Vídeos em HDR são a mais nova aposta da Netflix

Companhia promete disponibilizar 150 horas de conteúdo com qualidade HDR até o final do ano

Emerson Alecrim
Por
• Atualizado há 6 dias
Marco Polo Netflix

Aos poucos, a Netflix vem tentando corresponder às expectativas dos usuários que fazem questão de assistir a filmes e séries com a melhor qualidade de imagem possível. Primeiro surgiu o suporte a conteúdo com resolução 4K, recurso anunciado há cerca de dois anos. Agora vem um zelo maior com as cores: cumprindo uma promessa feita no início de 2015, o serviço começou a liberar vídeos em HDR neste mês.

As transmissões em 4K foram iniciadas oficialmente na Netflix com a segunda temporada de House of Cards. Antes disso, apenas alguns vídeos de testes do serviço tinham suporte à resolução. De lá para cá, o número de vídeos em 4K não aumentou muito, mas abrange produções bastante apreciadas, como Demolidor, Jessica Jones e Fuller House.

Essa estratégia de começar aos poucos também está valendo para o HDR. Sem fazer alarde, a Netflix disponibilizou na semana passada a primeira temporada de Marco Polo com essa tecnologia. Mas, nesta terça-feira (19), a companhia revelou que os assinantes terão mais de 100 horas de conteúdo em HDR até agosto; no final do ano, esse número terá aumentado para cerca de 150 horas.

Nessa lista, vale destacar, estarão produções como Demolidor, Jessica Jones, The Ridiculous 6, Bloodline, Chef’s Table, além de títulos que ainda não foram lançados, como Luke Cage e Os Defensores.

Jessica Jones - Netflix

O que o HDR tem de tão especial?

Se você tenta fazer fotos caprichadas com o seu smartphone de vez em quando, talvez já tenha mexido com o HDR. Sigla para High Dynamic Range (Alto Alcance Dinâmico, em tradução livre), essa técnica está disponível em boa parte dos celulares lançados nos últimos meses, incluindo modelos intermediários.

Nos vídeos, o funcionamento do HDR difere em alguns aspectos na comparação com as fotos, mas em ambas as situações o objetivo é o mesmo: realçar as cores, fazer a tonalidade de cada uma delas ter mais vivacidade, por assim dizer, não importa se a cor é clara ou escura.

Dessa forma, um raio solar vai ter tonalidades amareladas ou alaranjadas em vez de feixes brancos, por exemplo. De igual forma, o reflexo de uma pessoa em uma poça d’água mostrará mais detalhes (como a feição ou a cor da roupa) em vez de um simples “borrão” com formato humanoide.

Os resultados costumam ser bem interessantes. O HDR acaba proporcionando correções para imagens excessivamente claras ou destacando detalhes em cenas escuras. Isso é feito, essencialmente, com a justaposição de três imagens (ou mais) da mesma cena, mas com cada uma delas tendo graus de exposição à luz diferentes.

Nos vídeos, a diferença só é perceptível “ao vivo” mesmo, mas o comparativo abaixo dá uma ideia:

Sem HDR / Com HDR
Sem HDR / Com HDR

É por isso que não é tão simples assim disponibilizar conteúdo em HDR. A Netflix começou com Marco Polo porque a série foi filmada desde o início de forma a permitir que a técnica fosse aplicada.

A princípio, produções que não foram gravadas tendo o HDR em mente até podem sofrer aplicação da técnica (ou de algo parecido) a partir de algum processo de recolorização, por exemplo, mas obviamente esse é um trabalho demorado e, muitas vezes, custoso. Assim, é melhor esperarmos por HDR só em séries e filmes mais recentes.

Mas isso não chega a ser um problema. Assim como acontece com a resolução 4K, você precisa ter uma TV compatível com HDR para usufruir de imagens com essa técnica. Grandes players do mercado, como LG, Samsung e Sony já estão lançando esses produtos, mas vai demorar um pouco para esse tipo de tela ganhar alguma popularidade (se é que ganhará).

Para muita gente, o 4K não é interessante por praticamente só fazer diferença em TVs grandes. Mas o HDR pode trazer imagens mais “vivas” até mesmo em telas menores, portanto, é de se imaginar que TVs compatíveis com o padrão tenham mais facilidade para ganhar o mercado.

Os custos, sempre os custos

O problema, para variar, fica para o bolso. Basicamente, TVs com HDR devem exibir mais gamas de cores por pixel, o que significa que elas necessitam trabalhar com uma profundidade de 10 bits — o padrão atual é de 8 bits. Além disso, painéis HDR exigem taxas de brilho maiores, que chegam a pelo menos 1.000 nits, enquanto televisores convencionais normalmente oferecem algo entre 200 e 400 nits. Todos esses diferenciais elevam consideravelmente os preços dos aparelhos.

A TV KS9000 da Samsung é compatível com HDR e custa cerca de US$ 3,5 mil
A TV KS9000 da Samsung é compatível com HDR, mas custa cerca de US$ 3,5 mil

Um aspecto que também pode exigir atenção é o tipo de HDR disponível na TV. Há duas especificações que estão disputando o posto de padrão do mercado: o HDR-10, que é aberto e apoiado por companhias como Samsung e Sony, e o Dolby Vision, que é bem visto pela indústria cinematográfica. Como o mercado ainda não escolheu o preferido — parece uma briga do tipo HD-DVD versus Blu-ray —, há fabricantes apoiando ambos os formatos. A LG é uma delas.

Felizmente, a Netflix decidiu seguir pelo mesmo caminho: o seu acervo em HDR será compatível tanto com HDR-10 quanto com Dolby Vision.

Nesse ponto, convém ressaltar que também há requisitos de transmissão. No caso da Netflix, o recomendável é ter uma conexão de pelo menos 25 megabits por segundo. Além disso, os vídeos em HDR só estarão disponíveis para assinantes do plano Premium (o mesmo que dá suporte a 4K) que, no Brasil, custa atualmente R$ 29,90 por mês.

AS TVs com HDR vão vingar?

TVs 3D foram um fracasso. Telas curvadas também não convenceram. Smart TVs ainda carecem de “amadurecimento” para se mostrarem intuitivas e práticas. O 4K é interessante e deve ganhar mais espaço, mas ainda tropeça na falta de conteúdo compatível. Com base nisso, dá para esperar um caminho sombrio para o HDR, não?

Pode ser. Sem uma bola de cristal que funcione é difícil acertar nas previsões. Mas, de todas as propostas mencionadas no parágrafo anterior, o HDR é o que parece ter mais apelo. A indústria já avançou bastante na densidade de pixels e, com o HDR, passa a dar foco a outro aspecto importante para a qualidade de imagem: quem é que não pensa com carinho na ideia de assistir a vídeos com cores mais próximas da realidade?

Netflix - HDR

Além da Netflix, Amazon, YouTube e Vudu já apostam no formato. Estúdios como Disney, Fox e Warner também estão aderindo à ideia, o mesmo valendo para os fabricantes de TVs, como já ficou claro. Esses também são sinais importantes de que o HDR pode mesmo se tornar característica básica das televisões.

Isso não quer dizer que você precisa comprar uma TV com HDR agora. Esse tipo de proposta não pega da noite para o dia. Mas convém ficar de olho: o mercado parece estar há algum tempo sedento por alguma inovação realmente capaz de impactar a experiência proporcionada pelas TVs. Quem sabe o HDR seja a resposta para esse anseio?

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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