Esta é a pior geração de consoles da história

PS4, Xbox One e Wii U não empolgam como os antecessores. Muita tecnologia, pouca experiência de jogo?

Emerson Alecrim
Por
• Atualizado há 11 meses
PS4 e Xbox One - joysticks

O anúncio te deixa empolgado, mas o efeito tem curta duração. Os minutos seguintes são suficientes para você pensar melhor e, então, ficar desconcertado. Pudera: tudo que é apenas “meio novo” nos faz pensar em remediação, não em evolução. O desconforto fica maior quando você percebe que o problema é generalizado. Sim, estou falando do Xbox One, do PlayStation 4 e até do Wii U.

Novo, mas nem tanto

Na E3 deste ano, a Sony reafirmou o que havia sido confirmado dias antes da feira: uma nova versão do PS4 vem aí, com boas chances de ser lançada até o final do ano. O PS4 Neo, como vem sendo chamado, não foi mostrado no evento, mas sabe-se que o console terá, essencialmente, CPU e GPU mais poderosas. A nova versão será totalmente compatível com o ecossistema do PS4 original, mas possuirá como grande diferencial a capacidade de rodar jogos em resolução 4K.

PS4 Neo

A Microsoft, por sua vez, foi mais longe: na E3, a companhia não anunciou um, mas dois consoles. O primeiro é o Xbox One S (de slim), versão 40% menor na comparação com o Xbox One “normal”. O modelo traz três opções de armazenamento (500 GB, 1 TB e 2 TB) e joystick ligeiramente melhorado. Também há suporte a vídeos em 4K (e não a jogos nessa resolução, veja bem) e HDR (esse sim nos games).

Pelo menos nos Estados Unidos, o Xbox One S será lançado em agosto. Mas a novidade mais chamativa só deve dar as caras no final de 2017: o Project Scorpio, esse sim um console que será bem mais poderoso que o atual Xbox One. O plano aqui é oferecer, além de games em 4K, uma experiência nunca antes alcançada com realidade virtual.

“Estamos criando um monstro. Será o console mais poderoso que já fizemos”. As palavras de Aaron Greenberg, chefe de marketing da divisão do Xbox, mostram como a Microsoft está apostando alto no novo videogame.

O que há de errado nisso?

Essa ideia de lançar versões melhoradas de consoles não é nova. Como exemplo, o PS3 Slim foi lançado cerca de três anos depois do surgimento do PlayStation 3, tendo como diferenciais tamanho compacto (33% menor), mais opções de armazenamento (de 120 GB a 320 GB) e menor consumo de energia. Em 2012 surgiu a versão Super Slim, ainda mais compacta e com mais espaço para dados (HDs de 250 GB e 500 GB). Houve ainda uma variação do modelo com 12 GB de memória Flash.

No lado da Microsoft, vimos o Xbox 360 aparecer em vários “sabores”, tantos que chega a dar confusão. O console foi lançado em 2005, mas nos anos seguintes surgiram versões como 360 Premium, 360 Elite e 360 S (360 Slim), esta última caracterizada pelo tamanho menor e por trazer o Kinect. A última versão, lançada na metade de 2013, é o Xbox 360 E.

Xbox 360 - versões

Em gerações anteriores também houve releituras. Se essa é uma prática comum, por que as novas versões do Xbox One e do PS4 não estão sendo celebradas por todo mundo? Bom, nos consoles mais antigos, as novas versões vieram para explorar ainda mais o sucesso que essas plataformas tiveram. No cenário atual, porém, a impressão que fica é que as novas versões são uma tentativa de salvar a geração que está aí.

A geração que não convence

Não é que os consoles de hoje sejam ruins, longe disso. PS4 e Xbox One são inegavelmente sofisticados, além de contarem com jogos consagrados. Até o Wii U, tido como o console menos vendido da Nintendo (desconsiderando algumas desventuras da empresa, como o Virtual Boy), tem títulos que são garantia de diversão.

Mario triste

Só que, quando você tem um novo videogame, espera ter experiências melhores que as percebidas na geração anterior. Mas estou falando de experiências completas. Não basta ter gráficos impressionantes (quando há) se a jogabilidade não acompanha tamanha evolução ou se a história não tem originalidade.

Pois esse é o grande problema da geração atual. O que mais temos visto ultimamente são remakes, remasterizações, títulos que deixam a impressão de que falta algo (com a permanente esperança de que uma continuação salve alguma coisa) e até downgrade gráfico. Títulos exclusivos? Há, mas para uma geração que surgiu em 2013, deveria haver muito mais a essa altura.

É como se o PS4, o Xbox One e o Wii U (para não ignorar a Nintendo) fossem apenas expansões melhoradas do PS3, do Xbox 360 e do Wii, respectivamente. Esses consoles são bastante avançados, mas parece não haver títulos que realmente conseguem aproveitar tanto potencial — não em quantidade suficiente.

Futuro sombrio

Na primeira olhada, o Xbox One S é apenas uma atualização do Xbox One original. Mas há um porém: o console não tem porta dedicada ao Kinect. Se você quiser usar o acessório, terá que conectá-lo via adaptador USB. Não é por menos: o Kinect caminha rumo ao vale das sombras. Apesar de revolucionário, quase não há jogos que conseguem aproveitar o dispositivo plenamente, com óbvia exceção para títulos de esportes e danças.

Kinect 2.0

A meu ver, esse é um sinal de que a Microsoft ficou focada demais na parte técnica. O efeito é o que já foi dito aqui: parece não haver games capazes de transformar tanto potencial em experiência rica — novamente, pode haver, mas não em número suficiente. Algo semelhante acontece no ecossistema da Sony.

Eis o resultado: temos uma geração de consoles que parece ter grande poder de fogo, mas não consegue acertar o alvo. Admito que falar em “pior geração de consoles da história” talvez seja um exagero alimentado pela minha decepção, mas não dá para refutar os indícios de que algo não está dando certo.

Xbox One S
Xbox One S

Com o perdão da referência, a Nintendo praticamente desistiu de jogar cogumelos verdes para o Wii U, depositando todas as esperanças no futuro Nintendo NX. O PS4 bateu recentemente 40 milhões de unidades vendidas. A Microsoft não divulga os números do Xbox One, mas fala-se em algo próximo de 20 milhões de consoles comercializados. Não são quantidades inexpressivas, mas o PS3 e o Xbox 360 venderam mais. Proporcionalmente ao tempo de mercado, talvez só o PS4 consiga bater o antecessor. Talvez.

Sob esse ponto de vista, é de se entender o lançamento de versões atualizadas do PS4 e do Xbox One. É necessário reagir. O problema é que, por mais que Sony e Microsoft neguem, não dá para escapar do temor de que o resultado final desses esforços seja o encurtamento do tempo de vida da atual geração. Seria um enorme dissabor para quem apostou nessas plataformas.

PS4 e Xbox One

Mas o pior é o medo de que os erros se repitam. PS4 e Xbox One vieram com a promessa de resolução full HD, 60 fps e mais interação com movimentos (Kinect e PlayStation Camera). Neo e Scorpio terão como grandes atrativos resolução 4K e realidade virtual. Como se vê, novamente os holofotes estão sobre os aspectos técnicos. Esses recursos serão bem-vindos, certamente, mas é preciso saber dosar: a atual fase tem mostrado que pouco adianta haver tanta tecnologia se ninguém sabe ao certo o que fazer com ela.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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