EUA vai investigar oferta de compra da Qualcomm pela Broadcom por temor à China

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 1 semana
Bandeira - Estados Unidos

A trama envolvendo a tentativa de compra da Qualcomm pela Broadcom ganhou mais um episódio, com a diferença de que, desta vez, os Estados Unidos protagonizam a história: autoridades do país estão preocupadas com a possibilidade de o negócio enfraquecer a Qualcomm e, ao mesmo tempo, dar vantagens a rivais chineses.

Não é difícil entender a relação de uma coisa com a outra. Com sede nos Estados Unidos, a Qualcomm é um dos maiores fornecedores de processadores e tecnologias para dispositivos móveis do mundo. A China, por sua vez, vem colocando em prática um ambicioso plano de dominar esse mercado, bem como os segmentos de inteligência artificial, supercomputadores e afins.

Já a Broadcom tem sede nos Estados Unidos — na Califórnia, para ser exato —, mas o verdadeiro quartel-general, digamos assim, fica em Singapura. Como que para evitar que a compra da Qualcomm seja barrada por órgãos reguladores, a Broadcom até prometeu transferir todo o seu controle para os Estados Unidos.

Mas não é suficiente. Um painel de segurança montado pelo governo dos Estados Unidos identificou riscos na proposta e determinou uma investigação completa da tentativa de compra da Qualcomm pela Broadcom, um tipo de decisão que, não raramente, faz negociações desse porte terminarem sem acordo.

Qualcomm

O Comitê de Investimento Estrangeiro dos Estados Unidos (CFIUS, na sigla em inglês) tem o poder de barrar ofertas de compras de empresas quando entende que há riscos à segurança nacional. No caso da Broadcom, existe a desconfiança de que a companhia tenha fortes ligações com organizações estrangeiras, especialmente da China.

Dada a gigantesca participação da Qualcomm no mercado de dispositivos móveis, os Estados Unidos temem que o negócio possa resultar em grandes vantagens às companhias chinesas, que poderiam até ganhar mais força para dominar as futuras redes 5G.

Esse cenário é considerado pelas autoridades norte-americanas como de alto risco para a segurança do país. A preocupação com a China já é refletida, por exemplo, na “implicância” dos Estados Unidos com a Huawei.

Como efeito da investigação, uma reunião de acionistas marcada para 6 de março com o objetivo de avaliar a oferta de compra foi adiada. A Broadcom, por sua vez, afirma que está colaborando com o CFIUS.

Foto por Windell Oskay/Flickr

É mesmo uma novela cheia de reviravoltas. Recapitulando, em novembro de 2017, a Broadcom ofereceu US$ 103 bilhões pela Qualcomm mais o pagamento de US$ 25 bilhões de dívidas desta. A oferta foi recusada. No mês passado, a Broadcom aumentou a proposta para US$ 121 bilhões mais as dívidas, mas recebeu outro não.

Depois, a Broadcom reduziu a oferta para US$ 117 bilhões. O motivo? A Qualcomm está tentando finalizar a compra da NXP Semiconductors e, para isso, aumentou a sua oferta de US$ 38 bilhões para US$ 44 bilhões. Aí veio mais uma cartada: a Qualcomm estaria disposta a ser vendida, mas a Broadcom teria que aumentar a sua oferta para US$ 135 bilhões (além de assumir as dívidas).

O que nenhuma das partes esperava é que o governo dos Estados Unidos fosse entrar no jogo, pelo menos não tão cedo. Agora, é prudente que ambas aguardem a investigação do CFIUS para dar o próximo passo.

Com informações: Reuters, New York Times.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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