iPhone X: o melhor custa caro

A Apple finalmente conseguiu redefinir o iPhone que conhecíamos, mas cobra um preço bem alto por isso

Lucas Braga
Por
• Atualizado há 10 meses

Para comemorar dez anos de iPhone, a Apple precisava de um lançamento condizente com o espírito de inovação da marca. Depois de quatro modelos com praticamente o mesmo design, o iPhone X chegou com uma tela que ocupa quase toda a frente do aparelho, reconhecimento facial como principal método de desbloqueio e acabamento em vidro.

Com preço elevado e especificações similares ao do iPhone 8 Plus, o iPhone X parece um smartphone completamente diferente. O que mudou? Acompanhe nos próximos parágrafos.

Em vídeo

Design

É a primeira vez desde 2014 que o iPhone não se parece tanto com a geração anterior. O formato continua sendo retangular com cantos arredondados. A tela não é curva, mas o vidro possui bordas suaves que se integram com as laterais do telefone, o que dá a sensação de continuidade na superfície. A traseira é de vidro, trazendo de volta a elegância que encontrávamos no iPhone 4 e 4s – até então era o meu design favorito de iPhone.

O aparelho tem borrachas de vedação praticamente imperceptíveis, tornando o dispositivo resistente à água (certificação IP67). E nada de conector de fone de ouvido, uma tendência lançada pela empresa no iPhone 7 e que infelizmente tem sido seguida por outras fabricantes.

Escolhi meu iPhone X na cor prata, que mais se parece branca. Diferente de várias gerações anteriores, o telefone com traseira branca possui frente preta, o que faz sentido considerando a tela de OLED. A traseira é limpa, sem selo da Anatel, número de série visível ou coisa do tipo. Todas essas informações estão disponíveis nos ajustes do aparelho — a menos que você compre um iPhone X na Europa, onde os selos continuam presentes.

Reclamo da ergonomia do iPhone desde o iPhone 5s, que piorou ainda mais no iPhone 6 e 6s. O iPhone 7 preto brilhante já trazia uma pegada melhor, mas o iPhone X acertou muito nesse ponto. A lateral tem acabamento em metal espelhado (similar ao do iPhone 7 preto brilhante), o que, somado ao peso de 174 gramas e a traseira em vidro, traz maior segurança ao segurar o smartphone.

Lado a lado com iPhone 7 Plus
iPhone 7 Plus (embaixo) e iPhone X

O que pode incomodar algumas pessoas é a protuberância na região da câmera. No iPhone X, as câmeras são ainda mais saltadas que nas gerações anteriores, embora isso não seja problema caso você utilize uma capa para proteger o dispositivo – provavelmente você vai querer usar uma em vez de desembolsar R$ 1.499 pela troca da tela ou R$ 2.999 pelo reparo do aparelho. Ouch.

Tela

É certo dizer que a principal novidade do iPhone X é tela, e nada melhor do que um painel de OLED que preencha quase toda a frente do aparelho para comemorar o aniversário de dez anos. É importante frisar o quase: a borda lateral poderia ter sido um pouco menor, e a tela tem um entalhe que abriga câmeras e sensores do Face ID no topo do aparelho, criando duas pequenas orelhas nas laterais superiores. Talvez essa tenha sido a principal crítica do produto, mas é algo que você deixa de reparar depois de algumas horas de uso.

A mágica de não ter botões, junto com as bordas reduzidas, permite que o display tenha 5,8 polegadas (2436×1125 pixels), maior que a dos iPhones Plus, mas num corpo similar ao do iPhone de 4,7 polegadas. O iPhone X é menos largo que um iPhone Plus, e quem veio de um desses smartphones pode sentir falta de alguns recursos ao usar o telefone em paisagem, principalmente no Safari — não é possível visualizar as abas como em um navegador desktop.

É a primeira vez que a Apple inclui um painel de OLED em seu smartphone, e a empresa aproveitou sua experiência com displays da mesma tecnologia no Apple Watch e na Touch Bar do MacBook Pro para entregar a melhor tela de smartphone que já usei até hoje. A tal da Super Retina Display é nítida, tem ótima definição e níveis excelentes de ângulo de visão, brilho e saturação.

As cores são mais precisas que nos smartphones da concorrência – a diferença é significativa comparando o iPhone X lado a lado com um Galaxy S7, que também tem uma excelente tela. Isso se dá porque o painel do iPhone X tem um sistema de gerenciamento de cores que identifica se o conteúdo está no modo RGB ou DCI-P3 e o exibe automaticamente nesse formato.

Um diferencial da Apple frente à concorrência é que as telas presentes desde o iPhone 6s possuem um sensor de pressão, o 3D Touch. Diversos aplicativos e recursos do sistema fazem uso da tecnologia, que traz novas funções ou mesmo ajustes refinados dependendo do nível de força.

