Alcatel Idol 4: som poderoso num smartphone
Smartphone da Alcatel impressiona pela qualidade de áudio, mas peca na comparação com os concorrentes
Smartphone da Alcatel impressiona pela qualidade de áudio, mas peca na comparação com os concorrentes
A geração mudou, mas a estratégia continua a mesma: a Alcatel trouxe ao mercado brasileiro o Idol 4, um smartphone intermediário com foco em qualidade de som. Com alto-falantes duplos Waves MaxxAudio e fones de ouvido da JBL, ele quer competir com nomes como Moto G4 Plus, Quantum Fly e Galaxy A5. Será que consegue?
O smartphone da Alcatel tem bom desempenho? Os óculos de realidade virtual inclusos na caixa são bons? E a qualidade de áudio, é tudo isso que estão prometendo? Eu conto tudo nos próximos parágrafos.
O Idol 4 é mais bonito pessoalmente do que nas fotos de divulgação. As bordas de alumínio passam boa impressão de robustez, apesar do smartphone ter um corpo bem fino: são apenas 7,1 mm de espessura, mesma medida do iPhone 7. A tela de 5,2 polegadas também torna a ergonomia levemente melhor que a dos concorrentes, que trazem displays de 5,5 polegadas e são um pouquinho mais largos.
O design simétrico permite utilizar o smartphone em qualquer sentido — ele tem alto-falantes e microfones nos dois cantos, evitando qualquer confusão na hora de puxar o aparelho do bolso. Mas é curioso (e um pouco incômodo) o posicionamento dos botões. O liga/desliga não é aquele botão circular do lado direito como quase todo mundo poderia imaginar: na verdade, ele está na parte superior esquerda (?).
O botão circular do lado direito ativa um truque de software definido pelo usuário nas configurações: você pode configurá-lo para abrir a câmera (mas apenas quando a tela já estiver ligada, infelizmente), capturar a tela ou executar um aplicativo específico, por exemplo. É importante escolher bem a função, porque você vai apertar a Boom-Key várias vezes por engano.
Por padrão, o botão aciona efeitos de som que aumentam os graves da música ou do filme que você estiver consumindo. É com ele que os alto-falantes do Idol 4 mostram toda a potência: o som é claro, extremamente volumoso para um smartphone e não distorce facilmente. O mesmo vale para os fones de ouvido da JBL, que encaixam bem nos ouvidos, têm médios mais claros e estão bem acima dos acessórios descartáveis de concorrentes. Ele tem, sem dúvida, o melhor áudio de smartphone que eu já ouvi, e pode até dispensar uma caixa de som externa em determinadas ocasiões.
Mas se o som do Idol 4 impressiona ao assistir às séries favoritas, a tela é apenas ok. O painel IPS LCD de 5,2 polegadas (1920×1080 pixels) tem boa saturação, brilho razoável e um contraste medíocre, sem muita profundidade de preto para um smartphone dessa categoria. A qualidade nada impressionante na tela do Idol 4 também impacta negativamente na experiência de realidade virtual, que detalharei adiante.
O software da Alcatel não mudou muito desde o Idol 3. Estamos falando de um Android 6.0.1 Marshmallow com poucas modificações na interface, patches de segurança desatualizados (junho de 2016) e uma série de recursos embutidos e aplicativos pré-instalados de utilidade duvidosa, que parecem ter sido colocados sem muito critério — sem contar os softwares que são oferecidos logo no assistente inicial.
A má impressão vem logo na tela de bloqueio, que por padrão mostra um inexplicável atalho para a busca do Yahoo — no entanto, diferente do que acontecia na geração anterior, você pode configurar os atalhos que serão exibidos (reconhecer uma música no Shazam, tirar uma selfie, iniciar o gravador de som ou ligar a lanterna, por exemplo) e até desativá-los, caso prefira.
O visual segue o Android puro com modificações nos ícones, que ganham contorno quadrado. Além do pacote padrão do Google, o Idol 4 traz uma penca de joguinhos de demonstração (A Era do Gelo: As Aventuras de Scrat, Asphalt Nitro, Asphalt O, Homem-Aranha: Ultimate Power, Kingdoms & Lords e Midnight Pool) e aplicativos como gerenciador de arquivos, bússola, gravador de som, Fyuse (fotografia), Shazam (reconhecimento de música), WPS Office (suíte de escritório) e Xender File Transfer.
A Alcatel gosta de incluir acessórios na caixa de seus smartphones para agregar valor. No caso do Idol 4, além do celular, há uma película para proteger a tela, um fone de ouvido de boa qualidade, um cartão de memória de 32 GB e… um headset de realidade virtual. O acessório traz controles capacitivos na parte inferior e acompanha uma tira elástica que encaixa confortavelmente na cabeça.
O problema é que a experiência de realidade virtual do Idol 4 não é boa o suficiente para que você realmente se divirta com algum jogo — embora, nos primeiros minutos, ele talvez seja legal, principalmente para quem nunca experimentou a tecnologia antes.
A definição de 424 pixels por polegada deixa a imagem pixelada nos olhos, prejudicando até mesmo a leitura de textos da interface simplória de realidade virtual da Alcatel. Além disso, o preto acinzentado não contribui para criar uma experiência imersiva, a taxa de frames se mostra baixa a ponto de criar rastros indesejáveis ao brincar com games em VR, e o campo de visão é restrito, deixando as “sombras” do contorno dos olhos visíveis a todo momento.
Eu gostei da iniciativa da Alcatel em tentar popularizar a realidade virtual, mas a tecnologia ainda não está pronta para chegar a smartphones menos caros — nem mesmo no Galaxy S7 e Gear VR eu diria que a experiência é realmente boa, mas pelo menos é aceitável. Os óculos de realidade virtual da Alcatel, embora apresentem bom acabamento e qualidade, não diferem muito da experiência que você teria com acessórios como Cardboard e VR Box, mais acessíveis.
