Tudo o que você precisa saber sobre o Snapdragon 835

Os detalhes do novo chip poderoso da Qualcomm para dispositivos móveis (e o que esperar dos smartphones em 2017)

Paulo Higa
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• Atualizado há 11 meses

Direto de San Diego — A Qualcomm anunciou em janeiro, durante um evento em Nova York, os detalhes do Snapdragon 835, novo processador de alto desempenho para smartphones e tablets. Ele foi revelado em novembro de 2016, quando a empresa informou que o chip teria fabricação em 10 nanômetros e seria produzido pela Samsung. Agora, temos mais informações sobre a performance e as tecnologias integradas do novo chip.

Os detalhes essenciais

Depois de passar um tempo com CPUs de quatro núcleos nos Snapdragon 82x, a Qualcomm decidiu voltar para o octa-core, mantendo a técnica big.LITTLE, que utiliza conjuntos de núcleos diferentes para melhorar a eficiência energética. O Snapdragon 835 tem quatro núcleos Kryo 280 de alto desempenho de 2,45 GHz e outros quatro de baixo consumo de energia, com frequência máxima de 1,9 GHz.

Dentro do Snapdragon 835 também há a GPU Adreno 540, que é uma pequena atualização da Adreno 530 presente na geração anterior. Ela está 25% mais rápida e suporta as tecnologias gráficas mais recentes, incluindo OpenGL ES 3.2, OpenCL 2.0, Vulkan e DirectX 12.

E uma das grandes novidades do chip é que, além de rodar Android, o Snapdragon 835 também é otimizado para Windows 10 e será capaz de executar os aplicativos da área de trabalho clássica, emulando os softwares x86 em arquitetura ARM.

4K, 4K, 4K, VR, VR, VR

O que mais me chamou a atenção no Snapdragon 835 foi o foco em 4K e realidade virtual. O processador de sinais (DSP) Hexagon 682 ganhou instruções para reduzir a latência entre o instante que você mexe a cabeça e o smartphone entende o movimento: passou de dezenas de milissegundos para apenas 15 ms. Isso deve evitar o atraso indesejado do headset, que te deixa perdido e chega a causar enjoos em certas pessoas.

Até a duração de bateria leva em conta as tecnologias novas: a expectativa é que os smartphones com o Snapdragon 835 aguentem mais de 11 horas com reprodução de vídeo em 4K, mais de 7 horas de streaming em 4K, mais de 3 horas de filmagem em 4K e mais de 2 horas em jogos de realidade virtual. O VR é o ponto mais crítico porque, se o processador não fosse otimizado e esquentasse demais, não seria possível chegar a esse tempo de jogatina mantendo um desempenho aceitável.

Durante os jogos, o Snapdragon 835 é capaz de rastrear seus olhos e receber dados dos sensores de acelerômetro e giroscópio até 1.000 vezes por segundo. Essas informações são utilizadas no Foveated Rendering, que simula o campo de visão humano, focando o processamento na região da imagem em que você realmente está prestando atenção.

Também há suporte ao Q-Sync, que atualiza a tela na mesma frequência em que a GPU renderiza as cenas, além de HDR10 para melhorar o alcance dinâmico das imagens, tornando-as mais próximas do que o olho humano é capaz de enxergar — o Galaxy Note 7 era o único smartphone do mercado com a tecnologia até então, mas ele explodiu.

6.000 mAh? 7.000 mAh? Baterias maiores estão chegando

Não adianta ter um processador que aguente o tranco se a bateria acaba rapidamente, mas a Qualcomm deu sinais positivos para o futuro. A empresa diz que “alguns parceiros de hardware” já trabalham em projetos de smartphones com baterias de 6.000 ou 7.000 mAh. Atualmente, essas capacidades são restritas a aparelhos de nicho (como o Oukitel K6000 ou K10000), mas podem finalmente virar mainstream. A Samsung já deu o primeiro passo com o Galaxy A9, de 5.000 mAh.

O Snapdragon 835 também deve contribuir com a bateria, gastando 25% menos energia em relação aos Snapdragon 82x para processar a mesma coisa. Esse resultado é atingido com computação heterogênea, ao delegar tarefas para partes específicas do chip — as tarefas de aprendizagem de máquina, por exemplo, agora podem ser feitas pelo DSP, que é quatro vezes mais eficiente que a CPU.

O carregamento das baterias gigantes poderá ser feito com o Quick Charge 4.0, que entrega até 5 horas de autonomia com 5 minutos na tomada por meio de adaptadores de até 36 watts. A tecnologia de carregamento rápido da Qualcomm causou polêmica porque o Google desencorajou explicitamente as fabricantes a utilizarem padrões proprietários de recarga — a recomendação é que elas adotem o USB Power Delivery (USB-PD), estabelecido pela organização responsável por definir os padrões do USB.

Quanto à polêmica, a Qualcomm avisa que o Quick Charge 4.0 é compatível com o USB-PD e traz benefícios adicionais: o ecossistema de carregadores, cabos e gadgets é bem maior (enquanto o USB-PD ainda está nascendo), os tempos de recarga são mais consistentes entre diversos produtos e há proteções maiores para evitar danos aos aparelhos.