Para mim, a principal vantagem é ao utilizar o teclado: ao pressionar com mais força, as letras somem e surge uma espécie de “mouse” para navegar durante a escrita. Pressione mais forte e selecione uma palavra, sendo possível arrastar e selecionar mais palavras, frases ou até mesmo o parágrafo. É pouco intuitivo (muita gente sequer conhece a função que está presente no próprio smartphone), mas sinto falta disso toda vez que uso um celular com Android.

O que senti falta foi de um recurso de always on display, no qual a tela fica ligada exibindo relógio, notificações e outras informações. É algo que já está presente na maioria dos smartphones da Samsung e Motorola, e que poderia ser explorada agora que há uma tela OLED. Quem sabe em alguma atualização futura?

Software

O iOS 11 já está presente nos iPhones desde setembro e é muito parecido com as versões anteriores, mas no iPhone X existem algumas mudanças devido à ausência do botão Home. Tudo é comandado por gestos na tela principal. É confuso, mas só nas primeiras horas de uso.

É possível ligar a tela dando apenas um toque, dispensando o uso do botão Power. O Face ID imediatamente fará o reconhecimento biométrico e o usuário pode desbloquear o telefone puxando da borda inferior para cima. O que é um pouco confuso no início é que, para desbloquear, é necessário puxar da borda mesmo, e com isso ocorre um conflito mental — já que as notificações podem ser abertas puxando a tela do meio para cima na mesma tela.

Como desbloquear o smartphone exige puxar a borda inferior para cima, dê adeus ao gesto antigo ao abrir a Central de Controle. É necessário puxar a orelhinha direita de cima para baixo. Não gostei muito dessa disposição e demorei para me acostumar; o gesto antigo podia ser feito facilmente com uma mão.

O botão Power da lateral direita também mudou. Agora abriga também a Siri, bastando apertar e segurar por um tempo para que a assistente comece a conversar. Sendo assim, não é possível desligar o telefone dessa forma (!). É necessário apertar e segurar o botão Power juntamente com um dos botões de volume. Ao abrir a tela, o Face ID é desativado temporariamente até que você digite sua senha.

Uma coisa bem chata é que a tela com o entalhe superior quase extinguiu a barra de status. Agora só é exibido relógio, sinal de operadora, Wi-Fi e o ícone da bateria. Não é possível ver de prontidão a porcentagem de bateria e nem verificar se o Bluetooth, Não Perturbe, rotação de tela ou despertador estão ativos. Ao mesmo tempo que prefiro a tela mais limpa, já perdi notificações importantes por esquecer o Não Perturbe ligado.

Mesmo sendo meu sistema operacional móvel favorito, a versão 11 do iOS é decepcionante. Não pela falta de recursos ou usabilidade, mas porque a Apple está fazendo um péssimo trabalho no quesito estabilidade e correção de bugs. Vários já foram corrigidos por atualizações, como os do corretor do teclado (foram dois), calculadora e até mesmo aquele que reiniciava subitamente ao receber notificações locais. Alguns travamentos e reinícios ainda acontecem. São problemas facilmente corrigíveis em atualizações, e espero que elas cheguem logo.

E não podemos esquecer que o iPhone X tem Animojis. Ele utiliza recursos do Face ID para… animar emojis. Funciona muito bem, a tecnologia por trás disso é incrível, mas você usa no primeiro dia e depois esquece que existe.

Hardware

Por dentro, o iPhone X não é muito diferente do iPhone 8: o chip é o mesmo A11 Bionic hexa-core. São dois núcleos de alto desempenho e outros quatro de economia de energia, o que permite economizar bateria em tarefas mais leves.

Na prática, dificilmente você terá travamentos ou problemas de performance por conta dos processadores. Ao mesmo tempo, não é muito possível encontrar um notável ganho de performance quando comparado com um iPhone 7 Plus, porque o chip A10 continua sendo excelente e aguenta qualquer jogo para iOS.

Para quem se importa com benchmarks sintéticos, o Geekbench 4 no iPhone X reporta 4.233 pontos em single-core e 10.413 em multi-core. O Galaxy S8 vendido no Brasil apresenta 2.022 pontos em single-core e 6.731 pontos em multi-core.

Bateria

Falando de bateria, o iPhone X não decepciona, mas não se destaca. Quem tem um iPhone Plus não vai sentir muita diferença, mas quem tinha o modelo menor pode se surpreender. Analisei a bateria em um sábado, dia que normalmente faço mais uso de um smartphone.

