Cientistas editam embrião de humanos para corrigir mutação genética

Felipe Ventura
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• Atualizado há 1 semana

Desde que o genoma humano foi mapeado, e os cientistas começaram a modificar o DNA de seres vivos, parecia questão de tempo até chegarmos em uma prática bastante polêmica: a edição genética em humanos. O que soava como um futuro distante, no entanto, está cada vez mais perto da realidade.

Uma equipe de cientistas conseguiu um avanço enorme na área de engenharia genética, modificando o DNA de embriões humanos para corrigir uma mutação grave, que causa problemas cardíacos.

Cientistas dos EUA, China e Coreia do Sul eliminaram a cardiomiopatia hipertrófica em embriões humanos. A CMH provoca insuficiência cardíaca, especialmente em atletas, e afeta uma em cada 500 pessoas.

Isto é causado por uma mutação genética. Se ela estiver presente no DNA de um dos pais, o filho terá 50% de chance de desenvolver a doença.

Assim, os pesquisadores usaram o esperma de um homem com CMH para fertilizar óvulos de mulheres saudáveis. Então, eles retiraram o pedaço do DNA com a mutação genética, e injetaram uma sequência sintética para preencher o espaço.

É possível recortar o material genético de células vivas graças à CRISPR, uma técnica que usa enzimas para mirar em áreas específicas do DNA.

Óvulos fertilizados antes da edição genética (à esquerda) e embriões após a edição genética e algumas etapas de divisão celular (à direita)

O principal obstáculo, no entanto, é que nem todas as células adotam essas mudanças no DNA — algo chamado de “mosaicismo”. De fato, 67% dos embriões se desenvolveram sem a mutação, mas alguns (24%) mantiveram o problema em parte das células.

Para resolver isso, os cientistas resolveram aplicar o CRISPR antes que os óvulos fossem fecundados, removendo a mutação em um estágio anterior. Os resultados foram melhores: 72% dos embriões estavam totalmente sem o problema.

Os embriões não foram feitos para se transformarem em humanos — ainda estão muito longe de uso clínico — e foram destruídos após três dias. O estudo foi publicado na revista Nature.

Controvérsia

A China foi o primeiro país a realizar edição genética em humanos, mas com experimentos que sofriam com mosaicismo — isto é, algumas células do embrião mantinham a mutação que deveria ser removida.

O governo americano ainda não vê essa bioengenharia com bons olhos. A FDA (equivalente americana à Anvisa) é obrigada a barrar ensaios clínicos nessa área; e a NIH, agência de biomedicina do departamento de Saúde, não pode financiar pesquisas de edição genética em humanos.

No entanto, entidades privadas podem dar apoio a esses estudos, como aconteceu agora. E, no ano passado, o órgão do Reino Unido para regulamentação da fertilidade liberou uma equipe de cientistas a alterar o DNA de embriões humanos.

Um comitê científico nos EUA quer facilitar a edição de embriões humanos, contanto que isso seja usado apenas para problemas médicos extremos. Isso poderia eliminar 10 mil problemas causados por mutações herdadas, como câncer de mama e ovário, anemia falciforme, e alguns casos de mal de Alzheimer.

Mas e as preocupações éticas sobre eugenia, com bebês projetados desde o DNA? Richard Hynes, pesquisador do MIT e participante do comitê, diz ao New York Times: “uma vez que os obstáculos técnicos forem eliminados, então haverá questões sociais que devem ser consideradas, e discussões que terão que acontecer. A hora é agora.”

Com informações: New York Times.

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.

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