Encomende um estudo. Pague caro por ele. Receba o resultado. A conclusão é diferente do esperado. Melhor jogar tudo para debaixo do tapete, então. Nenhum órgão sério faria isso, certo? Mas a Comissão Europeia fez: a entidade pagou € 360 mil por um estudo que concluiu que a pirataria não prejudica as vendas de músicas, filmes, livros, entre outros materiais protegidos por direitos autorais, e resolveu esconder tudo.
O estudo foi encomendado no início de 2014 e realizado pela Ecorys, empresa de consultoria e pesquisa baseada na Holanda. O objetivo era justamente o de mensurar o impacto da pirataria online sobre as vendas de materiais com copyright. Mais de 30 mil pessoas em países como Alemanha, França e Reino Unido foram entrevistadas para o estudo.
Em um documento com 307 páginas (PDF) entregue pouco mais de um ano depois, a Ecorys detalhou com riqueza de detalhes todas as nuances da pesquisa e concluiu: “os resultados não mostram evidências estatísticas sobre queda nas vendas por conta das infrações online de copyright”.
Tem mais: o estudo ainda sugere que a pirataria pode, na verdade, estimular as vendas de jogos por meio de downloads e o streaming legal de vídeos. A pesquisa constatou que apenas a indústria do cinema é impactada negativamente: de cada dez filmes obtidos ilegalmente, apenas quatro resultam na compra de cópias legais.
Essa exceção tem explicação: a Ecorys constatou que os preços de filmes são cerca de 80% mais caros do que os valores que os consumidores estão dispostos a pagar. Com relação a músicas, livros e jogos, os preços (na Europa) correspondem aos valores que os cidadãos consideram adequado.
Chama atenção a constatação de que a indústria de games é bastante beneficiada pela pirataria: muitas pessoas começam pirateando um jogo, gostam dele e, depois, compram versões originais ou conteúdo adicional para aproveitá-lo melhor.
Um estudo amplo como esse é interessante porque pode ajudar toda a indústria do entretenimento a moldar as suas estratégias para não só coibir a pirataria, como também vender mais. De modo geral, a pirataria é efeito da falta de disponibilidade, seja por dificuldade de acesso a determinado conteúdo (um filme que não está disponível em nenhuma plataforma, por exemplo), seja por conta dos preços elevados.
What the @EU_Commission found out about #copyright infringement but ‘forgot’ to tell us https://t.co/Sxshdxy3KZ pic.twitter.com/Vk4Q74k1Hv
— Julia Reda (@Senficon) 20 de setembro de 2017
Se é assim, por que o estudo ficou tanto tempo escondido? É uma pergunta que segue sem resposta oficial. O assunto só veio à tona porque Julia Reda, representante do Partido Pirata no Parlamento Europeu, usou o princípio do acesso à informação para analisar o documento e publicá-lo integralmente.
De acordo com a European Digital Rights, grupo que defende os direitos dos usuários na internet, o documento foi ocultado deliberadamente pela Comissão Europeia. Como se não bastasse, a entidade divulgou, no ano passado, um relatório que descreve apenas os efeitos negativos sobre a indústria cinematográfica apontados pelo estudo da Ecorys.
Como não há, pelo menos até o momento, posicionamento oficial sobre o assunto, é de se presumir que a União Europeia não quis confrontar os líderes da indústria do entretenimento ou temeu que a divulgação do estudo sugerisse um enfraquecimento da entidade no combate à pirataria digital.
Com informações: TorrentFreak
Comentários
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Eu mesmo comecei jogando Skyrim pirata, aí veio a promoção da Steam e comprei.
Mais ou menos. O Cinema e a literatura são prejudicados, a própria pesquisa ai mostra isso. Então tecnicamente só outras mídias que não sofrem com isso.
Na pesquisa fala tb que houve queda nos livros.
"All in all, total book sales declined in all countries except Sweden, and the ebook market is marginal except perhaps in the United Kingdom." (p.78)
Isso vai ferrar todos os serviços de uma vez. Não tem sentido em assinar serviços de streaming onde se pas