Uber quase foi expulso da App Store por violar regra de privacidade da Apple

Paulo Higa
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• Atualizado há 1 semana
Uber - iPhone

A Apple ameaçou expulsar o Uber da App Store devido a uma violação dos termos de privacidade. O serviço de transporte encontrou uma forma proibida de identificar iPhones individualmente mesmo depois que o aplicativo era desinstalado — e criou uma gambiarra, chamada de cerca geográfica, para que os engenheiros da Apple não descobrissem o esquema.

O caso aconteceu no início de 2015 e foi revelado neste domingo (23) pelo New York Times. Segundo o jornal, Tim Cook recebeu pessoalmente Travis Kalanick, CEO do Uber, na sede da Apple em Cupertino, para explicar que o aplicativo de transporte estava “quebrando algumas regras”. O CEO da Apple pediu que Kalanick parasse de “trapacear”, ou o Uber seria removido da loja de aplicativos.

Uma expulsão da App Store resultaria em uma grave crise para o Uber, ainda mais nos Estados Unidos, maior mercado do serviço de transporte (o Brasil é o terceiro), onde os iPhones respondem por mais de 40% da base instalada de smartphones. Por isso, o Uber foi rápido em atender o pedido de Tim Cook, e removeu o código que identificava os dispositivos.

A técnica permitia que o Uber soubesse se determinado iPhone tinha o aplicativo instalado, e se ele foi excluído ou não daquele dispositivo. Como a Apple proíbe a prática por questões de privacidade, os desenvolvedores do Uber escreveram um código que tornava o recurso invisível para quem estivesse na região da sede da Apple, escondendo-o dos revisores da App Store (um truque que obviamente não deu certo).

Tudo isso respingou no Unroll.me, serviço que promete cancelar assinaturas de e-mails indesejados — ele pede acesso à sua conta do Gmail, Outlook.com, Yahoo Mail, AOL Mail ou iCloud e analisa as mensagens que entopem sua caixa de entrada, permitindo bloqueá-las com um toque. Segundo o New York Times, o Unroll.me vendeu ao Uber dados anônimos de e-mails com recibos de corrida do Lyft, como forma de acompanhar o desempenho do concorrente.

Em comunicado, o Unroll.me se desculpou, afirmando que precisa deixar seus termos mais claros, e que não vende dados pessoais dos usuários, tornando todas as informações anônimas antes de fornecê-las a terceiros. Nos comentários, há uma penca de (ex-) usuários insatisfeitos com a falta de transparência do serviço, dizendo que removeram a permissão de acesso do Unroll.me às suas contas de e-mail.

Por sua vez, o Uber declarou que “não rastreia usuários individuais ou a localização deles se o aplicativo for deletado”. A técnica proibida pela Apple era utilizada, segundo o Uber, para “evitar que fraudadores instalassem o Uber em um smartphone roubado, colocassem um cartão de crédito roubado, pedissem uma corrida cara e então restaurassem o celular repetidas vezes”.

Não é a primeira vez que o Uber é acusado de utilizar práticas questionáveis para continuar crescendo e roubar a fatia de mercado dos concorrentes. Recentemente, foi descoberto que o serviço tinha um software chamado Hell para espionar motoristas do concorrente Lyft e oferecer incentivos para que eles trabalhassem exclusivamente para o Uber. Além disso, o serviço de transporte tinha uma versão falsa para despistar autoridades e um modo que permitia rastrear usuários. Pelo menos cinco executivos já deixaram o Uber desde o começo da crise de imagem da empresa.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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