Um baterista com três braços? Com a ajuda da robótica é possível

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 2 semanas
Terceiro braço robótico

Nós já vimos, com todo o entusiasmo que o assunto merece, próteses robóticas que prometem dar mais autonomia a pessoas que tiveram membros amputados. Mas uma máquina do tipo que faz um indivíduo ter três braços é digna da mesma admiração? Já vamos descobrir: pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, estão trabalhando em um braço robótico inteligente que toca bateria junto com o seu dono.

De fato, é como se o baterista tivesse três braços. O membro robótico é fixado por meio de um suporte colocado no ombro do músico. Só que, ao contrário dos braços verdadeiros, a versão robótica (ainda) não pode ser comandada por sinais nervosos. É aí que a parte “inteligente” entra em ação.

A invenção possui um sistema que ouve a música e tenta acompanhá-la no mesmo ritmo. Se o baterista estiver tocando uma música lenta, o braço toca as partes da bateria que lhe cabem na mesma intensidade; se o baterista acelerar, o mecanismo toca mais rápido. A ideia é complementar o trabalho do músico — mesmo que na base do improviso, esse dever tem que ser executado de maneira harmônica.

Terceiro braço robótico

Para tocar o instrumento no tempo certo, o braço precisa saber exatamente qual a sua posição em cada momento, afinal, a movimentação do baterista o reposiciona o tempo todo. Isso é feito com o auxílio de acelerômetros que informam ao braço quão distante — ou próximo — ele está de cada prato ou tambor.

Há mais um detalhe interessante: os movimentos da invenção lembram a forma como os nossos braços se mexem. Não é mero acaso: os pesquisadores utilizaram um sistema de “motion capture” (que captura os gestos humanos) para delinear a movimentação do mecanismo. A ideia aqui é evitar que o braço toque com intensidade e velocidade que causam “aberrações” sonoras.

Como dá para observar no vídeo, mesmo com três braços, o baterista não se tornou um fenômeno da música. Talvez uma versão mais avançada do projeto leve a isso, mas, numa dessas, os papéis se invertem e o baterista acaba virando mero coadjuvante.

No final das contas, o objetivo nem é aumentar as habilidades de um baterista. O braço que toca bateria foi criado para demonstrar que mecanismos robóticos inteligentes podem ser empregados nas mais diversas áreas. Para Gil Weinberg, líder do projeto, um braço como esse poderá, por exemplo, ajudar um médico durante uma cirurgia trazendo instrumentos rapidamente ou até mesmo realizando procedimentos complementares.

Sim, um projeto como esse também pode ajudar pessoas que sofreram amputação. Na verdade, a equipe de Weinberg já trabalhou nisso: o braço foi inspirado em uma prótese robótica que eles desenvolveram há algum tempo para Jason Barnes, um baterista que perdeu o braço a partir do cotovelo em um acidente.

Essa prótese não segura objetos ou pressiona botões, por exemplo. O equipamento faz apenas aquilo que o músico mais gostava de fazer antes do acidente: tocar bateria. Usando próteses convencionais, Barnes até conseguia movimentar o cotovelo e tocar o instrumento, mas de forma muito limitada.

Como a prótese robótica detecta sinais nervosos que chegam à ponta do braço, Barnes pôde voltar a tocar bateria. Mas não como antes, melhor: duas baquetas foram colocadas na extremidade da prótese; como esta responde com precisão aos sinais nervosos, o músico consegue tocar bateria de um modo bastante impressionante.

O terceiro braço tem suas raízes na prótese de Barnes, como você já sabe, mas os desafios aqui são outros. Enquanto a prótese responde a estímulos nervosos, o braço precisa se adaptar aos movimentos do baterista e, principalmente, tocar de modo autônomo.

Eles querem mais: a equipe de Weinberg já estuda formas de detectar padrões cerebrais de uma pessoa tocando bateria. A ideia é que, quando o baterista pensar em uma mudança de tempo ou em que parte do instrumento tocar, o braço robótico reaja imediatamente executando essa tarefa. Alguém duvida que eles chegarão lá?

Com informações: Phys.org

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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