Ferramenta obriga leitor a provar que leu a matéria antes de comentar

Jean Prado
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• Atualizado há 1 semana

Se você consome muitas notícias pela internet, já sabe como é a seção de comentários de alguns sites: gente que pergunta o que o texto já respondeu, gente que diz algo nada a ver com o assunto, gente que gosta de criar polêmica – só uma pequena parte é composta por algo relevante sobre o assunto abordado. Como, então, manter a qualidade dos comentários?

Por muito tempo, isso foi (e ainda é) um desafio para vários sites, incluindo o Tecnoblog. Há várias possibilidades: permitir comentários anônimos? Usar os comentários do Facebook para obrigar os usuários a comentarem com seu perfil de verdade? Restringir comentários apenas para quem fez um cadastro? Pouca coisa resulta diretamente em comentários com níveis mais altos e realmente interessados no assunto.

Mas a NRK, uma rede de notícias estatal da Noruega, vem ganhando destaque há alguns dias por fazer diferente. Ela criou uma ferramenta para pedir ao leitor que prove que leu a matéria antes de comentar. Para deixar um comentário, basta responder um pequeno questionário com perguntas simples sobre o texto.

Traduzido do norueguês para o português pelo Google Tradutor.

Por exemplo, a imagem acima representa o questionário (traduzido do norueguês) embaixo de uma matéria sobre a privacidade na era do Facebook, e sobre como é fácil achar todas as informações do perfil de alguém em um site chamado Stalkscan, que usa as informações do Graph Search. As perguntas são sobre quem desenvolveu o Stalkscan, qual foi o ano de lançamento do Graph Search e se você deve temer a ferramenta.

Em um primeiro momento, pode haver preocupação com a subjetividade nas respostas. A pergunta sobre temer o Stalkscan, por exemplo, depende da percepção da pessoa sobre a ferramenta. Aí é que está a pegadinha: depois de ler a matéria, vi como é fácil achar a resposta. Logo depois da pergunta “devo me preocupar?”, eles escrevem: “nós começamos o artigo com essa pergunta e a resposta é: não”.

As perguntas são criadas por pessoas de verdade, e não são automatizadas. Como os robôs ainda não são muito confiáveis para lidar com matérias jornalísticas e informativas, é compreensível que fique a cargo de um humano a tarefa de criar perguntas sobre o texto (que possivelmente ele mesmo escreveu).

Eis a matéria sobre o Facebook no NRKbeta.

Confesso que, inicialmente, fiquei um pouco desconfiado por achar que é trabalho demais responder algo sobre o que acabei de ler. Mas, com perguntas bobas e curtas, o trabalho pode não ser tão grande assim. Em entrevista ao NiemanLab, um editor da NRKbeta (divisão de tecnologia da NRK) disse que o questionário também ajuda a acalmar o leitor que ficou bravo com a notícia e que vai comentar de forma impulsiva.

“Se você passa 15 segundos respondendo o questionário, esses 15 segundos ajudam a reduzir a intensidade de um possível discurso inflamado”, disse Marius Arnesen. Outro jornalista da NRKbeta também defende a ferramenta: “se todo mundo concorda que é isso que o artigo diz, eles têm uma base muito melhor para comentar nele”. Funciona meio que como um teste de conhecimento sobre o que a pessoa acabou de ler antes de se equivocar nos comentários.

Devido ao sucesso da ferramenta, os criadores resolveram abrir o código do questionário e disponibilizá-lo no GitHub (que é bem fácil de entender e usar, diga-se de passagem). Eles também prometeram um plugin para WordPress, mas ele ainda não foi revisado pelo diretório de plugins do WP, então deve demorar um pouco para sair.

Será que isso daria certo por aqui? Esta é a melhor forma de manter a qualidade da discussão nos comentários? Compartilhe sua opinião abaixo (não precisa fazer teste!).

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.

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