Espere por boas novidades nas câmeras

O processador de imagem (ISP) Spectra 180 suporta câmeras com um sensor único de 32 megapixels ou dois sensores de 16 megapixels. Smartphones com duas câmeras deverão ser uma tendência para 2017, especialmente nos modelos mais caros, para melhorar as fotografias com baixa iluminação ou para enxergar mais longe — como aconteceu no iPhone 7 Plus.

O chip dá conta de três possíveis configurações de câmera:

  • Câmera única, como na maioria dos smartphones de hoje;
  • Clear Sight, que aproveita dois sensores, um colorido (para capturar as cores) e outro preto e branco (que é melhor que o colorido para capturar a iluminação). Ao combinar as fotos geradas pelos dois sensores ao mesmo tempo, é possível melhorar a nitidez e obter imagens melhores em ambientes noturnos;
  • Optical Zoom, que utiliza uma lente grande angular (para tirar as mesmas fotos que você tira hoje no seu smartphone) e uma teleobjetiva (que enxerga mais longe). O Snapdragon 835 permite alternar entre as duas lentes de forma suave, para que o usuário nem perceba a troca.

A Sony deve estar bem feliz com a quantidade de sensores a mais que vai vender.

Conexão mais rápida, dentro e fora de casa

As conexões 4G de um gigabit por segundo ainda estão longe da nossa realidade, mas o modem LTE Cat 16 do Snapdragon 835 será capaz de suportar essas velocidades altíssimas quando as operadoras finalmente implantarem a tecnologia (ou, talvez, quando você viajar para algum país da Ásia).

Com agregação de três portadoras (o que será possível no Brasil com a liberação da faixa de 700 MHz, que se juntará aos 1.800 MHz e 2.600 MHz), 256-QAM e 4×4 MIMO, a velocidade máxima teórica atingida pelo modem será de 979 Mb/s. A taxa de upload pode chegar a 150 Mb/s.

Se a sua operadora não lançar as redes ultrarrápidas a tempo, os smartphones com Snapdragon 835 também poderão ser mais rápidos em casa, com o suporte ao Wi-Fi 802.11ad. Como já explicamos, ele não vai substituir o seu roteador 802.11ac: o novo padrão é voltado para transmissões de curta distância (entre dispositivos no mesmo cômodo, por exemplo). A vantagem é que ele chega a ser mais rápido que o cabo, com velocidades de 4,6 Gb/s.

Desempenho nos benchmarks

Para termos uma ideia do desempenho de seus processadores antes mesmo do lançamento dos dispositivos comerciais, a Qualcomm cria sua própria plataforma de testes. Eu tive acesso a um protótipo de smartphone com Snapdragon 835, com tela de 2560×1440 pixels e 6 GB de RAM, para executar benchmarks sintéticos.

No Geekbench 4, que testa o desempenho bruto da CPU, o Snapdragon 835 obteve pontuação em multi-core 21% maior que o Exynos 8890, do Galaxy S7. Mas a Apple ainda não tem concorrentes à altura quando o assunto é performance por núcleo: até o Apple A9, que foi lançado em 2015 no iPhone 6s, consegue ser 14% mais rápido que o processador de 2017 da Qualcomm.

 

O 3DMark Sling Shot, que testa a capacidade da GPU, mostrou bons resultados para a nova Adreno 540, embora sem avanços significativos em relação à Adreno 530 do Snapdragon 821, com aumento modesto de 7% na pontuação. Ainda assim, o chip renovado da Qualcomm é melhor que qualquer outro Snapdragon, Exynos ou Apple no quesito desempenho gráfico.

 

Já o AnTuTu 6, um benchmark sintético que simula diversas tarefas executadas por usuários, coloca o Snapdragon 835 no topo, ultrapassando os 180 mil pontos. É um resultado acima do iPhone 7, que atingia 178 mil pontos, e bem superior ao do Google Pixel, com Snapdragon 821, que chegava a 145 mil pontos.

 

Uma consideração a se fazer é que, embora o dispositivo da Qualcomm se pareça com um smartphone, ele é projetado para oferecer as melhores condições de teste para o Snapdragon 835 e dificilmente se tornaria um produto comercial: é um aparelho relativamente espesso e construído com plástico barato, o que facilita a dissipação de calor e pode gerar resultados melhores que nos dispositivos lançados por outras fabricantes.

Quando chega?

As maravilhas da miniaturização: Snapdragon 835 é o menorzinho; o maior é o Snapdragon 821

O Snapdragon 835 já está na linha de produção da Samsung e será lançado nos smartphones, tablets, computadores com Windows 10 e outros dispositivos ainda no primeiro semestre de 2017. O primeiro aparelho anunciado com o novo chip foi o Xperia XZ Premium, que será lançado até o final de abril. Em breve, a lista também deve incluir a versão americana do Galaxy S8.

Paulo Higa viajou para Nova York em janeiro de 2017 a convite da Qualcomm.

Paulo Higa viajou para San Diego em março de 2017 a convite da Qualcomm.

Publicado originalmente em 3 de janeiro de 2017. Atualizado em 22 de março de 2017 para incluir os detalhes do desempenho do Snapdragon 835 no dispositivo de testes.

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Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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