Moto X4: um retorno não triunfal

Quarta geração do Moto X tem design elegante e bom desempenho, mas deixa uma pontinha de decepção

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 10 meses

Depois de quase dois anos sem novidades, o Moto X voltou em sua quarta geração. Ele tem uma carga histórica importante: foi um smartphone que mudou o rumo da Motorola, na era Google, quando a empresa passou a ter uma linha de produtos mais enxuta, com software limpo e um design bem característico.

Algumas coisas mudaram desde o primeiro Moto X, lançado em 2013. O Moto X4 agora é um smartphone intermediário, entre o Moto G e o Moto Z, trazendo alguns detalhes bacanas, como um design de vidro resistente à água, uma tela menor que a dos outros aparelhos da Motorola e uma câmera traseira dupla, com lente grande angular.

Será que é uma boa opção? Eu utilizei o Moto X4 nas últimas semanas como meu smartphone principal e conto tudo nos próximos minutos.

Em vídeo

Design e tela

O design do Moto X4 chama muito a atenção. Ele continua com as linhas da Motorola, com uma leve curvatura na traseira, um botão de início com leitor de impressões digitais e um calombo enorme na região da câmera, que não é a coisa mais bonita do mundo, mas acabou virando uma marca registrada da fabricante, para o bem ou para o mal.

A traseira é de vidro, diferente dos outros aparelhos da Motorola lançados em 2017, apresentando um reflexo elegante, em formato de “S”, que às vezes fica ofuscado pelas inevitáveis marcas de dedo que vão surgir nos primeiros minutos de manuseio. E, apesar de ser um pouco pesado (163 gramas) e espesso (8 mm), ele não chega a incomodar no bolso.

Do lado positivo, temos um conector de fone de ouvido, uma tela levemente curvada nas laterais (diferente das bordas duras do Moto Z2 Force) e a certificação IP68, que protege o aparelho contra água e poeira. Curiosamente, esse é o único Motorola do ano com essa característica — os outros tinham um nanorrevestimento repelente à água, que, embora proteja contra pequenos acidentes, não tem o peso psicológico do IP68.

O Moto X4 não é o aparelho mais compacto do mercado, com 73,4 mm de largura, mas possui uma tela IPS LCD de 5,2 polegadas (1920×1080 pixels), menor que os visores de 5,5 polegadas do Moto G5S Plus e do Moto Z2 Play, então a ergonomia acaba sendo melhor no novo membro.

O painel tem boa qualidade: não impressiona em nada, mas também não decepciona em nada. As cores são equilibradas no modo Padrão (e ficam excessivamente saturadas no modo Intensidade, mas há quem goste), o brilho é forte o suficiente para enxergar o conteúdo da tela sob a luz do sol, e o nível de preto é excelente, dentro dos limites tecnológicos de uma tela com backlight.

Software

O Android 7.1.1 Nougat do Moto X4 tem uma série de recursos que a Motorola inclui em seus aparelhos, mas o visual é bem parecido com o Android do Google e não há muitos aplicativos pré-instalados — o que não impediu o smartphone de ter um ponto negativo normalmente encontrado em smartphones com software mais completo, como comentarei depois.

Assim como nos outros aparelhos da Motorola, ele suporta gestos no botão de início (deslize para a esquerda para voltar, ou direita para abrir a tela de aplicativos recentes); você pode agitar o smartphone para acender a lanterna; e também fazer aquele gesto de “acelerar uma moto” para abrir rapidamente o aplicativo de câmera.

Uma novidade no software é o Moto Key, um gerenciador de senhas próprio da Motorola. Depois que você salva suas senhas nele, é possível fazer login em aplicativos e sites utilizando apenas a sua impressão digital. Além disso, há um software para Windows que permite fazer login no computador com o sensor de impressões digitais do Moto X4. É uma boa alternativa para softwares como LastPass e 1Password.

Câmera

Antes, preciso contar minha decepção. Embora seja equipado com uma câmera frontal de 16 megapixels, um número que chama atenção, o Moto X4 tem um grande problema: ele não consegue focar direito. Por um momento eu me lembrei das velhas câmeras com foco fixo: o fundo constantemente fica mais focado que meu rosto. A única forma de tirar uma selfie nítida foi afastando bastante a câmera — um problema que não deveria ocorrer em um smartphone dessa faixa de preço.

Nas câmeras traseiras, temos um conjunto de sensor de 12 megapixels (com lente normal) e outro de 8 megapixels (com lente grande angular), uma combinação bem parecida com a do Zenfone 4, que é ligeiramente mais caro. Ainda assim, a qualidade das imagens se mostrou melhor que a do concorrente nos meus testes, especialmente na grande angular; em geral, as fotos têm nível de detalhes maior e ruído menor.

