melhor
HDR ativado, bem melhor

Uma característica dos Zenfones da geração passada, de tratar “em excesso” as fotos, continua presente. Isso significa que a câmera do Zenfone 2 não agradará aos que preferem imagens mais naturais: em algumas fotos, achei a saturação bastante exagerada, quase gritando nos olhos. Mas o software faz um bom trabalho em criar fotos “bonitas de se ver” e provavelmente irá atender as necessidades do usuário médio.

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O aplicativo de câmera, embora pareça ter opções demais numa primeira olhada, é simples de usar e traz algumas funções bem-vindas. Na hora de tirar uma selfie com temporizador, por exemplo, basta arrastar o botão de tirar foto para cima e a contagem regressiva se iniciará. Mais fácil que isso, só por telepatia.

Os modos específicos também são bacanas em certas ocasiões, como o Super Resolução — nele, há um ou dois segundos de processamento adicionais para tornar a imagem mais nítida. Pode ser uma boa ideia ativá-lo quando você quiser tirar fotos de objetos estáticos e detalhados. Se quiser ter mais controle sobre a imagem, o modo manual tem opções para ajustar balanço de branco (em Kelvin), velocidade do obturador (infelizmente, sem velocidades abaixo de 1/2 segundo), foco e ISO.

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Hardware e bateria

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O Zenfone 2 vendido no Brasil tem processador quad-core Intel Atom Z3580 de 2,33 GHz. Trata-se de uma CPU com arquitetura x86, que acompanha a GPU PowerVR G6430, a mesma usada no iPhone 5s. Existem versões com 16 GB ou 32 GB de armazenamento interno (com expansão por microSD), sempre com 4 GB de RAM.

O conjunto é bastante competente e consegue rodar bem qualquer jogo pesado. Não tive problemas com Real Racing 3, Modern Combat 5 e Dead Trigger 2 (com os gráficos no alto). Os 4 GB de memória permitem que vários aplicativos consigam rodar ao mesmo tempo, sem recarregar; é o melhor desempenho multitarefa que já presenciei num smartphone.

A bateria de 3.000 mAh gera grandes expectativas devido a alta capacidade, mas na prática a autonomia fica na média do que encontramos em aparelhos com baterias na casa dos 2.000 mAh. No meu caso, cheguei em casa quase todos os dias com algo entre 0% e 20% de bateria. Pelo menos o carregamento é bem rápido usando o carregador que acompanha o Zenfone 2 de 32 GB: fui capaz de elevar a bateria de 0% a 60% em cerca de 45 minutos.

No dia de teste, tirei o Zenfone 2 da tomada às 11h. Ouvi músicas e podcasts por streaming no 4G por 2h e naveguei na internet pelo 4G, entre emails, redes sociais e páginas da web, por cerca de 1h40min. A tela ficou ligada por exatamente 1h52min, sempre com brilho no automático. Às 23h, a bateria chegou a 13%.

O smartphone da Asus, portanto, conseguirá aguentar um dia inteiro de uso, mas com sufoco para algumas pessoas. É bom não esquecer a bateria externa ou o carregador, que podem te salvar num momento difícil.

Conclusão

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O que dizer do Zenfone 2? É um aparelho que tem seus prós e contras: o desempenho multitarefa surpreende com os 4 GB de RAM, o acabamento passa uma boa impressão e a câmera consegue tirar fotos que agradam; em compensação, a bateria é apenas razoável (ou decepcionante, dependendo do seu ponto de vista), o software é bastante poluído e a tela está abaixo da média.

Mas fica difícil não recomendar o lançamento da Asus quando consideramos o preço. Por R$ 1.299 (16 GB) ou R$ 1.499 (32 GB), o Zenfone 2 simplesmente não tem concorrentes à altura, especialmente pelos 4 GB de RAM, que tornam o smartphone único no mercado — até mesmo os flagships atuais, que custam mais que o dobro, chegam a 3 GB de RAM. Para quem usa vários aplicativos ao mesmo tempo e não quer se preocupar em gerenciá-los, esse gigabyte extra faz diferença.

O Zenfone 2 é uma aposta extremamente ousada da Asus e, considerando a situação econômica do país e a cotação altíssima do dólar, é difícil entender como os taiwaneses estão ganhando dinheiro no Brasil. Nessa faixa de preço, o Zenfone 2 é a melhor escolha do momento. As outras fabricantes vão precisar reajustar seus preços se quiserem continuar competitivas.

Especificações técnicas

  • Bateria: 3.000 mAh;
  • Câmera: 13 megapixels (traseira) e 5 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, Bluetooth 4.0, USB 2.0;
  • Dimensões: 152,5 x 77,2 x 10,9 mm;
  • GPU: PowerVR G6430;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 64 GB;
  • Memória interna: 16 GB ou 32 GB;
  • Memória RAM: 4 GB;
  • Peso: 170 gramas;
  • Plataforma: Android 5.0 (Lollipop);
  • Processador: quad-core Intel Atom Z3580 de 2,33 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, giroscópio, bússola;
  • Tela: IPS LCD de 5,5 polegadas com resolução de 1920×1080 pixels e proteção Gorilla Glass 3.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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