Sensor de 13 megapixels, lente com abertura f/2,0, flash duplo e foco automático com detecção de fase. Na teoria, dentro da média. Na prática, um pouco decepcionante.
O Idol 4 sofre bastante em condições de baixa iluminação, aumentando o ruído nas imagens e mantendo um nível de detalhes abaixo do que esperamos de um smartphone intermediário, principalmente depois do Moto G4 Plus, que subiu o nível das câmeras da categoria.
Com boa iluminação, o Idol 4 faz um trabalho razoável, apresentando um alcance dinâmico apenas aceitável. Mesmo quando o sol não está tão forte, as áreas de sombra ficam mais escuras do que deveriam, e os pontos de iluminação estouram. O HDR poderia ser uma solução para a deficiência do sensor, mas exige que o usuário segure o aparelho firmemente por alguns segundos e demora para processar a foto. Também há presença de aberrações cromáticas em regiões de contraste.
Não é uma câmera tão ruim quanto a de smartphones mais básicos, abaixo dos 700 reais, mas só vai agradar a usuários que não se importam muito com a qualidade de fotografia.
A Alcatel colocou um hardware comum para a faixa de preço. O processador é um octa-core Snapdragon 617, mesmo que equipa o Moto G4 Plus. A RAM de 3 GB agrada, mas o espaço de apenas 16 GB decepciona.
A boa notícia é que a Alcatel envia dentro do aparelho um microSD de 32 GB de boa qualidade (UHS 1) para que você consiga utilizá-lo como extensão da memória interna no Marshmallow. Não é a mesma coisa que ter um armazenamento interno generoso, mas funciona bem; não enfrentei nenhuma lentidão mesmo em sessões mais intensas.
O que me preocupou é que o Idol 4 esquenta bastante. Temperatura é um ponto que sempre passa batido nos reviews, mas é porque a maioria dos smartphones fica dentro do esperado, esquentando apenas em tarefas mais pesadas. No caso do Alcatel, foram raras as vezes em que peguei o smartphone e ele estava frio, mesmo com uso leve. O design fino e a traseira de vidro devem colaborar para concentrar o calor nas mãos.
O desempenho é o mesmo que você já conhece de outros smartphones com Snapdragon 61x: ele dá conta da maioria das tarefas com um pé nas costas. A GPU Adreno 405 não faz feio nos jogos, sofrendo um pouco com a taxa de quadros apenas em títulos mais pesados, com a qualidade gráfica no máximo; a temperatura mais alta não parece ter impactado negativamente na performance do processador. É um hardware que deve aguentar o Android e seus aplicativos por um bom tempo.
Vale mencionar que, diferente do que a maioria das fabricantes está fazendo, colocando entrada para dois chips de operadoras em smartphones de categorias mais baixas, a Alcatel optou por trazer o Idol 4 apenas na versão single SIM. Pode ser um entrave para quem utiliza o mesmo smartphone para assuntos pessoais e de trabalho, por exemplo. Outra característica que está em praticamente todos os concorrentes, mas ficou de fora no Idol 4, é o sensor de impressões digitais.
A bateria de 2.610 mAh foi um ponto de decepção do Idol 4. Em números, a capacidade não enche os olhos. Na prática, ele também fica longe de surpreender. No meu dia de testes, tirei o smartphone da tomada às 9h, escutei 2h de música por streaming no 4G e naveguei na web por 1h30min, também pela rede móvel. A tela ficou ligada por 1h43min, com brilho no automático. Às 22h20, a carga chegou a apenas 17%. Nas mesmas condições, o Moto G4 Plus, que não traz uma bateria tão maior (3.000 mAh), chega a algo em torno de 35% a 40%.
O smartphone da Alcatel tenta, tenta muito, mas não consegue se destacar em meio à multidão. Ele não é terrível em nenhum aspecto, mas também não traz nenhum diferencial realmente importante. Embora os alto-falantes tenham qualidade impressionante e os óculos de realidade virtual possam chamar a atenção de algumas pessoas, o Idol 4 tem dificuldade para competir com seus pares.
As principais deficiências do Idol 4 ficam por conta da câmera, que fica aquém do esperado para um intermediário de 2016; da tela, que poderia ser bem melhor, especialmente em comparação com o AMOLED do Galaxy A5 (2016); e da bateria, que poderia ter capacidade maior. Fica difícil entender a obsessão por um smartphone tão fino, enquanto os concorrentes seguiram pelo caminho contrário, com baterias de 3.000 ou até 3.300 mAh.
Quando o Idol 4 foi anunciado no Brasil, em agosto, ele tinha um posicionamento de preço até interessante, por trazer mais RAM que os concorrentes (3 GB, contra 2 GB da maioria dos rivais) e o mimo dos óculos de realidade virtual sem cobrar muito caro. Mas acabou sendo ofuscado pela redução de preço dos concorrentes, notavelmente o Moto G4 Plus, e pelo lançamento de smartphones bem superiores na faixa de preço imediatamente acima, como o Zenfone 3.
Ainda assim, é importante lembrar que o Idol 3 ficou marcado por belas promoções no varejo nos meses seguintes ao lançamento, que o colocavam na mesma faixa de preço de smartphones de entrada, bem inferiores. O Idol 4, lançado com preço sugerido de R$ 1.699, já pode ser encontrado por cerca de 1,2 mil reais. Se cair mais ainda, pode ser uma compra a se considerar — desde que você tenha em mente as limitações dele.