Moto X Play: o Android para quem gosta de bateria

Bateria de 3.630 mAh do Moto X Play aguenta um dia inteiro de uso intenso.
Novo smartphone da Motorola tem câmera boa e chega ao Brasil custando a partir de R$ 1.399.

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 10 meses

A terceira geração do Moto X chegou. O primeiro a chegar ao país, Moto X Play, aposta na receita de sucesso do Moto Maxx, trazendo uma bateria gigante de 3.630 mAh, mas hardware mais econômico e preço inferior. Custando a partir de R$ 1.399, o novo smartphone da Motorola promete, além de entregar boa duração de bateria, uma câmera superior e desempenho para você fazer tudo o que quiser. Será que cumpre?

É sério que a Motorola finalmente conseguiu lançar um smartphone com câmera acima da média? Como ficou o acabamento, agora que a empresa construiu um corpo de plástico? E o desempenho? Esse Snapdragon 615 rende? Usei o Moto X Play como meu aparelho principal na última semana e nos próximos parágrafos você confere todas as respostas.

Design e tela

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Em muitos pontos, o acabamento do Moto X Play é um retrocesso em relação à geração passada do Moto X. Os materiais “de verdade” que a Motorola tinha orgulho de usar no topo de linha anterior, como as bordas de alumínio e as traseiras de madeira ou couro legítimo, ficaram restritos ao modelo mais caro, o Moto X Style, que desembarcará no Brasil em setembro.

No Moto X Play, enxergo um Moto G turbinado. O aparelho é todo feito de plástico pintado e não impressiona pela precisão no acabamento. A traseira é fabricada com plástico macio ao toque e possui uma textura interessante, mas que não parece ter colaborado com o grip; por duas ou três vezes, o aparelho quase escorregou das minhas mãos.

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É a primeira vez que a Motorola coloca uma tela grande, de 5,5 polegadas, na linha Moto. A companhia fez um bom trabalho em reduzir as bordas: o Moto X Play é quase tão estreito quanto o LG G3, e a ergonomia é decente para um smartphone desse porte. Dá para se aventurar a usar o aparelho com uma mão; no entanto, devido à falta de aderência e recursos de software para facilitar o manuseio (que Samsung, LG, Apple e Asus costumam incluir nos phablets), você irá preferir usar as duas mãos.

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Assim como aconteceu no Moto G de 3ª geração, é possível personalizar as cores do Moto X Play pelo Moto Maker. O apelo estético é o único motivo pelo qual a tampa traseira é removível, já que a bateria é selada e o acesso aos slots Nano-SIM e microSD é realizado por meio de uma bandeja localizada no topo do aparelho.

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Na tela, a Motorola acertou em cheio. Embora não haja o preto real do Moto X de 2ª geração, o painel LCD de 1920×1080 pixels não decepciona em nenhum momento: brilho e contraste agradam, e a saturação está muito mais equilibrada que nos AMOLEDs que a empresa costumava usar. Nas configurações, há um Modo Cor para agradar gregos e troianos: por padrão, a tela mostra cores mais vivas (Intensidade), mas os que preferem tons mais naturais e realistas podem ativar a opção Normal.

O único ponto negativo de um painel LCD num smartphone da Motorola é que o recurso Moto Tela, que exibe o relógio e prévias de notificações com o aparelho em standby, perde um pouco o sentido. Diferente do AMOLED, no qual apenas os pixels necessários são acesos para mostrar as informações, não há economia de energia no LCD. Como o Android já exibe nativamente notificações na tela de bloqueio, essa função perdeu a razão de existir — e você pode desativá-lo nas configurações.

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Software e multimídia

Pegue o Android puro, desenvolvido pelo Google. Agora, adicione um gesto para abrir a câmera rapidamente, um assistente pessoal que escuta com o aparelho em standby, um aplicativo para integrar outros produtos da Motorola e um atalho exigido pela Lei do Bem para cortar os impostos. Esse é, basicamente, o Android 5.1.1 Lollipop que roda no Moto X Play.