Na câmera normal, o Moto X4 também consegue tirar fotos com boa qualidade, embora não seja impecável. Várias vezes eu notei um certo exagero na saturação, com cores muito mais vibrantes que na vida real. Além disso, a lente produz uma aberração cromática lateral que me incomodou um pouco. De qualquer forma, se você tirar uma foto com o Moto X4 e enviá-la para o Instagram, ninguém deve notar problema algum.

A principal crítica é o fato de, por algum motivo, o aplicativo de câmera ficar muito lento. Isso não acontece sempre, mas incomoda com uma certa frequência: você tira a foto, ele demora um pouco para focar e dá uma travadinha de um ou dois segundos enquanto processa a imagem. A campanha publicitária do Moto X4 foca na “câmera inteligente” do aparelho, mas claramente faltou uma otimização aqui.

Além disso, o Moto X4 tem o mesmo problema do Moto G5S Plus: ele tem o modo de profundidade, para você desfocar o fundo de um retrato, mas o recurso não funciona direito. No primeiro clique, quase sempre o sujeito e o fundo serão reconhecidos de maneira errada, borrando o que não deveria e não borrando o que deveria. Precisa tirar tantas fotos para o resultado ficar bom que eu desisti de utilizar a função.

Hardware e bateria

O Moto X4 tem processador Snapdragon 630 e 3 GB de RAM. E ele entrega um desempenho consistente no dia a dia, sem travadinhas em aplicativos, com animações bastante fluidas e rodando jogos com qualidade decente — não com os gráficos no máximo, mas não é o que eu esperaria de um smartphone dessa faixa de preço, de qualquer forma.

A maior polêmica no hardware do Moto X4 é a capacidade de armazenamento efetivamente disponível. O aparelho tem memória flash de 32 GB, mas metade já vem ocupada pelo sistema. Na prática, apenas 16 ou 17 GB estão disponíveis para o usuário logo quando o produto é tirado da caixa. Eu quase enchi a memória nas duas semanas de teste, e é provável que você tenha que comprar um cartão de memória.

O consumo do sistema do Moto X4 é maior que em outros aparelhos: o Galaxy S7, que também possui 32 GB de memória flash, mas roda um sistema bem mais completo, tem 24 GB disponível para o usuário, por exemplo. A situação também é melhor do outro lado da força: o iPhone 7 de 32 GB tem aproximadamente 28 GB disponíveis. Poxa, Motorola.

A bateria tem capacidade de 3.000 mAh, um número dentro do padrão que resulta em autonomia também dentro do padrão. Nos meus testes, com duas horas de streaming de música no 4G e 1h30min de navegação também pela rede móvel, sempre com brilho no automático, eu chegava em casa no final do dia com algo entre 30% e 40% de carga. É uma bateria suficiente para um dia inteiro para um usuário médio.

Conclusão

A Motorola lançou muitos smartphones neste ano; não tanto quanto a Samsung, mas bem mais do que estávamos acostumados na marca. E isso acabou se refletindo no Moto X4: ele fica entre o Moto G5S Plus e o Moto Z2 Play, com uma diferença de preço muito pequena entre eles.

E o fato é que não existe um motivo muito claro para você escolher o Moto X4. Talvez se você fizesse questão do IP68, da câmera grande angular ou do design de vidro, mas o Moto Z2 Play custa quase a mesma coisa, tendo uma câmera mais rápida, uma tela superior e, principalmente, mais RAM (4 GB) e o dobro de armazenamento (64 GB). Eu troco uma grande angular por 32 GB de espaço sem pensar duas vezes.

O Moto X4 não é uma compra ruim se você tiver ciência dos problemas da câmera e na memória, mas acaba ficando meio ofuscado por concorrentes com custo-benefício mais atraente — e vendidos pela própria Motorola. Para um produto que mudou a história recente da empresa, ele bem que merecia um refinamento.

Especificações técnicas

  • Bateria: 3.000 mAh;
  • Câmera: 12 megapixels (traseira, normal), 8 megapixels (traseira, grande angular) e 16 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11n, GPS, Bluetooth 4.2, USB-C, NFC;
  • Dimensões: 148,4 x 73,4 x 8 mm;
  • GPU: Adreno 508;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 2 TB;
  • Memória interna: 32 GB (16 GB disponíveis para o usuário);
  • Memória RAM: 3 GB;
  • Peso: 163 gramas;
  • Plataforma: Android 7.1.1 Nougat;
  • Processador: octa-core Snapdragon 630 de 2,2 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, giroscópio, bússola, impressões digitais;
  • Tela: IPS LCD de 5,2 polegadas com resolução de 1920×1080 pixels e proteção Gorilla Glass.

Moto X4

Prós

  • Desempenho consistente no dia a dia
  • Design elegante e com proteção contra água

Contras

  • Câmera é lenta e tem problema com foco
  • Efeito de profundidade não funciona direito
  • Pouco espaço disponível para o usuário
Nota Final 8
Bateria
8
Câmera
7
Conectividade
9
Desempenho
8
Design
8
Software
8
Tela
8

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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