O estepe pode virar coisa do passado: cientistas criam pneu capaz de se “regenerar”

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 1 semana
Pneu furado

Se você já teve que lidar com um pneu furado sabe a chateação que é. Muitas vezes você consegue rodar com o carro até achar um borracheiro, mas em outras o dano é extenso. Aí não tem jeito: você tem que parar e trocar o bendito pneu. Não seria ótimo se a borracha pudesse se “regenerar” de alguma forma? Pois saiba que não estamos muito longe dessa possibilidade.

A ideia não é nova. A indústria vem tentando desenvolver pneus que se reparam automaticamente (ou que pelo menos facilitem esse processo) há alguns anos, mas os resultados sempre ficaram abaixo do esperado — na maioria das tentativas, a abertura na borracha até se fechava, mas, em contrapartida, o material aplicado fazia o pneu durar menos.

Mas uma solução viável parece estar finalmente a caminho. Pesquisadores da Universidade de Dresden, em parceria com o Instituto Leibniz de Pesquisa de Polímeros — ambas instituições alemãs —, desenvolveram um composto químico que é capaz de preservar a durabilidade do pneu e, ao mesmo tempo, fazê-lo se regenerar em caso de danos.

Em borracharias bem equipadas, é comum que reparos de pneus sejam feitos por um processo chamado vulcanização, que consiste, basicamente, no aquecimento da borracha junto com determinadas substâncias (como enxofre) para que ocorra uma fusão ali que tenha como resultado um material uniforme.

Apesar de ser usado nas borracharias, o processo completo de vulcanização é, na verdade, uma etapa ampla da fabricação dos pneus. Ao final do procedimento, tem-se um material uniforme e resistente, mas com uma desvantagem: se houver rompimento, as ligações químicas que constituem a borracha não podem ser reconectadas facilmente.

Sob liderança do químico Amit Das, os pesquisadores criaram um processo que inclui a adição de uma combinação de carbono e nitrogênio capaz de fazer com que a borracha rompida forme novas ligações sozinha, sem necessidade de vulcanização ou qualquer procedimento parecido. Basta que as partes separadas sejam simplesmente unidas.

A má notícia é que esse não é um processo rápido: a regeneração do material pode levar de 12 a 48 horas, dependendo da temperatura ambiente. Se o seu pneu furar, não dá para esperar tudo isso, né?

Como esse é um impeditivo importante, os pesquisadores também estão direcionando esforços para técnicas que possam acelerar a “cicatrização”. Eles já sabem que aquecer ajuda bastante, por isso, uma das ideias consideradas é fazer com que a roda esteja ligada a algum mecanismo capaz de elevar a temperatura da borracha ao nível necessário para que a regeneração seja feita em tempo hábil. Nos testes, a temperatura teve que ficar na casa dos 100 graus Celsius durante 10 minutos para o resultado esperado ser alcançado.

Aqui também há um problema: como fazer com que o calor alcance a área danificada sem prejudicar toda a estrutura do pneu? Os cientistas apostam na utilização de nanotubos de carbono na borracha. Esse material, que consiste basicamente em estruturas cilíndricas ocas formadas por carbono (como o nome indica), é um excelente condutor de calor, portanto, pode agilizar o processo.

Uma tecnologia como essa leva bastante tempo para chegar ao mercado, não só pelos ajustes que costumeiramente são necessários, como também pela necessidade de testes exaustivos, afinal, pneus são uma área delicada da indústria automotiva. Qualquer falha de produção pode ocasionar acidentes gravíssimos.

Os cientistas têm grandes expectativas, é claro, mas há outro fator que pode pesar: os custos. Após oito dias de reparo, os pesquisadores verificaram que a área “curada” apresentava igual ou mais resistência que o restante da borracha. Era como se não houvesse ocorrido dano. Essa constatação leva à possibilidade de que a pesquisa ajude não só a criar pneus que se regeneram, mas também que tenham mais resistência a avarias.

Por conta dessas vantagens, é de se esperar que pneus do tipo sejam bem caros e venham, por consequência, a equipar carros mais sofisticados, pelo menos inicialmente.

Enquanto isso, o jeito é continuar tendo o estepe como um aliado ou apelar para pneus Run Flat, variedade que permite que o carro rode por determinada distância quando a borracha estiver furada sem causar danos à roda.

Com informações: WSJ.com, Tech Times

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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