Financie isso: Fontus, a garrafa d’água que enche sozinha

Parece mágica: umidade do ar e energia solar fazem a maior parte do trabalho

Jean Prado
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• Atualizado há 9 meses
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Não, você não leu errado. Uma campanha no Indiegogo promete oferecer uma garrafa d’água que enche sozinha, alimentada pelo ar e pela luz solar. Batizada de Fontus, a garrafa foi feita pensando em “aventureiros”, ou seja, quem anda muito de bicicleta (e faz até trilhas), além de quem pratica escaladas e sai muito para acampar.

São pessoas que ficam por muito tempo longe de fontes de água renovável e precisam se manter hidratadas. O problema é que nem sempre dá para levar muitos litros de água nas costas.

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Essa abordagem faz sentido, já que nem todo mundo que passa o dia em áreas urbanas fica dias sem acesso à água potável (com exceção de áreas em seca). A empresa tem o público aventureiro em mente, permitindo que eles “planejem suas aventuras sem precisar se preocupar em carregar cargas pesadas d’água”.

Fontus Airo & Fontus Ryde

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São dois principais modelos sendo oferecidos. A Fontus Ryde, que funciona com o movimento da bicicleta (junto com energia solar) para “gerar” água dentro da garrafa. Eles também vendem a Fontus Airo, que pode ser levada na sua mochila, mas precisa ser acoplada a um tapete solar que envolve a garrafa para funcionar.

Como você pode imaginar, a versão Airo serve melhor quem vai se aventurar no geral, seja fazendo trilha a pé, vela, escalada ou até mesmo acampando. Ela também funciona acoplada a uma mochila. Observe que um cabo USB está conectado à garrafa e vai até ao tapete, que fica esticado para receber mais luz solar.

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Tá, mas como a mágica funciona? O princípio das duas garrafas é basicamente o mesmo, mas a aplicação é um pouco diferente. No caso da Fontus Airo, ela capta a umidade contida nas partículas do ar, faz um processo de condensação e armazena essa água condensada, que já fica pronta para beber.

Só que ela precisa de energia para funcionar, então é necessário estender o tapete, que é flexível, para captar a energia solar e transferir para a garrafa em si. Há uma pequena ventoinha em cima da garrafa para puxar o ar do ambiente e levá-lo até à área de condensação. Nesse caminho, também há um filtro especial para garantir que a água fique saudável para ser consumida.

Nessa área da garrafa, ainda há pequenos coolers que refrigeram o ar e fazem com que a umidade dele seja condensada em superfícies especiais. Posteriormente, o que sobrou da absorção pinga no fundo da garrafa e já fica pronto para o consumo. A Fontus Airo tem capacidade de 800 ml.

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É claro que essa água vai ter gosto de água destilada (apesar de não ser propriamente destilada), e não da água mineral que compramos por aí. Com isso em mente, eles ainda criaram um compartimento embaixo da garrafa para abrigar pequenas cápsulas para remineralizar a água, tornando-a mais saudável para as necessidades do corpo humano.

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No caso da Fontus Ryde, o funcionamento é quase o mesmo, só que acoplado à bicicleta. Por isso, você não precisa de um cabo USB ou um tapete à parte para alimentar a garrafa. O suporte desse modelo já fica acoplado na sua bike, pensado para você encontrar uma garrafa cheia logo depois de uma trilha cansativa.

Outra diferença é que aqui não há nenhuma ventoinha, uma vez que o vento gerado pela bicicleta em movimento já é suficiente para fazer o ar úmido ser absorvido pela câmara de condensação. Como na versão Airo, ele passa por um filtro, depois vai para as câmaras de condensação e no fim do processo entra na garrafa.

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Mas será que funciona mesmo?

Não dá para saber exatamente qual a eficiência da Fontus. Mas, segundo os fundadores do projeto, essa técnica de conseguir água pela umidade do ar é praticada há mais de 2 mil anos. Segundo eles, a atmosfera da Terra contém mais de 13 mil km³ de água fresca não explorada.

“Todos nós já sabemos o básico sobre conseguir água da atmosfera: quando pegamos um refrigerante da geladeira no verão e pequenas gotas se formam ao seu redor, fazendo a gente ficar com mais sede ainda”, compara a descrição da campanha. Essa temperatura mais baixa na lata do refrigerante faz a água da atmosfera se condensar.

Eles ainda explicam que, ao ser condensada, a água perde todos os outros elementos combinados. Além de minerais, o líquido também fica sem bactérias e poeira. Para garantir a pureza, nos dois modelos da Fontus, a água ainda passa por um filtro para ficar extremamente limpa.

Além de ser uma boa alternativa para quem gosta de se aventurar, essa garrafa especial também pode ser útil em locais onde há muita umidade mas pouca água no solo. Grande parte da África é assim. O mapa abaixo mostra a eficiência da Fontus nas épocas mais quentes do ano:

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Por mais que a ideia seja muito boa, a garrafa não está completamente pronta para uso. Até agora, eles testaram os princípios básicos da tecnologia apenas em condições monitoradas. Quando a campanha terminar, os fundadores pretendem entrar em uma fase de desenvolvimento maior, deixando a Fontus mais eficiente.

E pelo jeito eles vão conseguir o que querem, se depender do dinheiro. A campanha já arrecadou mais de US$ 230 mil, o que é 769% (!) dos US$ 30 mil que os fundadores precisavam. São mais de 988 pessoas que apoiaram o projeto, e ainda falta um mês para a campanha terminar.

Se tudo der certo, a Fondus pretende começar a entregar as duas garrafas daqui a um ano, em abril de 2017. Os preços são relativamente altos: a Fontus Ryde é vendida promocionalmente por US$ 165, com preço original de US$ 225. A versão Airo é ainda mais cara, custando US$ 250. Se você levar suas aventuras muito a sério, pode pagar US$ 450 pelos dois modelos. Os não incluem frete, mas as garrafas podem ser enviadas para todo o mundo.

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Por que é legal? Porque eles desenvolveram um sistema muito bacana para “gerar” água sempre que há umidade e uma boa luz solar. É uma ideia interessante porque existem lugares que nem imaginamos que podem oferecer água potável, e a Fontus leva esse potencial ao máximo.

Por que é inovador? Parece mágica! A Fontus Ryde tem um dos funcionamentos mais criativos, porque usa o vento criado pelo movimento da bicicleta para gerar água. Assim, no final da corrida, o ciclista já tem água potável para matar sua sede. A versão Airo também é muito bacana para quem vai acampar. No geral, a estratégia de “você não precisa mais carregar cargas d’água muito pesadas” é bem inteligente.

Por que é vanguarda? Porque usa coolers e ventoinhas para pegar o ar úmido e condensá-lo para conseguir água potável. Não é uma tática nova, mas só de combinar todo esse sistema em uma garrafa e disponibilizar para um público aventureiro, tenho certeza que há um mercado a se explorar.

Vale o investimento? Vou responder o que sempre falo aqui: depende. Para uma pessoa comum, que tem acesso fácil à água na maior parte do dia e não sai para acampar ou algo parecido, é claro que não. Mas para quem pratica muitos esportes radicais e odeia ficar carregando litros de água nas costas durante o caminho, é uma boa. No entanto, com o dólar nas alturas, não tem quem fique receoso em pagar quase R$ 900 em uma… garrafa.

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.

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