TomTom Runner 3: um relógio esportivo que preza pela simplicidade

Relógio para corredores com GPS tem versão acessível, mas cobra mais caro do que deveria

Paulo Higa
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• Atualizado há 11 meses

A terceira geração do relógio com GPS da TomTom chegou ao mercado brasileiro com uma penca de versões (e preços) diferentes. O Runner 3 é focado em corredores, ciclistas e nadadores que desejam registrar suas atividades de forma prática — e sem precisar carregar um smartphone desengonçado por aí.

O relógio esportivo da TomTom possui versões com leitor de batimentos cardíacos no pulso, armazenamento interno para músicas e até fone de ouvido sem fio, que cobram seu preço. Eu corri com a versão mais simples, de R$ 999, para descobrir se ele pode ser uma boa companhia para os seus treinos. Conto tudo nos próximos parágrafos.

O que mais chama a atenção no Runner 3 é a simplicidade de operação. Tudo o que ele possui é um botão direcional para navegar na interface: bastam alguns minutos de uso para saber como explorar todos os recursos do relógio. Sem touchscreen, sem menus confusos, sem telas desnecessárias.

A tela principal mostra as horas a todo momento. Um toque para baixo abre as configurações, permitindo ligar alarmes, sincronizar com o smartphone e ajustar seus dados pessoais. À esquerda está o registro de atividades, com seus passos, distância e duração de sono. Um toque para a direita abre a tela que realmente importa: você pode iniciar uma atividade, configurar um treino e ver seu histórico de exercícios.

A sincronização das atividades com o smartphone é feita, na maior parte do tempo, de forma automática — em alguns momentos tive que apertar um botão para subir os dados manualmente, mas nada que incomodasse. O relógio envia as informações para o TomTom Sports, disponível para Android, iOS e na web, que recebeu uma atualização com o lançamento do Runner 3.

O Sports possui interface limpa e mostra um histórico das suas atividades, além de fornecer insights sobre os dados coletados: ele te informa se seu sono tem piorado recentemente, se você está rendendo melhor nos treinos de acordo com determinadas condições, e como você está evoluindo. A tela de atividade mostra o trajeto que você fez no mapa e se você quebrou um recorde pessoal.

Como é pouco provável que você tenha muitos amigos com um relógio da TomTom, é bom saber que o Sports compartilha dados com aplicativos de terceiros sem nenhuma dificuldade — eu ativei a sincronização automática com o Strava, mas você também pode integrá-lo com o Endomondo, RunKeeper, MapMyFitness e outros serviços do gênero.

A programação de atividades também agrada. Além de adicionar treinos de distância, tempo e ritmo, é possível configurar treinos intervalados diretamente do relógio — nada muito complexo, como intervalados progressivos, mas dá para colocar os tempos de aquecimento e desaquecimento, e uma repetição de tiros com distâncias (ou tempos) fixos. São recursos suficientes para você não precisar do smartphone em nenhum momento se quiser só correr.

Durante uma corrida, o relógio mostra distância, tempo e ritmo com letras grandes em sua tela monocromática, que possui ótima legibilidade sob a luz do sol. Periodicamente, ele vibra e emite um bip para informar em quanto tempo você fechou o último quilômetro ou volta, um dado que ajuda a manter o ritmo durante o exercício.

Por fim, a bateria do Runner 3 se mostrou muito boa. Oficialmente, a TomTom informa que ela dura 11 horas de utilização contínua de GPS. Nos meus testes, eu consegui atingir uma autonomia de oito dias, com cinco horas de corrida por GPS, antes do Runner 3 mostrar o aviso de bateria fraca — em resumo, para a maioria das pessoas, ele deve aguentar a semana inteira antes de precisar ser recarregado para um treino mais longo no final de semana.

É verdade que o Runner 3 básico é um dos relógios com GPS mais acessíveis do mercado brasileiro, mas ainda assim ele chegou relativamente caro ao país: a versão de R$ 999, nos Estados Unidos, é vendida por US$ 129. E as versões mais caras, com leitor de batimentos cardíacos no pulso (R$ 1.599) ou reprodução de música (R$ 1.999) sofrem a concorrência de produtos mais completos.

Não dá para entender por que a TomTom não colocou recursos encontrados em qualquer smartwatch. Se o Runner 3 fica sempre pareado com o celular por Bluetooth, por que não permitir a exibição de notificações diretamente no pulso, por exemplo? Nem todo mundo gosta desse recurso (particularmente, tenho um Garmin Forerunner 235 e deixo as notificações desativadas), mas é fato que ele passaria a ser mais útil e atingiria um público mais amplo.

O software do relógio também precisa evoluir. Depois que você encerra o treino, por exemplo, não é possível nem ver em quanto tempo você fechou cada quilômetro (embora essa informação seja exibida durante a corrida). Se o objetivo é dispensar o smartphone, trazendo até versão com armazenamento para músicas integrado, o que espero é que o Runner 3 mostre informações mais completas.

Outras funções básicas de monitoramento, mas que por algum motivo não estão disponíveis, me intrigam. O Runner 3 detecta quando você dormiu ou acordou, mas no final diz apenas a duração total do sono — esse recurso seria minimamente útil se exibisse o tempo de sono leve e profundo, como faz qualquer pulseira fitness simples. Por causa dessa ausência, também não é possível configurar alarmes “inteligentes”, que te despertam no momento mais oportuno.

Ele mostra a duração total do sono, e é só isso mesmo

E, na parte “relógio”, foi estranho ver que o Runner 3 não atualizou as horas automaticamente em uma viagem para outro fuso horário. Em regra, smartwatches sincronizam com o smartphone (que está sempre com o horário atualizado, desde que conectado a uma rede de celular), e relógios com GPS sincronizam com os satélites, sem nenhuma intervenção manual.

Quanto ao design, ainda que estejamos falando de um produto esportivo, fico pensando se não seria interessante haver uma versão mais discreta: mesmo o Runner 3 preto tem detalhes verdes berrantes. Grande e chamativo, o relógio da TomTom não fica muito bem em situações menos casuais, o que acaba limitando a utilidade do gadget como um monitor de atividades para o dia todo.

Vale a pena?

É difícil recomendar o Runner 3 como “compra certa” no Brasil, porque o relógio da TomTom concorre com produtos fortes em todas as suas faixas de preço — diferente do mercado americano, onde ele realmente é mais acessível que as alternativas.

A versão básica, de R$ 999, não possui sequer um leitor de batimentos cardíacos; é possível pareá-lo com uma cinta, mas isso é pouco prático. Esse componente está cada vez mais presente em produtos básicos, como o Gear Fit 2, da Samsung, vendido pelo mesmo preço — e que traz como bônus o armazenamento para músicas (disponível apenas no Runner 3 de R$ 1.999), as funções de smartwatch e um design mais elegante.

O Runner 3 Cardio, que possui provavelmente o melhor custo-benefício da família, tem preço sugerido de R$ 1.599, mas sofre a concorrência pesada de produtos como o Garmin Forerunner 35 (preço sugerido de R$ 1.699), que já traz funções de smartwatch e um software mais bem trabalhado, tanto no relógio quanto no smartphone.

Longe de ser ruim, o relógio com GPS da TomTom ainda precisa evoluir por dentro e por fora para competir com seus pares.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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