Não é uma abordagem que agrada todo mundo (tem gente que prefere os recursos adicionais oferecidos por uma TouchWiz ou ZenUI da vida), mas é o modelo que mais me satisfaz — se eu quiser alguma função não disponível nativamente, posso procurá-la no Google Play. Com um sistema operacional que só traz o essencial, é mais fácil adaptar novas versões do Android e manter uma certa consistência no desempenho e na estabilidade do smartphone.

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Em relação aos aparelhos anteriores da Motorola, praticamente nada mudou no software.

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O Moto Voz é o assistente pessoal que pode ser ativado mesmo com o aparelho em standby e tem integração com determinados aplicativos que, até pouco tempo, o Google Now não tinha. Você pode publicar um texto no Facebook, enviar uma mensagem pelo WhatsApp ou tocar o clipe de alguma banda no YouTube — nem sempre o reconhecimento de voz acerta, especialmente com nomes próprios, mas na maioria das vezes funciona bem.

Os sensores embutidos no Moto X Play também permitem que o smartphone faça determinadas ações com o Assist. Se você estiver dirigindo, o aparelho pode automaticamente começar a reproduzir música no som do carro. Numa reunião, o smartphone fica em silêncio e pode enviar um SMS por conta própria para quem ligou e não foi atendido, por exemplo.

Também é possível abrir rapidamente o aplicativo da câmera, mesmo com o aparelho em standby, segurando o Moto X Play e girando o pulso duas vezes. Estranhamente, o gesto de ligar a lanterna (agitando o aparelho), presente no Moto G de 3ª geração, ficou de fora no modelo mais caro. Para acender o LED traseiro quando estiver escuro, só tocando no botão na central de notificações.

A Motorola manteve os aplicativos de mídia padrões do Google, incluindo Play Música e Play Vídeo, que suportam os codecs e formatos mais comuns, incluindo FLAC. O som, embora o design dê a entender o contrário, não é estéreo; o áudio é emitido apenas pela grade inferior do Moto X Play. Poderia ser melhor, mas ao menos a qualidade é decente, a saída é bem posicionada e não há distorções mesmo em volumes altos.

Câmera

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Durante a apresentação da nova linha de aparelhos da Motorola, a câmera foi o componente que mais teve destaque, sem dúvida. Há tempos conhecida por fazer fotos piores que os concorrentes, a empresa investiu pesado dessa vez: o sensor do Moto X Play é um Sony IMX230, com resolução de 21 megapixels e 1/2,3 polegada, o mesmo que acompanha o Moto X Style.

Câmera boa num smartphone da Motorola? Sim, é possível.

A evolução na qualidade das fotos é notável. O Moto X Play consegue entregar imagens com boa definição e pouco ruído. Diferente do Zenfone 2, as cores são equilibradas, sem estourar nos olhos. Além disso, o foco automático está rápido e preciso, o que é importante num aplicativo de câmera simples como o da Motorola, que nas configurações padrão nem sequer permite foco manual por toque.

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Aliás, o software de câmera da Motorola também é controverso: enquanto outras fabricantes investem em modos específicos para melhorar a resolução de objetos detalhados, embelezar rostos ou deixar o usuário configurar velocidade do obturador e ISO, a norte-americana prefere seguir pelo caminho da simplicidade — o máximo que você pode fazer é ativar uma opção para controlar foco e exposição. Funciona bem, é isso que importa.

Em ambientes noturnos e internos com iluminação prejudicada, as imagens também são boas, embora inferiores ao que vemos nos topos de linha. A definição continua boa e o ruído fica sob controle. Há um modo noturno que pode ajudar nessas situações, desde que você aceite uma resolução menor (a foto fica com 2560×1440 pixels, aproximadamente 3,7 MP) e um nível de ruído mais elevado. Mas a definição melhora visivelmente, como você pode comparar abaixo. Cabe a você escolher.

