Xiaomi pode desistir do Brasil ainda este ano

Vendas de smartphones não decolaram. Oficialmente, Xiaomi nega que pensa em sair do país.

Jean Prado
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• Atualizado há 5 meses

Não está sendo fácil para os chineses que apostaram no Brasil para impulsionar seus negócios. Uma fonte próxima à Xiaomi declarou ao Manual do Usuário que a empresa considera fortemente desistir do mercado brasileiro nos próximos meses. Com vendas baixas, a fabricante teria até interrompido a produção de smartphones no país. Oficialmente, a Xiaomi nega as informações.

O principal motivo da saída é a incompatibilidade da estratégia chinesa com o mercado brasileiro. Já explicamos como a empresa faz para vender barato: ela calcula quanto os componentes se desvalorizariam com o tempo e joga um preço baixo logo no lançamento, com margem de lucro muito apertada. É necessário, portanto, que as vendas sejam altas, o que não vem acontecendo: a estimativa é que a empresa comercialize apenas 10 mil smartphones por mês, pouco perto dos 3,9 milhões de unidades por mês da indústria brasileira.

Estratégia de vendas falhou?

A venda dos produtos da Xiaomi começou exclusivamente online, para cortar a taxa de 30% do varejo brasileiro. Além disso, eles gastam pouquíssimo com marketing e confiam no alcance orgânico de suas redes sociais, principalmente no engajamento dos chamados Mi Fãs, para fazer propaganda. Hugo Barra disse ao Tecnoblog que a base era pequena, mas muito mais engajada que a de qualquer outra marca.

No quinto andar do Shopping Vila Olímpia, onde aconteceu o primeiro evento da Xiaomi, grandes filas eram formadas em frente ao teatro.
No quinto andar do Shopping Vila Olímpia, onde aconteceu o primeiro evento da Xiaomi, grandes filas eram formadas em frente ao teatro.

De qualquer forma, a fabricante não empolgou. Como aponta o Manual do Usuário, a venda direta pela internet ainda é vista com desconfiança pelo brasileiro. Além disso, existe o estigma da fabricante ser chinesa e do aparelho ser muito barato, o que pode deixar alguns consumidores com o pé atrás. O pagamento limitado ao cartão de crédito, no início, também piorava a situação, uma vez que muitos brasileiros preferem o velho boleto bancário.

Sem contar que essa estratégia de vendas online também enfrentou alguns problemas, como erros no site e instabilidades, que irritaram consumidores e sujaram a imagem da empresa. Depois de alguns meses, a Xiaomi cedeu e sua parceria com a Vivo, além da B2W, fez com que pontos de venda fossem acionados no varejo. Com isso, veio o investimento em propaganda fora das redes sociais, o que é raro para a empresa.

Com os resultados decepcionantes, a fábrica da Foxconn em Jundiaí (SP), que atende várias empresas, não produz mais os aparelhos da Xiaomi, segundo o Manual do Usuário. A empresa tem estoques lotados e alguns de seus funcionários já procuram recolocação no mercado. A importação não é uma saída viável, uma vez que o preço subiria consideravelmente.

Irregularidades na Mi Power Bank

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Nos últimos meses, quem tentou comprar uma Mi Power Bank, bateria externa da Xiaomi, não conseguiu achar um botão de compra. A fabricante perdeu o direito de vender o produto no Brasil, uma vez que sua homologação está suspensa na Anatel. A agência constatou que os testes internos resultaram em vazamentos e explosões, segundo o veículo.

Além disso, a Xiaomi estaria enfrentando um processo na Receita Federal por classificar incorretamente a bateria no processo de importação, o que se converteu em uma multa elevada para a empresa. Os processos são sigilosos e não há meios oficiais de confirmar essa irregularidade.

Por fim, a fabricante ainda não tem perspectiva de retomar a produção local num futuro próximo, já que parou de comprar memórias e não entrega mais planejamentos sobre a linha de montagem para a Foxconn. De certo, a pequena vida da Xiaomi foi muito conturbada no país, tanto por problemas internos quanto externos, que parecem ter desestimulado a fabricante (e os consumidores) de seguir com a aposta chinesa.

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Manual do Usuário diz que o prazo para a tomada da decisão de permanecer ou não no país está bem próximo. Se a fabricante deixar o país, haverá queima de estoque e perderemos mais uma empresa estrangeira que não conseguiu se adaptar ao difícil mercado brasileiro. Durante os próximos meses, saberemos se a empresa vai resistir.

Oficialmente, a Xiaomi nega que pensa em sair do Brasil. Em nota, a empresa diz estar “expandindo os canais através dos quais vendemos nossos produtos, vide as parcerias com Walmart, CNOVA, Webfones”. O próximo produto da fabricante não seria necessariamente produzido no país, porque “os incentivos fiscais oferecidos no Brasil para a produção local ainda estão em discussão”.

Atualização às 15h13.

A Xiaomi enviou nota à imprensa na tarde desta sexta-feira (6) para negar as informações. Segundo a empresa, o Mi Power Bank “jamais apresentou qualquer falha em testes como as levianamente alegadas e tampouco a Xiaomi foi multada por quaisquer irregularidades”. Com relação à suspensão da homologação, a Xiaomi diz que não renovou a licença porque “o modelo inicialmente importado do Mi Power Bank se esgotou e, uma vez que já foi descontinuado do portfólio mundial, não será mais vendido no Brasil”.

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.

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