As trapalhadas do Evernote: mudanças nos termos permitiriam que funcionários lessem suas notas

Empresa percebeu que fez besteira e voltou atrás (mas só depois de muita confusão)

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 9 meses
Evernote

O Evernote se envolveu em polêmica depois de anunciar uma atualização em seus termos de uso, no início da semana. As mudanças permitiriam que determinados funcionários da empresa tivessem acesso às notas dos usuários, com o objetivo de “garantir que as tecnologias de aprendizagem de máquina estão funcionando corretamente, a fim de mostrar os conteúdos e recursos mais relevantes para você”.

Com a mudança, as anotações de todos os usuários estariam automaticamente disponíveis para serem analisadas por funcionários do Evernote: bastaria continuar utilizando o serviço depois de 23 de janeiro de 2017 para aceitar as regras impostas.

A verdade é que as pessoas já estão acostumadas (e várias até aceitam) o fato de robôs acompanharem tudo o que você faz na internet para servir anúncios mais relevantes e fornecer recursos mais inteligentes. Só que a coisa muda de figura quando humanos são adicionados à equação, especialmente num serviço como o Evernote, que guarda informações sensíveis e confidenciais.

Por isso, ninguém gostou da mudança, tanto que o Evernote já voltou atrás em sua decisão nesta quinta-feira (15). Mas só depois de fazer uma série de retratações que não colaram.

Na primeira retratação, o Evernote afirmou que o número de funcionários com acesso às anotações será o “mínimo possível”. As informações coletadas não seriam vendidas, nem utilizadas para servir anúncios direcionados. A solução dada pelo Evernote para os preocupados com a privacidade seria criptografar a nota com uma senha, impedindo que qualquer pessoa, mesmo os funcionários do Evernote, tivesse acesso ao conteúdo.

Na segunda retratação, o Evernote disse que você poderia optar por não compartilhar as informações para a “iniciativa de aprendizagem de máquina” da empresa porque ela não é essencial para que o serviço de notas funcione. Para sair da “iniciativa”, bastaria entrar nas configurações e desmarcar a opção “Permitir que o Evernote use meus dados para melhorar minha experiência” (essa opção já foi removida, já que o Evernote posteriormente desistiu de implantar o recurso).

Na terceira retratação, o Evernote esclareceu que os funcionários já podiam visualizar as notas dos usuários em “casos muito limitados”, como nas situações de violações de termos de uso, para solucionar um problema técnico reportado pelo usuário, para proteger a segurança do Evernote e seus consumidores, ou para manter suas obrigações legais. Nada disso mudaria com a atualização.

Na quarta retratação, o Evernote afirmou que as mudanças permitirão que você “automatize funções que atualmente tem de fazer manualmente, como criar listas de tarefas ou montar itinerários de viagem”. Além disso, os cientistas de dados do Evernote veriam anotações aleatórias, sem saber a quem elas pertencem e, se a máquina identificasse qualquer informação pessoal, esse dado seria escondido do funcionário.

Por fim, o Evernote entendeu que fez caquinha e decidiu que não vai mais atualizar seus termos de uso — na verdade, a empresa diz que “comunicou mal” as mudanças, o que resultou em “uma confusão compreensível”. Eles explicaram que as máquinas ainda necessitam de um humano para verificá-las, e que os funcionários precisam ver os dados enquanto desenvolvem as tecnologias.

As mudanças que entrariam em vigor no dia 23 de janeiro de 2017 foram canceladas. A ideia é que os recursos sejam realmente implantados em algum momento no futuro, só que do jeito certo: os usuários terão que autorizar expressamente a análise de suas notas por funcionários. “Estamos animados com o que podemos oferecer aos clientes do Evernote graças ao uso da aprendizagem de máquina, mas temos de pedir permissão, não assumir que já temos”, disse o CEO Chris O’Neill.

Que feio.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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