“Eu quero ser a principal empresa de jogos do Brasil”, diz brasileiro premiado pela Microsoft

Aritana e a Pena da Harpia, primeiro jogo dos irmãos paulistanos Duaik, foi premiado durante a BGS Premiere

Renata Persicheto
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• Atualizado há 9 meses

Ouvir que aquele seu amigo está cursando design de jogos digitais pode parecer incrível e invejável à primeira vista, mas, definitivamente, não é algo fácil quando se está no lugar do locutor. O mundo da mídia está cansado de saber o quanto é difícil ir muito longe quando não se tem o apoio de uma publicadora e assessoria.

No caso dos jogos eletrônicos, tudo é mais complicado, e se considerarmos a interseção que une produtores independentes, jogos eletrônicos e Brasil, aí a coisa beira o impossível. Mas, às vezes, muito às vezes mesmo, um ou outro case se destacam, como é o caso de Aritana e a Pena da Harpia, dos irmãos paulistanos Duaik.

Durante a Brasil Game Show, conversei com Pérsis Duaik, economista formado pela USP que, um belo dia, resolveu juntar-se ao irmão para fazer seus próprios jogos. Com fortes influências de Donkey Kong e Rayman, Aritana e a Pena da Harpia, primeiro jogo do estúdio que leva o nome da família, foi premiado pela Microsoft durante a BGS Premiere, evento do Xbox que ocorreu em São Paulo na última quinta-feira (8). Prêmio esse, de primeiro indie brasileiro em destaque no ID@XBOX, que foi entregue em mãos por nada menos que Phil Spencer, chefe de Xbox e maior nome da divisão de videogames da Microsoft hoje.

“As texturas e pinturas fui eu quem fiz, tive que aprender a programar na raça, eu e meu irmão, porque ele também não sabia. Mas foi! Foi… O código é ruim, mas está funcionando. Se mudar o nome do Aritana, quebra o código. A gente lançou o Aritana pro Steam e queríamos saber como isso funcionava; quando lançamos, recebemos convites do Xbox e do PlayStation e fui olhar de perto o Xbox. Lá não tinha ninguém do Brasil, mas no PlayStation já tinham 60 caras. Então falei: pô, eu preciso de propaganda, vocês precisam de um evangelizador”, conta Pérsis.

“Então nós resolvemos fazer essa troca, e assim eu virei um embaixador do ID@XBOX no Brasil e, enquanto eu comento sobre o programa, eles me colocam em E3, deram esse prêmio, etc. Quando eu entrei, houve um boom de desenvolvedores e agora já são 30, e o programa continua crescendo. Eles buscavam um jogo “nativo”, e o Aritana é bem brasileiro. Deu super certo, e o prêmio foi a cereja do bolo”, diz.

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De acordo com o economista, o principal diferencial do estúdio é fazer jogos para o Brasil: “Diferente das outras empresas, visamos vender para o Brasil e para isso colocamos elementos visuais nos nossos jogos, como em Aritana: a Harpia é a maior águia da floresta amazônica, o guaraná coletado nas fases é a planta local, etc. O protagonista de nosso novo jogo, Abelardo, é um Dinossauro cantor de churrascaria. Usamos o nome que remete ao Abelardo Barbosa, o Chacrinha”.

Mas o que mais impressiona no trabalho da Duaik é o número de funcionários do estúdio. Assessoria, comunicação, ilustração, programação, divulgação e relações públicas são feitas por Pérsis, enquanto seu irmão, Ricardo, formado em Design, tomou conta dos gráficos que fazem de Aritana um jogo belíssimo (e brasileiro na medida, sem nada de hueragem). No projeto mais recente, WOC, a família Duaik contou com a parceria de uma ilustradora e um novo programador, ambos disponíveis no evento para tirar as dúvidas do público.

“Agora temos o projeto WOC, que precisou de um plano de negócios voltado para o ambiente brasileiro, pois ninguém compraria o jogo de realidade virtual aqui por não ter o Oculus, que é caro, seria difícil. Então qual é a pegada: nós não vendemos o jogo, ele é gratuito. Estamos criando um documentário explicando como foi toda a produção e junto com o documentário nós enviaremos o código do jogo aberto, então a pessoa vai poder destrinchar toda a parte de partitura, Photoshop, código, tudo aberto. Nós filmamos nossa intenção, durante a produção, e agora (durante a BGS), a reação do público”, diz Pérsis.

É muito dificil vender para o Brasil, o pessoal consome muito AAA.

“A pegada do jogo é espacial, e para remeter o Brasil nós temos o capacete do Ayrton Senna, no cenário imaginamos que a nave tenha sido lançada da Avenida Paulista, então temos ali o prédio da FIESP e a fiação “zoada” que lembra a de São Paulo”, explica. “É muito dificil vender para o Brasil, o pessoal consome muito AAA, então eu preciso ensinar o pessoal a comprar indie, preciso descobrir o que interessa a galera. E é exatamente esse tipo de estudo que eu faço nos meus jogos. Eu quero ser a principal empresa de jogos do Brasil.”

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Quando questionado se os próximos projetos da Duaik também entrariam no projeto da Microsoft, o economista definiu: “a questão é se teremos dinheiro para fazer outro jogo de videogame. É muito caro. O valor para o desenvolvimento de Aritana foi absurdo e nas versões para PC nós já temos um canal aberto. Não o Steam, porque não é uma plataforma que eu considero amiguinha dos indies; você faz muita propaganda para o Steam, pra vender seu jogo, e eles não te dão tanta visibilidade. Eu não sei o quanto isso compensa, se não é melhor fazermos uma propaganda para o nosso site”.

Não tem Xbox One? Não precisa chorar: o delicioso Aritana e a Pena da Harpia está disponível no Steam por R$ 25,99. Se vale a pena? Por valorizar a cultura tupiniquim, pelo esforço do estúdio ou pelo reconhecimento de uma das maiores empresas no ramo hoje: vale sim, vale muito e você escolhe a razão para jogar. 🙂

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Renata Persicheto

Renata Persicheto

Ex-redatora

Renata Persicheto é formada em marketing pela Anhembi Morumbi e trabalhou no Tecnoblog como redatora entre 2013 e 2015. Durante sua passagem, escreveu sobre jogos, inovação e tecnologia. Já fez parte da redação do portal Arena IG e também tem experiência como analista de inteligência de dados.

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