Tirei o aparelho da tomada por volta de 10h da manhã, assisti 30 minutos no YouTube via Wi-Fi, ouvi cerca de uma hora de streaming de música no 4G, fiz 20 minutos de ligações e naveguei na internet por cerca de 2h. Foram mais de 7h de tela ligada. Às 23h, o smartphone marcava 17% de bateria.

No meu dia a dia típico, tiro o smartphone da tomada às 7h30 e uso ligações, redes sociais e músicas moderadamente. Vou dormir com cerca de 30% da bateria de 2.716 mAh.

Para a maioria das pessoas, a bateria do iPhone X será mais do que suficiente, mas se você passa 3h do seu dia assistindo stories no Instagram e usa bastante GPS, certifique-se de levar o carregador ao sair de casa.

E quanto ao carregador, o iPhone X suporta recarga rápida de bateria. A Apple recomenda o carregador de 29 watts que acompanha alguns MacBooks, possibilitando 50% de carga em meia hora. O carregador que vem com o aparelho é o tradicional de 5 watts que está em todas as caixas desde o iPhone de primeira geração, que leva mais de três horas para dar uma carga de zero a 100% no iPhone X.

A solução é comprar um carregador melhor, mas isso envolve dinheiro. O carregador de 29 watts que a Apple tanto recomenda custa R$ 329. Você também precisa desembolsar mais R$ 149 por um novo cabo Lightning, uma vez que o carregador de 29 watts usa o padrão USB-C, e o cabo que vem na caixa é USB-A. É triste que um celular de R$ 7 mil sequer inclua isso no kit.

Câmera

A câmera é um dos maiores diferenciais do iPhone X. A Apple evoluiu a câmera dupla do iPhone 7 Plus, trazendo-a para um smartphone menor. A resolução é de 12 megapixels, sendo que a câmera principal (grande angular) tem abertura f/1,8 e a secundária (teleobjetiva) conta com f/2,4. Diferente do iPhone 8 Plus e do iPhone 7 Plus, há estabilização ótica nas duas câmeras, o que ajuda bastante na hora de filmar ou fazer fotos noturnas.

Entre as câmeras está um flash com quatro LEDs que ajuda muito ao tirar fotos em ambientes escuros. O desempenho do flash melhorou consideravelmente quando comparado com os iPhones de gerações anteriores. O software da câmera é bem simples e traz modo de câmera lenta, vídeo, foto, retrato (agora também na câmera frontal), quadrado e panorama. Também está presente o recurso Live Photo, que grava um pequeno vídeo com momentos antes e depois do clique.

Em boas condições de iluminação, o iPhone X tira excelentes fotos, com um alcance dinâmico que nunca vi em outro smartphone, além de cores bem equilibradas, com ótimo contraste e saturação. Todas as fotos foram feitas no modo automático e não passaram por nenhum processo de edição:

Em ambientes internos com baixa iluminação é possível ter bons resultados, com pouco ruído, mas as luzes artificiais estouram pouco. O flash é bem forte e ajuda em ambientes com quase nenhuma luz.

Foto com flash em ambiente com nenhuma luz (100% escuro)

O modo retrato está bem mais rápido e preciso que no iPhone 7 Plus. Por se tratar de um efeito que combina as duas câmeras e desfoca via software, o resultado não fica sempre perfeito, mas entrega boas fotos na maioria das vezes.

Quem lembra do Harry?

A novidade é que existem cinco modos de luz: Luz Natural, Luz de Estúdio, Luz de Contorno, Luz de Palco e Luz de Palco Mono. É possível editar o modo de iluminação depois que a foto foi feita. Tirando o modo de Luz Natural, todos os outros são considerados como Beta. Luz de Estúdio e Luz de Contorno costumam funcionar muito bem, mas raramente são bons os resultados com os modos de Luz de Palco. Veja:

Modo de Estúdio, Contorno, Palco e Palco Mono

A câmera frontal também recebeu boas melhorias. A resolução continua com 7 megapixels e agora traz o modo retrato, graças aos sensores utilizados pelo Face ID. O problema é que na câmera frontal o modo retrato falha mais do que na traseira. No entanto, selfies sem o modo retrato ficam ótimas.

Selfie comum
Selfie com modo retrato
Modo de Estúdio, Contorno, Palco e Palco Mono

O tal do Face ID

Meu maior medo do iPhone X era justamente o desbloqueio biométrico. O Touch ID presente desde o iPhone 5s era excelente e funcionava muito bem. Ao mesmo tempo, tecnologias de reconhecimento facial disponíveis em gadgets de outras fabricantes eram ruins, inseguras e lentas. Muita gente esperava que a Apple incluísse o Touch ID embaixo da tela, algo que não aconteceu. Com o lançamento tardio do iPhone X, ninguém sabia ao certo se as promessas do desbloqueio facial da Apple seriam cumpridas.