Modo Noturno desativado: definição razoável, pouco ruído
Modo Noturno desativado: definição razoável, pouco ruído
Modo Noturno ativado: mais ruído, mas definição superior
Modo Noturno ativado: mais ruído, mas definição superior

A câmera do Moto X Play não é uma revolução entre os smartphones, mas é inegavelmente uma revolução dentro da linha Moto. Dentro de sua categoria, o Moto X Play entrega provavelmente a melhor câmera do mercado. Antes tarde do que nunca, Motorola!

Hardware e bateria

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O hardware do Moto X Play está dentro do que é oferecido pelos concorrentes atuais, como Xperia M4 Aqua e Galaxy J7. Por dentro, o smartphone tem 2 GB de RAM e processador Snapdragon 615, um chip octa-core formado por quatro núcleos Cortex-A53 de 1,7 GHz e mais quatro Cortex-A53 de 1,0 GHz, além de GPU Adreno 405. A Motorola leva uma pequena vantagem na CPU: normalmente, os núcleos de alto desempenho dos chips dos concorrentes operam a 1,5 GHz.

Snapdragon 615 é competitivo na CPU, mas desempenho gráfico é fraco para um smartphone desse porte.

É um conjunto mediano, que também oferece performance mediana, suficiente para atender a maior parte dos usuários. A questão aqui é que a Motorola sofre uma concorrência pesada da Asus, que colocou um Atom Z3580 no Zenfone 2, vendido na mesma faixa de preço. O chip da Intel é significativamente superior ao Snapdragon 615, especialmente no desempenho gráfico. Enquanto a Adreno 405 é uma GPU de entrada/intermediária, a PowerVR G6430 vem do iPhone 5s e rende muito bem.

Para ilustrar melhor o que acabei de falar, vale a pena mostrar um comparativo de benchmarks sintéticos entre os chips. Embora o Atom Z3580 não seja muito superior a um Snapdragon 615 na CPU (Geekbench), a vantagem na GPU (3DMark) é considerável.

Essa deficiência nos gráficos fica perceptível ao rodar jogos mais pesados, como Dead Trigger 2. Na qualidade alta, a Adreno 405 visivelmente sofre para manter uma taxa de frames aceitável e há engasgos em algumas cenas (é necessário manter os gráficos no baixo ou médio), enquanto a PowerVR G6430 não apresenta nenhum problema. Também senti pequenas travadinhas em animações e rolagens dentro de aplicativos, como no Facebook e Twitter.

E, claro, a RAM mais limitada, de 2 GB, significa que o desempenho multitarefa é inferior e os aplicativos em plano de fundo precisam ser recarregados com mais frequência. Não chega a ser irritante como nos smartphones com 1 GB de RAM, mas eu notei facilmente a diferença em relação aos 4 GB de RAM dos taiwaneses, que foram mais ousados no hardware.

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A Motorola acertou num quesito que as outras fabricantes (o que inclui a própria Asus) ainda pecam: a bateria. O Moto X Play é concebido desde o início para ser um dispositivo com longa autonomia, e a bateria com a exagerada capacidade de 3.630 mAh não deixa dúvidas.

Comigo, a bateria do Moto X Play durou um dia e meio — ou seja, continuo precisando recarregá-la todos os dias à noite, mas tenho certeza que não ficarei sem carga antes do término do dia. O fato da Motorola incluir um carregador rápido na caixa também ajuda bastante: aqui, foi possível encher totalmente a bateria avantajada em duas horas.

No dia de teste, tirei o smartphone da tomada às 14 horas. Nesse período, ouvi 3h de músicas e podcasts por streaming no 4G e naveguei na internet (entre redes sociais, emails e páginas da web) pela rede móvel por 2h30min. A tela ficou ligada por exatamente 2h44min, com brilho no automático. No final do dia seguinte, às 23 horas (ou seja, 33 horas depois), a bateria chegou a 15%.

