O escândalo Cambridge Analytica só foi possível por conta de um aplicativo de teste psicológico respondido por 270 mil pessoas. Aleksandr Kogan, responsável pela criação da ferramenta, tem sido visto como um dos vilões da trama, consequentemente. Mas, em entrevistas à BBC e CNN, ele se declara chocado e diz estar sendo usado como “bode expiatório”.

Com 32 anos de idade, Kogan nasceu na Rússia e cresceu nos Estados Unidos. Formado em psicologia e áreas relacionadas, ele tem entre as suas atividades o trabalho de pesquisador na Universidade de Cambridge (apesar do nome, a instituição não tem ligação com a Cambridge Analytica).

Em 2014, Kogan foi contratado pela Cambridge Analytica — empresa que se descreve como um serviço de análise de dados para fins comerciais ou políticos — para desenvolver o aplicativo de teste de personalidade thisisyourdigitallife e disponibilizá-lo no Facebook.

Aparentemente, o aplicativo fazia mesmo uma análise da personalidade (se com precisão ou não, é outra história), mas, em troca, colhia informações importantes do usuário, como nome, localização geográfica e curtidas. Para piorar a situação, o aplicativo também coletava detalhes dos contatos de cada indivíduo que acessava o teste. Estima-se que dados de 50 milhões de usuários foram capturados nesse esquema.

Em nota liberada pouco depois de o escândalo ter se tornado público, o Facebook explicou que o aplicativo foi retirado da rede social em 2015 por ter violado as políticas do serviço, entre elas, a condição que proíbe o repasse de dados a terceiros — os dados das 50 milhões de pessoas foram enviados à Cambridge Analytica. O pesquisador teria recebido US$ 800 mil pelo trabalho.

Kogan afirma, porém, que está “chocado” com as acusações de ilegalidade porque Christopher Wylie havia lhe tido que tudo o que estava sendo feito respeitava as normas do Facebook. Wylie foi um dos responsáveis pelo sistema da Cambridge Analytica que analisava os dados e, arrependido, passou a ajudar o New York Times e o The Guardian nas investigações sobre o caso.

Cambridge Analytica

O pesquisador disse ainda que não se lembra de ter lido as condições de uso do Facebook na época, mas que acreditou nas garantias dadas por Wylie. “A minha visão é que eu estou sendo basicamente usado como bode expiatório pelo Facebook e pela Cambridge Analytica quando… nós pensamos que estávamos fazendo algo que era normal”.

Aleksandr Kogan também deu a entender que não esperava que a Cambridge Analytica pudesse fazer algo tão grande (manipular os usuários do Facebook para fins políticos, com destaque para a campanha de Donald Trump), pois ele percebeu que os dados colhidos não eram muito precisos no nível individual e, portanto, faziam a empresa vender “mitos”.

Ciente de que provavelmente vai ser chamado para prestar esclarecimentos, Kogan disse que ficaria feliz em contribuir com as autoridades, mas que “a questão mais ampla é o elefante na sala”, se referindo ao Facebook. “Estamos preocupados em ser o produto?”, finalizou à CNN.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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