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Estudo aponta que emojis podem causar "falhas de comunicação"

Jean Prado
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• Atualizado há 1 semana

Os emojis são vistos como um meio universal de comunicação. Esses pequenos símbolos já estão em praticamente todo lugar e são amplamente utilizados nas redes sociais. Mas será que todos veem os emojis da mesma forma? Por causa da subjetividade das carinhas e das variações entre as plataformas, não.

O GroupLens, um laboratório de pesquisas que faz parte do Departamento de Ciência da Computação e Engenharia da Universidade de Minnesota (EUA), se dedicou a estudar o potencial para falhas de comunicação com os emojis. Afinal, sabemos que os desenhos variam muito dependendo da plataforma.

Eles vão publicar um artigo em maio sobre o assunto, que está disponível aqui (PDF). Essa fragmentação, segundo o laboratório, pode causar interpretações erradas, algumas até significativas para o real entendimento do conteúdo que o remetente da mensagem quer passar. Duvida? Observe a imagem abaixo, que mostra o mesmo emoji em várias plataformas:

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O emoji acima faz parte do Unicode 6.0, lançado em 2010, e tem o nome de “grinning face with smiling eyes” (rosto sorridente, em tradução livre). O GroupLens constatou que ele pode gerar diferentes interpretações de acordo com a plataforma, por representar expressões diferentes, como veremos mais abaixo. A descrição dele na Emojipedia também esclarece o caso:

Devido à popularidade do design do emoji da Apple, ele é geralmente usado para representar uma expressão de careta, em vez de um sorriso. O desenho do Google e da Microsoft para esse emoji chega mais perto de como ele deveria ser representado em todas as plataformas.

Essas descrições foram propostas por Apple e Google e aceitas pelo Consórcio Unicode na versão 6.0, que basicamente lançou todos os emojis de expressões faciais que são amplamente utilizados atualmente.

A discussão se estende também para o emoji com as duas mãos juntas, que pode significar “por favor” ou “obrigado” na cultura japonesa, mas no ocidente é usado para indicar que o remetente está rezando. Para algumas pessoas, ele também significa um high five (“bate aqui!”).

Para colocar essa inconsistência à prova, eles mostraram cinco versões do mesmo emoji para mais de 300 pessoas, que precisavam responder quatro perguntas sobre os 22 emojis de expressões humanas mais populares. Os entrevistados eram convidados a descrever os emojis e julgar o sentimento deles, de extremamente negativo (-5) para extremamente positivo (+5).

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A disparidade você pode ver na escala acima. Os pesquisadores apontam que há, sim, um potencial para falhas na comunicação. Dos 22 emojis testados, nove têm uma variação de mais de dois pontos na escala. Isso, vale lembrar, da interpretação única das pessoas dos emojis mostrados.

Imagine que alguém que tem um iPhone está conversando com um usuário de Android, com uma versão pura do sistema. O segundo, da plataforma do Google, envia o emoji acima para indicar uma expressão positiva (+4), mas o primeiro, da Apple, entende como uma negativa (-1). Os pesquisadores representaram essa confusão abaixo:

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Nas mensagens, Abby diz que foi a um encontro e usa o emoji para representar que está feliz com isso. Bill, por outro lado, vê uma careta ao lado da mensagem e pensa que o encontro não foi tão bom. Como resposta, ele diz sentir muito pelas coisas terem ido mal. Abby fica confusa.

É claro, essa situação pode ser evitada nos mensageiros comuns como WhatsApp e Telegram, que unificam os emojis para o desenho da Apple. Mas a intenção dos pesquisadores era mostrar que, sim, há uma fragmentação de emojis na internet e dos dispositivos conectados à ela. São 10 desenhos diferentes! Quem precisa de tudo isso?

No estudo, outra confusão comum foi hands, interpretado como um sinal de pare ou como uma palma na versão da Apple, enquanto na do Google (que nem é tão diferente) disseram que parecia mais um louvor. A descrição oficial dele é “alguém levantando as duas mãos em comemoração”.

Por fim, algumas estatísticas interessantes. Os pesquisadores constataram que se você enviar um emoji por meio de duas plataformas, o remetente e o destinatário vão interpretar o emoji com 2,04 pontos de diferença na escala de sentimento criada por eles. No entanto, mesmo se o emoji for enviado dentro da mesma plataforma, a diferença é de 1,88 ponto.

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Acima, o resultado para os 22 emojis analisados no estudo completo. Cada barra do gráfico mostra a diferença da pontuação de sentimentos mal interpretados nas cinco plataformas. A linha dentro do gráfico representa a disparidade média na interpretação. Quanta diferença!

Os pesquisadores ainda observaram que a mensagem que acompanha o emoji pode tornar o desenho menos ambíguo. E, claro, a idade (e cultura, formação técnica) influenciam a interpretação que o emoji terá. “Teorias psicolinguísticas sugerem que a interpretação tem que ser consistente entre ambas as partes de uma conversa para evitar desafios na comunicação”, dizem os pesquisadores.

Segundo eles, vários jovens argumentam que o emoji representa uma mudança fundamental no uso da linguagem. E, com todas essas falhas de comunicação que um emoji pode causar, é realmente bom que chegamos em um consenso do que aquela carinha sorrindo significa (e várias outras).

Você já foi mal interpretado por causa de um emoji?

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.

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