Chrome é o novo Internet Explorer

Conseguimos quebrar o monopólio da Microsoft nos navegadores... e colocamos o Google no lugar

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 1 ano
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Quem acessava a web na década passada lembra da guerra de navegadores. O Internet Explorer reinava, estando presente em mais de 85% das máquinas. Os browsers alternativos, como Firefox e Opera, até conseguiam lentamente conquistar seus fãs, mas na prática eram utilizados apenas por quem “entendia de informática” ou tinha o computador consertado por um sobrinho convincente, cansado de dar suporte técnico aos tios que instalavam vírus de ActiveX.

Boa parte das páginas só funcionava corretamente no Internet Explorer, especialmente aquelas mais complexas ou que se arriscavam a incorporar recursos multimídia, como vídeos em formato Windows Media. Como os outros navegadores tinham participação de mercado quase irrelevante, não fazia sentido que as empresas gastassem dinheiro adaptando seus sites. Eram tempos sombrios.

Até que, em setembro de 2008, o Google lançou o Chrome. Em menos de três anos, a gigante das buscas atingiu uma fatia de mercado que os outros candidatos nunca chegaram perto. E foi por mérito próprio: eu lembro que, quando usava Windows XP no meu PC com 256 MB de RAM, o browser do Google impressionava pela rapidez com que abria (era mais rápido que o navegador nativo!), pela agilidade na navegação e pela simplicidade na interface, numa época em que os concorrentes se esforçavam para embutir funções mirabolantes e barrinhas que ocupavam metade da tela.

Não aparece aqui, mas o Netscape também exibia a previsão do tempo na interface
Não aparece aqui, mas o Netscape também exibia a previsão do tempo na interface
Quem lembra da época que o Opera era pago e mostrava um banner?
Quem lembra da época que o Opera era pago e mostrava um banner?
Com o Chrome, a tela passou a ser dominada pelos sites, não pelo navegador
Com o Chrome, a tela passou a ser dominada pelos sites, não pelo navegador
Outros navegadores seguiram a tendência da interface limpa
Outros navegadores seguiram a tendência da interface limpa

Hoje, o Chrome é o navegador mais popular do mercado. O StatCounter mostra que 77,33% dos brasileiros utilizaram o browser do Google em janeiro de 2016, contra apenas 10,39% do Firefox e 5,49% do Internet Explorer. A situação não é muito diferente no Tecnoblog. No mesmo período, nossa audiência ficou dividida assim:

  • Chrome: 71,54%
  • Safari: 11,73%
  • Firefox: 7,51%
  • Android Browser: 2,66%
  • Internet Explorer: 2,50%
  • Opera: 1,89%
  • Microsoft Edge: 1,16%

Repare que Chrome, Safari, Android Browser e Opera são navegadores que utilizam motor WebKit ou baseado no WebKit, portanto, eles renderizam as páginas de forma semelhante. Se somarmos tudo, a participação de mercado desses browsers chega a assustadores 87,82% do nosso público — isso é basicamente o que o Internet Explorer tinha há mais dez anos! E qual o problema?

A gente sabe que, em regra, monopólios são ruins. Não apenas na web, mas em qualquer mercado, como a entrega de correspondências (oi, Correios!) e o transporte individual de passageiros (oi, táxis!). No caso da web, ficamos parados no tempo, sem novas tecnologias durante anos, simplesmente porque o browser mais utilizado do mundo não as suportava.

E quem está fora do monopólio do Chrome sabe os problemas que enfrenta. Não é incomum que as páginas sejam renderizadas incorretamente no Firefox ou Internet Explorer, por exemplo. Eu uso Safari, que possui um motor de renderização muito parecido com o do Chrome (ambos têm como ponto de partida o WebKit, mas o motor de JavaScript é diferente) e mesmo assim sou obrigado a manter o navegador do Google instalado para eventuais problemas de compatibilidade.

Alguns sites vão além e restringem o acesso a determinados navegadores, uma prática que estava diminuindo no final da década passada, com Chrome, Firefox e Internet Explorer dividindo bem o mercado, mas parece ter voltado nos últimos tempos, à medida que o Google passou a dominar o bolo.

Como o Mega, que suporta Chrome, mas possui limitações no Firefox e Safari:

mega-safari

Ou o Inbox, do Google, que funcionava apenas no Chrome, do Google:

inbox-chrome

Tem o OneDrive, da Microsoft, que oferece upload de pastas no Chrome, mas não no Internet Explorer, da Microsoft (este é o caso mais absurdo que consigo me lembrar):

onedrive-safari

A web avançou tanto que agora podemos ter aplicativos complexos sem depender de nenhum plugin, como um emulador de DOS que roda diretamente no navegador. Digo, apenas no Chrome:

dosbox-chrome

Nós chegamos ao ponto de ter Angry Birds exclusivo para Chrome. E isso porque o único lugar onde Angry Birds ainda não roda é na sua geladeira (ops, desculpem, roda na geladeira também). Espere: nós não estamos acabando com o Flash e migrando para HTML5 e padrões livres justamente para termos uma web mais aberta? Isso não faz o menor sentido.

chrome-gif-ram

Se você lembrar que, na década passada, as pessoas estavam insatisfeitas com o Internet Explorer, mas não conseguiam migrar para os navegadores alternativos justamente por problemas de compatibilidade, acabamos de encontrar mais uma semelhança.

Não faltam relatos de usuários do Chrome que estão incomodados com o alto uso de memória e processamento — um dos motivos pelos quais eu uso Safari é que a duração da bateria do meu notebook cai pela metade com o Chrome. Não é por acaso que frequentemente o Google promete fazer alguma otimização para tornar o navegador menos guloso.

É inegável que a guerra dos navegadores e a quebra do monopólio do Internet Explorer fez muito bem para a web. Mas agora estamos voltando ao mesmo ponto de onde viemos. Só mudamos o protagonista do monopólio. Onde estão os outros?

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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