Perder peso deveria ser um processo relativamente simples, uma combinação de dieta e exercícios. No entanto, emagrecer costuma ser um desafio, mesmo com o auxílio da tecnologia. Diversas empresas querem ajudar nessa tarefa analisando seu DNA. Será que funciona?

O app Lose It! lançou hoje um plano de perda de peso chamado embodyDNA, que é baseado em seu material genético. Funciona assim: você recebe um kit para coleta de DNA, oferecido por uma empresa chamada Helix. Passe o cotonete dentro da boca, coloque-o no recipiente e mande tudo para o laboratório de análise (os custos de envio estão inclusos).

Após cerca de seis a oito semanas, a Helix entrega os resultados através do aplicativo Lose It!, disponível para iOS e Android. O app analisa seu histórico de consumo de alimentos, identifica padrões e faz recomendações com base nos resultados do teste.

O kit de coleta da Helix

Por exemplo, ele descobre sua tendência a desenvolver diabetes e leva isso em conta ao recomendar açúcar e carboidratos na dieta; e detecta como sua genética pode influenciar o IMC (índice de massa corporal) e a absorção de nutrientes como gorduras saturadas, vitaminas D, B6 e B12, ômega 3, ferro e magnésio.

Claro, isso não é de graça. O kit de DNA da Helix custa US$ 80, enquanto as recomendações do embodyDNA saem por US$ 110.

Mais que dietas

A Helix está firmando parcerias com diversas empresas que podem analisar seu material genético para diferentes fins. Por exemplo, a Exploragen descobre o impacto do seu DNA na qualidade do sono; a EverlyWell detecta se você tem sensibilidade a diferentes alimentos; e a National Geographic identifica seus grupos ancestrais.

Além disso, eles têm parceria com a DNAFit, que também oferece recomendações do que comer — e não comer — baseadas em seu DNA. O teste pode descobrir, por exemplo, que um gene deixa seu corpo despreparado para lidar com os produtos químicos gerados por carne defumada ou frita, como bacon.

É o que aconteceu quando o Engadget experimentou o serviço. Ele também trouxe mais revelações:

Por exemplo, eu tenho predisposição à doença celíaca, com chance de 1 em 35 de desenvolvê-la – maior do que a média de 1 em 100. É uma situação semelhante com carboidratos: os genes ACE e PPARG mostram sinais de sensibilidade extra. Se isso não fosse ruim o suficiente, eu não tenho o gene que produz a enzima GSTM1, então é difícil processar carcinógenos e radicais livres, deixando-me propenso ao estresse oxidativo. Isso significa que eu tenho mais chances de desenvolver mal de Parkinson, Alzheimer e câncer do que outras pessoas.

A análise genética da DNAFit custa US$ 120, fora o kit de coleta da Helix. No Brasil, não conhecemos startups que ofereçam dietas baseadas em DNA, mas é possível encontrar esse tipo de serviço em alguns laboratórios de genética, custando cerca de R$ 2 mil.

Funciona?

Alguns desses testes de DNA existem há anos, mas sua eficácia ainda precisa ser comprovada. Em primeiro lugar, há muito sobre o DNA que os cientistas ainda não sabem. Barry Starr, geneticista da Universidade Stanford, explica à Atlantic que uma doença poderia ser causada por diversos conjuntos de genes — muitos ainda não identificados — interagindo entre si.

Robert Green, geneticista de Harvard e conselheiro da Helix, disse à Fast Company no ano passado que apenas 1% a 2% dos testes de sequenciamento produzem um resultado que ajuda os usuários a prevenir o surgimento de uma doença.

E, mesmo que o resultado seja útil, as pessoas não mudam seu estilo de vida. Um metaestudo no British Medical Journal envolveu cerca de 3 mil indivíduos, e analisou predisposições genéticas que poderiam ser evitadas com dieta e/ou exercícios. A conclusão: informá-los sobre o risco detectado no DNA “tem pouco ou nenhum efeito sobre comportamentos para reduzir comportamentos que pioram a saúde”.

Além disso, existe uma preocupação de privacidade. A Helix garante que “não compartilha suas informações de DNA com ninguém sem sua permissão”, mas um vazamento de dados poderia ser comprometedor — planos de saúde poderiam se recusar a oferecer seguro para quem for mais predisposto a doenças, por exemplo.

Com informações: embodyDNA, Helix, Engadget.

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.

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