Depois de quase um mês usando o iPhone X diariamente, posso dizer que sim, a tecnologia funciona. Ela é composta por câmera infravermelho, emissor de luz e um projetor de 30 mil pontos, mas nada disso importa muito: o Face ID é muito transparente para o usuário.

Para colocar o Face ID à prova, testei-o no escuro, com óculos de sol, boné, gorro de inverno, com cabelo bagunçado e cara de sono. Bastou ligar a tela e rapidamente o cadeado era destravado. Quem mora em lugares frios não vai precisar se preocupar em retirar as luvas para desbloquear o smartphone, já que o reconhecimento biométrico acontecerá sem esforço algum. Só quem tem um irmão gêmeo bisbilhoteiro pode não gostar muito da novidade.

O Face ID faz uso de machine learning. Isso significa que você pode deixar sua barba crescer, colocar maquiagem ou raspar o cabelo que o celular vai “aprendendo” seu rosto com o tempo. No meu segundo dia de uso, o Face ID falhou logo de manhã. Fiquei irritado que o reconhecimento não funcionou logo ao acordar, e tive que digitar a senha para desativar o despertador. Para minha surpresa, nos dias seguintes o desbloqueio funcionou normalmente.

Abrir um aplicativo com bloqueio biométrico, como o 1Password, se torna algo muito mais rápido, já que nem exige posicionar o dedo no leitor. Todos os aplicativos que autenticam pelo Touch ID funcionam automaticamente com a nova tecnologia, sem que o desenvolvedor precise atualizar o código.

Uma das vantagens do Face ID é que as notificações ficam ocultas por padrão na tela de bloqueio. Assim que o celular reconhece o usuário, o conteúdo é automaticamente liberado. É útil para que bisbilhoteiros de plantão não fiquem fuçando nas suas conversas.

Conclusão

O iPhone X é, sem sombra de dúvidas, o melhor smartphone que a Apple já fez até hoje. O tamanho é ótimo, a tela é espetacular, a câmera faz excelentes fotos e vídeos, e a bateria dura o dia inteiro. O Face ID, que me deixou com muito receio ao ser anunciado, provou-se funcional e melhora muito a usabilidade de um smartphone. O problema é que tudo isso tem um preço, que no caso é de R$ 6.999 na versão de 64 GB ou R$ 7.799 na versão de 256 GB.

Já era difícil falar de custo-benefício em topos de linha, mas no caso do iPhone X é impossível falar positivamente dessa questão, principalmente se levarmos em conta que o iPhone 8 Plus tem especificações muito similares e custa bem menos. Mesmo comprando o aparelho no exterior, ele custa o preço de lançamento de um high-end no Brasil.

Se você vem de uma geração anterior do iPhone, não necessariamente vale a pena fazer o upgrade: caso tenha um iPhone 7 ou mesmo um 6s, dá para segurar mais um tempo.

Caso queira um celular novo e faça questão da plataforma da Apple, o desempenho do iPhone 8 é muito similar e entrega quase o mesmo que o iPhone X, custando a partir de R$ 3.999, embora sem a telona de OLED. E a concorrência é financeiramente atraente: o Galaxy S8 ou o Galaxy Note 8 também surpreendem e custam bem menos.

Especificações técnicas

  • Bateria: 2.716 mAh;
  • Câmera: 12 megapixels (traseiras) e 7 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 2G, 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, Bluetooth 5.0, Lightning, NFC;
  • Dimensões: 143,6 x 70,9 x 7,7 mm;
  • Cores: cinza espacial ou prata;
  • Memória interna: 64 GB ou 256 GB;
  • Memória RAM: 3 GB;
  • Peso: 174 gramas;
  • Plataforma: iOS 11;
  • Processador: hexa-core Apple A11 Bionic;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, câmera infravermelho (Face ID), bússola, giroscópio e barômetro;
  • Tela: OLED de 5,7 polegadas com resolução de 2436×1125 pixels;

iPhone X

Prós

  • Finalmente um novo design
  • Tela OLED com ótimo brilho, definição e cores
  • Câmera entrega excelentes resultados

Contras

  • O preço é pra lá de salgado
  • O iOS 11 ainda precisa amadurecer um pouco
  • Ausência do carregador rápido na caixa do aparelho
Nota Final 9.6
Bateria
9
Câmera
10
Conectividade
9
Desempenho
10
Design
10
Software
9
Tela
10

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Lucas Braga

Lucas Braga

Repórter especializado em telecom

Lucas Braga é analista de sistemas que flerta seriamente com o jornalismo de tecnologia. Com mais de 10 anos de experiência na cobertura de telecomunicações, lida com assuntos que envolvem as principais operadoras do Brasil e entidades regulatórias. Seu gosto por viagens o tornou especialista em acumular milhas aéreas.

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