Robô Atlas ganha versão ainda mais esperta e fascinante

Nova geração do robô da Boston faz movimentos para se equilibrar, se levanta sem ajuda e move objetos

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 1 semana
Atlas - nova geração

Ainda mais fascinante e, bem, inquietante. É assim que a gente pode resumir a nova geração do Atlas, robô bípede que vem sendo desenvolvido pela Boston Dynamics em parceria com a DARPA (agência de pesquisa ligada ao exército dos Estados Unidos) desde 2013.

Em janeiro, mostramos aqui que o Atlas recebeu, ao longo do último semestre de 2015, a capacidade de realizar tarefas domésticas simples, como empurrar objetos, varrer o chão e passar aspirador de pó.

Não que os pesquisadores responsáveis pelo projeto estivessem pensando em transformá-lo em um serviçal que cuida dos afazeres de casa. O objetivo principal com as tarefas domésticas foi permitir ao Atlas a execução de movimentos mais semelhantes aos nossos. Não pense que é fácil: fazer uma máquina se manter ereta e caminhar com duas pernas exige um complexo sistema de equilíbrio. Nós, como humanos, realizamos uma série de movimentos compensatórios para isso que é difícil de reproduzir nas máquinas.

Atlas - nova geração

Se um dia eu me deparar com um robô como o Atlas por aí, provavelmente eu direi a mim mesmo seguidas vezes “aja naturalmente”. Mas, segundo a DARPA, temores não se justificam: não é intenção da agência transformar o Atlas em uma máquina de guerra ou qualquer coisa semelhante, mas fazê-lo atuar em operações de salvamento, resgate em prédios desabados, desarmamento de bombas e assim por diante.

Pois bem, a nova versão do Atlas tem habilidades que correspondem a essas atividades. No vídeo de demonstração que a Boston Dynamics disponibilizou (não custa relembrar, a empresa foi comprada pelo Google em 2013), podemos ver o robô abrindo a porta de um prédio, caminhando em um terreno acidentado e removendo caixas com as “mãos” que, numa situação de socorro, poderiam ser blocos de concreto ou troncos de árvores.

De longe, a parte mais impressionante é o equilíbrio. No vídeo, a gente vê ainda o robô se recuperando de leves escorregões (ele caminha sobre a neve), fazendo “jogo de corpo” para compensar a instabilidade em um trecho particularmente acidentado e, principalmente, indo para trás para resistir aos empurrões dados por um membro da equipe da Boston.

Também vemos no vídeo que esse cara joga no chão uma caixa que o robô tinha acabado de agarrar. O Atlas tenta pegar a caixa novamente, mas ela é empurrada em cada tentativa. Que maldade, não? Numa dessas o robô se revolta e a humanidade estará perdida. Mas, na verdade, essas ações servem apenas para demonstrar a capacidade da máquina de recalcular os seus movimentos em tempo hábil.

O “bullying” não para aí. O mesmo sujeito dá um empurrão mais forte que faz o Atlas cair de cara (se é que dá para dizer que ele tem uma) no chão. Nos instantes seguintes, o Atlas reposiciona os seus membros e se levanta rapidamente. Suspeito que eu, mesmo sóbrio, teria levado mais tempo para ficar de pé…

Atlas se levantando

Todas essas reações são realmente espantosas. Um comando remoto dado por um operador até pode fazer o robô posicionar os seus membros para se levantar. Por outro lado, não há tempo para indicar ao Atlas quais movimentos de equilíbrio executar para evitar uma queda. As respostas são mesmo autônomas, praticamente “instintivas”.

A versão doméstica do Atlas revelada no início do ano era controlada por um operador — novamente, o objetivo na ocasião foi o de desenvolver e testar movimentos complexos do robô. A Boston Dynamics deu poucas informações sobre a nova versão, mas é possível que a abertura de portas e mesmo as caminhadas que o Atlas faz no vídeo também tenham um operador remoto por trás.

Mesmo que isso se confirme, o Atlas tem um lado autônomo bem sofisticado. Há sensores espalhados por todo o seu corpo que o ajudam a manter o equilíbrio. Os movimentos compensatórios que ele faz no vídeo são, com já dito, automáticos. De igual forma, há sensores na cabeça do robô que permitem que ele desvie sozinho de obstáculos e avalie o grau de dificuldade do terreno.

Atlas - nova geração

Há uma série de fatores que influenciam na capacidade do robô de executar determinadas tarefas. Não basta simplesmente instalar sensores e mecanismos complexos. A nova versão do Atlas mostra isso. Ela é mais ágil e isso é consequência, entre vários outros aspectos, da redução de peso: a versão anterior tem 156 quilos; a mais recente, 82 quilos. A altura também diminuiu, passando de 1,9 m para 1,75 m.

Apesar de tamanha sofisticação, o Atlas ainda está longe de ser uma máquina pronta para ir a campo. A marcha do robô melhorou muito nos últimos meses, mas é perceptível que ainda há trabalho a ser feito em relação a essa característica. Sem contar que o Atlas precisará, por exemplo, ser capaz de se movimentar por longos percursos carregando peso adicional (suprimentos, pedras, equipamentos, etc.) para cumprir as suas missões, habilidade que ainda — ainda — não está bem desenvolvida.

De todo modo, não podemos nos esquecer que o Atlas é um projeto que está apenas em seu quarto ano de desenvolvimento. A evolução em relação à primeira versão, que dependia de cabos de sustentação, é digna de muita admiração. Alguém duvida que os próximos meses serão ainda mais interessantes?

Primeira versão do Atlas
Primeira versão do Atlas

Com informações: Quartz, IEEE Spectrum

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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