Spotify pode ter perdido mais de US$ 1 milhão com fraude de playlists falsas

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 1 semana
Spotify - Imagem por freestocks.org

Mesmo tendo mais de 70 milhões de usuários pagantes, o Spotify ainda não sabe o que é lucro. Para piorar a situação, a companhia pode ter sido vítima de uma fraude engenhosa: aparentemente, um usuário conseguiu extrair mais de US$ 1 milhão do serviço usando contas “zumbi” e playlists falsas.

A informação vem do Music Business Worldwide. O veículo fez uma investigação sobre o assunto após receber informações de fontes próximas à companhia e à indústria do streaming.

De acordo com a apuração, a principal playlist suspeita se chamava Soulful Music e chegou a aparecer na posição número 35 de um ranking interno das listas mais populares do Spotify. Outra lista, de nome Music From The Heart, ocupou a posição número 84.

Essas playlists não eram populares, não de verdade. A Soulful Music, por exemplo, registrava 467 músicas. Porém, a maioria delas não pertencia a artistas legítimos. Para completar, apenas 1.797 usuários seguiam a lista. Então, como ela se tornou uma das mais populares globalmente?

Com um truque sujo. Quase todas as faixas tinham pouco mais de 30 segundos de duração, o tempo mínimo de reprodução que o Spotify considera para monetizar uma canção. Somente as primeiras tinham um pouco mais de duração para não levantar suspeitas, aparentemente.

Dos quase 1.800 seguidores da playlist Soulful Music, cerca de 1.200 a acessavam constantemente, 24 horas por dia. Ninguém escuta música por tanto tempo, muito menos músicas que não existem. Tudo indica que essas contas eram controladas por bots.

Todas tinham assinaturas premium. Pelo menos parte deveria estar associada a assinaturas familiares, mas, supondo que elas fossem pagas individualmente, os custos mensais somariam quase US$ 12 mil (nos Estados Unidos, a assinatura premium custa US$ 9,99 por mês).

Não está claro se o golpista realmente desembolsava esse valor por mês. Talvez ele usasse outro esquema igualmente engenhoso para lidar com as assinaturas. Mas, mesmo pagando, o truque pode ter rendido muito mais dinheiro do que isso graças ao repasse de royalties por parte do Spotify.

A tal da playlist Soulful Music
A tal da playlist Soulful Music

Como? As 467 supostas músicas da playlist teriam sido enviadas à plataforma como sendo de artistas legítimos e, por terem mais de 30 segundos de duração, rendiam ao detentor dos direitos autorais (aqui, o farsante) até US$ 0,004 por reprodução. Considerando o número total estimado de reproduções, o Music Business Worldwide calcula que o Spotify pode ter pagado entre US$ 288 mil e US$ 415 mil de royalties por mês só com a playlist Soulful Music.

Não é tão fácil disponibilizar músicas no Spotify, o que sugere que alguém com bastante conhecimento da plataforma participou ou colaborou com a fraude — a denúncia aponta para uma pessoa, a que montou as playlists, mas há boas chances de um time de pessoas ter agido.

Músicas suspeitas das duas playlists foram eliminadas do serviço em outubro de 2017, mas teriam ficado na plataforma por quatro meses. Isso significa que os pagamentos de royalties podem ter ultrapassado US$ 1 milhão.

Não há informações sobre o que teria acontecido depois disso. Não se sabe, por exemplo, se o Spotify realmente pagou um valor milionário ou se o responsável (ou responsáveis) pelo esquema foi identificado. Aparentemente, não. Os registros de acesso indicam que ele estaria baseado na Bulgária, mas pode ser apenas uma forma de despistar.

Na verdade, o Spotify não confirmou a fraude. Mas também não a negou: quando a empresa foi procurada, um representante disse apenas que o Spotify leva a sério a manipulação artificial da plataforma e adota várias medidas para detectar fraudes e combatê-las.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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