Portanto, mesmo com uso intenso de dados, o maior vilão das baterias, o Moto X Play consegue dar conta do recado. A autonomia é menos impressionante do que nas peças de marketing da Motorola, mas, a não ser que você jogue muito no celular ou faça um uso muito específico, é pouquíssimo provável que tenha problemas com a duração da bateria.

Notas relevantes

  • O Moto X Play perdeu os sensores infravermelho do Moto X de 2ª geração, que acionavam o Moto Tela. Mais um motivo pelo qual o recurso perdeu a razão de existir.
  • Tecnicamente falando, o Moto X Play não é um sucessor legítimo do Moto X de 2ª geração, até por causa do hardware inferior. O verdadeiro “Moto X de 3ª geração” é o Moto X Style, que traz hardware atualizado, o mesmo acabamento caprichado e as vantagens na bateria e na câmera do Moto X Play. Mas ele será bem mais caro.
  • Alguns colegas que possuem Moto Maxx reclamaram da autonomia depois de meses de uso, e há suspeitas sobre a longevidade da bateria com o carregamento rápido. Só seria possível descobrir se existe uma possível degradação na bateria do Moto X Play com um teste de longa duração.
  • O Snapdragon 615 chama a atenção por ser octa-core (o que deve ficar bem bonito na vitrine da loja), mas continuo defendendo que não deveria estar em um aparelho dessa faixa de preço. A Adreno 405 é uma GPU fraca para a categoria e o Cortex-A53 é um núcleo econômico de CPU. Isso é processador para Moto G, não Moto X.

Conclusão

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A Motorola queria entregar um smartphone com boa duração de bateria e conseguiu. O Moto X Play aguenta um dia inteiro de uso intenso sem reclamar e se mostra uma boa opção de compra para usuários que ficam conectados o tempo todo e não querem depender de um carregador (mesmo que ele seja rápido). O hardware é suficiente para rodar de maneira satisfatória tudo o que você quiser, e a Motorola melhorou bastante a qualidade da câmera.

Mas vamos pensar um pouco. Embora o Moto X Play não tenha um ponto negativo muito grave, ele não tem a mesma competitividade que vimos no Moto X de 2ª geração na época do lançamento, que continua sendo vendido pelos mesmos R$ 1.399, ou bem menos em promoções do varejo. Pelo mesmo valor, eu não acho tão interessante se abster de um design mais refinado e um hardware muito superior em troca de uma bateria maior e uma câmera melhor, mas vai de cada um pesar o que é mais importante.

Fato é que a Motorola (e não apenas ela), na faixa dos R$ 1.000 a R$ 1.500, está sofrendo uma forte concorrência da Asus, que entrega um conjunto muito interessante no Zenfone 2. Por R$ 1.299 (16 GB) ou R$ 1.499 (32 GB), os taiwaneses oferecem um aparelho com performance superior em todos os pontos — e os 4 GB de RAM certamente farão diferença na longevidade do dispositivo. Embora o Zenfone 2 também tenha seus pontos negativos, não há nada que desabone o aparelho da Asus.

A briga da nova geração de aparelhos intermediários-quase-tops-mas-com-preço-decente, portanto, fica entre Moto X Play e Zenfone 2. O que você prefere? Desempenho? Vá de Zenfone 2. Câmera e bateria? A Motorola é a melhor opção.

Especificações técnicas

  • Bateria: 3.630 mAh;
  • Câmera: 21 megapixels (traseira) e 5 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, GLONASS, Bluetooth 4.0, USB 2.0;
  • Dimensões: 148 x 75 x 10,9 mm;
  • GPU: Adreno 405;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 128 GB;
  • Memória interna: 16 GB ou 32 GB;
  • Memória RAM: 2 GB;
  • Peso: 169 gramas;
  • Plataforma: Android 5.1.1 (Lollipop);
  • Processador: octa-core Snapdragon 615 de 1,7 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, bússola;
  • Tela: LCD de 5,5 polegadas com resolução de 1920×1080 pixels e proteção Gorilla Glass 3.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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